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CONVENÇÃO FRENTE TRABALHISTA
Preocupado com estigma de outsider, presidenciável aposta na exposição de TV para superar quarto lugar
Ciro vê junho como mês-chave para definir chances de vitória
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que o mês da oficialização da candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência da República, junho representa um marco
nas pretensões do ex-ministro de
ocupar a cadeira de Fernando
Henrique Cardoso.
Após o final da Copa do Mundo
e, sobretudo, depois de os horários partidários do PPS, PDT e
PTB irem ao ar, acabam as desculpas sobre desvios provocados no
nível de atenção do eleitor e sobre
a falta de tempo na televisão.
Por essas razões, ""E se não crescer?" é agora a pergunta que mais
incomoda integrantes da Frente
Trabalhista que apóia a candidatura do ex-ministro da Fazenda.
Hoje com 11% das intenções de
voto, conforme o Datafolha, Ciro
tem dito que precisa chegar ao
horário eleitoral com 15% nas
pesquisas para manter a competitividade de sua candidatura. Avalia também que, se conseguir atingir os 23%, será o adversário de
Lula no segundo turno.
Na tentativa de contornar a
pouca visibilidade, adotou uma
"tática de guerrilha", dividindo-se
entre palestras para estudantes e
empresários por todo o país. Fez o
possível para conquistar a confiança do "establishment" e superar o estigma de "outsider" e de
ser uma espécie de ""novo Collor",
como detesta ser chamado.
Enquanto esperam por uma posição menos incômoda que o
atual quarto lugar, seus partidários tentam manter o otimismo,
listando dificuldades já superadas. Hoje os partidos festejam a
candidatura que será homologada amanhã, na cidade natal de Ciro, Pindamonhangaba (SP). A escolha visa reforçar a origem paulista do presidenciável. Cerca de
8.000 pessoas são esperadas.
Determinado a suceder FHC,
Ciro condicionou sua permanência na disputa à conquista de
apoios que lhe garantissem estrutura partidária, mas, mais do que
isso, aparições na TV superiores
aos cerca de 30 segundos a que teria direito se permanecesse apenas com o nanico PPS.
Com esse objetivo, em 1999, foram iniciadas as conversas com o
PTB. O passado recente da sigla,
de imagem associada ao adesismo incondicional ao governo,
provocou dúvidas sobre a durabilidade de uma eventual aliança.
Flerte
"Terrorismo", sentenciava Ciro
sobre as previsões pessimistas. E
foram não só ofertas de cargos
por parte do governo federal, como também flertes intermináveis
com Fernando Henrique, a quem
a legenda chegou a oferecer um
jantar no ano passado.
Uma reunião para desarmar espíritos e abrir caminhos para ""negociações" no Congresso, segundo definição dada à época pelo
presidente da legenda, o deputado federal José Carlos Martinez.
Além de mais espaço na mídia,
o partido deu ao ex-ministro os
recursos financeiros que lhe faltavam. Pesquisas, alguns gastos
com viagens e até a disponibilidade do jatinho de Martinez passaram a ser oferecidos pelo PTB.
Às negociações com o partido
de Martinez, somou-se, no final
de 2000, a aproximação com o
PDT do ex-governador Leonel
Brizola. Era o início da idéia de
uma frente que daria à candidatura Ciro o verniz ideológico do trabalhismo de Getúlio Vargas, um
dos ídolos do presidenciável.
Brizola, no entanto, acabou assumindo o papel do imponderável nos primeiros tempos de vida
da aliança. Prometeu ficar, foi
embora, ameaçou voltar, namorou Itamar Franco (PMDB), retornou cabisbaixo, mas não deixou nunca de criar problemas.
Rio Grande do Sul
O último deles, o lançamento da
pré-candidatura de seu maior inimigo, o ex-governador Antônio
Britto (PPS), ao governo do Rio
Grande do Sul. Protestou, voltou
a falar em ruptura, e por fim acabou mesmo ficando, até por não
ter mais para onde ir. Mas problemática mesmo foi a atuação do
PPS de Ciro e do senador Roberto
Freire, maior desarticulador da
aliança que pretende pela primeira vez levar o antigo PCB (Partido
Comunista Brasileiro) ao poder.
Amigo de FHC a ponto de despertar uma espécie de ciúmes até
no PTB, Freire contestou a aproximação entre a frente e o PFL em
um momento em que até uma coligação formal entre as duas legendas chegou a ser cogitada.
Contrariando promessas feitas
aos colegas de aliança, reclamou
em público dos pefelistas e teve
sua permanência no comando da
campanha ameaçada. Também
acabou permanecendo em seu
posto, mas hoje, depois de tantos
desencontros, foi isolado pelos
demais partidos da coligação. E,
embora controle sua legenda,
quase não comparece mais às reuniões entre os coordenadores.
(PATRICIA ZORZAN)
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