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QUESTÃO AGRÁRIA
Decisão, aprovada em assembléia do grupo, deve ser seguida por outros acampamentos; Incra já pede antecedentes
Em Ribeirão, MST exige ficha criminal de sem-terra
AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Os sem-terra do acampamento
Mário Lago -que é do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Ribeirão Preto- tiveram de tirar um atestado
de antecedentes criminais a pedido do próprio grupo.
O acampamento de Ribeirão
Preto, que abriga hoje 425 famílias, foi o primeiro do MST a pedir
a ficha dos sem-terra. A decisão
foi aprovada em assembléia do
grupo e agora deve ser seguida em
outros acampamentos.
A exigência já é feita pelo Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na entrevista para a seleção das famílias
que receberão o lote de terra.
De acordo com Edivar Lavratti,
26, da direção estadual do movimento, o atestado é importante
para mostrar à sociedade que o
grupo não é formado por bandidos e para diminuir o preconceito
contra os sem-terra.
Isso também evitaria que pessoas que tenham problemas com
a Justiça se infiltrem no grupo. Para o MST e para o Incra, quem já
pagou o que devia à Justiça e que
se enquadra nos critérios de seleção pode ser assentada.
De acordo com estatísticas nacionais do Incra, cerca de 5% dos
interessados em terras são desclassificados pelo fato de não terem a ficha limpa.
O militante Sirlei Moreira, 34,
diz que quatro homens que pretendiam acampar em Ribeirão
acabaram tendo de ir embora
porque não estavam em dia com a
pensão dos filhos. Um deles teria
sido preso ao tentar pegar o atestado, já que o crime é inafiançável.
Moreira concorda com a exigência do MST. "É uma forma de
provar que não somos um bando
de baderneiros", disse.
Aparentemente, a maioria dos
acampados aprovou a idéia. Eles
tiveram de entregar o atestado para a coordenação, junto com cópia do CIC e do RG.
"É importante saber com quem
a gente está vivendo. Tem gente
boa e gente ruim nesse mundo.
Precisamos saber a conduta da
pessoa para não virar bagunça e
entrar marginal no meio da gente.
Estamos aqui para lutar pela terra
e não temos o que esconder", afirmou a acampada Izabel Beloti
Gomes, 50.
Alguns deles, apesar de afirmarem que concordam com a exigência, ainda devem a ficha. É o
caso de Maria de Fátima Borges,
30. "Não tirei ainda, mas vou tirar,
com certeza", afirmou.
"Eu sempre vou para a cidade
porque trabalho lá como pedreiro
e foi fácil tirar o meu", disse o marido de Fátima, Milton Borges, 38.
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