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FAROESTE
De janeiro a março já ocorreram 24 mortes
Pistolagem cresce no CE em ano eleitoral
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Relatório entregue à CPI do Extermínio, na Câmara dos Deputados, mostra que, em anos de eleição, cresce o número de mortes
com indícios de crime de pistolagem no Ceará. O fato pode se repetir neste ano. De janeiro a março, foram registradas 24 mortes
em crimes de pistolagem, contra 9
no mesmo período de 2003.
Os números não dão conta se os
crimes tiveram motivação política -sobretudo porque raramente os mandantes são presos.
Apesar disso, políticos temem
que neste ano haja aumento das
mortes por causa das eleições.
"Acredito que teremos um aumento no número de crimes políticos, porque o acirramento será
maior. Diferentemente de eleições anteriores, agora temos uma
força política nova nacional
ameaçando velhas oligarquias locais", disse Ilário Marques (PT),
prefeito de Quixadá, que sofreu
um atentado a tiros em outubro
do ano passado, mas saiu ileso.
Crimes de pistolagem são aqueles com indícios de ter sido "encomendado" -o pistoleiro foi contratado. Pelo Código Penal, trata-se de crime hediondo. Os indícios:
o matador anuncia assalto ou espera a vítima numa tocaia e não
rouba nada, só mata; geralmente,
é usada uma moto; são usados capacetes ou capuzes para dificultar
o reconhecimento; na maioria das
vezes são usadas armas de fogo.
Segundo dados da Secretaria da
Segurança Pública do Ceará, de
1998 a 2003, o ano de 2000, de eleições municipais, foi o que apresentou mais casos com indícios
de pistolagem. Dados da Secretaria de Direitos Humanos do PT-CE mostram um crescimento nos
anos de 2002 e de 2003.
Os números divulgados podem
ser inferiores ao real. Segundo levantamento feito em delegacias
do Estado pelo pesquisador Ricardo Arruda, do LEV (Laboratório de Estudos da Violência), da
UFC (Universidade Federal do
Ceará), de janeiro a novembro de
2003 houve 108 mortes com indícios de pistolagem. A Segurança
registra 20 casos no ano inteiro.
"A impunidade em relação aos
mandantes é muito grande, ainda
mais quando envolve gente influente", disse o deputado Luiz
Couto (PT-PB), relator da CPI do
Extermínio, instaurada em outubro de 2003. Inconclusa, a CPI
passou por sete Estados, mas não
terminou a contagem de casos.
Seis anos após a morte do pai
por crime de pistolagem, Cíntia
Ferreira Gomes, 34, diz estar cansada da demora da Justiça. Seu pai
era o prefeito de Acaraú, João Jaime Ferreira Gomes Filho.
Os dois pistoleiros que participaram do crime foram presos e
condenados, mas nada ainda
aconteceu aos acusados de serem
os mandantes, o deputado federal
Aníbal Ferreira Gomes, o deputado estadual Manoel Duca da Silveira, e o ex-vice-prefeito Amadeu Ferreira Gomes, todos do
PMDB. Os três são irmãos e eram
primos do prefeito.
Logo depois da morte do pai, inconformada, Cíntia começou a
divulgar as acusações e teve de
passar três meses nos EUA depois
de receber ameaças de morte.
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