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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Partido de Lula vai explicar expressões polêmicas como "ruptura"
PT faz "operação limpeza" em programa de governo
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT se prepara para fazer uma
operação de "limpeza" no texto
que dará as linhas mestras do programa de governo de Luiz Inácio
Lula da Silva.
Termos que causaram apreensão em empresários e foram explorados por adversários serão
"melhor explicados" -ou simplesmente substituídos por outros mais palatáveis- no documento que sai no final do mês.
Segundo os petistas, não se trata
de mudar a essência do que foi decidido no Encontro Nacional de
Recife, em dezembro último,
quando um texto de diretrizes para o programa, que baseia o documento em gestação, foi aprovado.
Haveria apenas a "clarificação"
de propostas petistas, com uma
alteração na linguagem e na forma. Na berlinda está, em primeiro
lugar, o termo "ruptura", que
consta do título do documento de
Recife e aparece outras três vezes.
Inabilidade
Reservadamente, petistas admitem que houve inabilidade em jogar este conceito no texto sem
grandes explicações, o que deu
margem à interpretação de que
Lula quebraria contratos.
"Vamos esclarecer as coisas, de
modo que não haja dúvidas. Não
queremos romper com a estabilidade, queremos romper com
uma tendência secular dos governos brasileiros de fazer desenvolvimento excludente", diz o coordenador do programa de governo
do PT, Antônio Palocci Filho.
Adversários de Lula têm apontado a suposta imprevisibilidade
nas ações do petista como uma
das raízes para turbulência no
mercado financeiro.
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, culpou a eleição pela fuga de
capitais de fundos, dizendo que
"o mercado teme não haver continuidade na condução das políticas cambial, fiscal ou monetária".
Para Palocci, o novo texto trará
apenas "mudança de enfoque".
"Não vai nem pode haver contradição entre os documentos", diz.
Outros trechos do texto de Recife pedem a "denúncia" do acordo
com o FMI, falam em auditar privatizações e até mencionam a defesa do socialismo democrático.
Em reunião na Federação das
Indústrias de São Paulo em maio,
líderes petistas foram cobrados
sobre o real significado dos termos e tiveram de se explicar.
O documento aprovado em Recife é, a bem da verdade, produto
do amplo domínio dos moderados sobre o partido. Não há nele
referências a reestatização, defesa
de calote ou retórica antiimperialista. A terminologia forte de alguns extratos foi uma concessão à
militância, tradicionalmente mais
influenciada pelas alas radicais.
"O texto de diretrizes tem componente emocional, para o debate
interno. O programa final será comunicação com a sociedade. O
conteúdo será o mesmo, mas não
se usarão termos que podem dar
duplo sentido", diz Guido Mantega, assessor econômico de Lula.
Segundo ele, é pouco provável
que o termo "ruptura" reapareça
no texto final, mas isto ainda não
está decidido. Poderá ser substituído por "transformação" ou
"mudança de paradigma". "Dizer
ruptura parece que você vai botar
fogo. Jogado, assusta um pouco."
Outro porta-voz econômico do
PT, Aloizio Mercadante, diz que
"muitos não quiseram entender o
que está escrito". "Vamos romper
com o modelo concentrador de
renda e de crescimento medíocre,
não com o sistema capitalista."
Ele diz que a proposta será "traduzida" de outra forma agora.
Empresários
Para o diretor da Fiesp Mário
Bernardini, ruptura é uma "palavra difícil". "As pessoas bem informadas sabem o que o PT quer
dizer, mas elas não são a maioria",
diz ele -ressalvando falar em nome pessoal e não pela entidade.
Maurílio Biagi, dono de uma
das maiores usinas de açúcar e álcool do Estado, vai na mesma linha. "Conheço o Lula e sinto confiança. Mas quem não conhece se
assusta com essa tal ruptura."
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