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ELEIÇÕES 2008 / LEGISLATIVO
Presidente da Câmara de SP omite agência de R$ 1,3 mi
Vereador deixou de comunicar propriedade, registrada em seu nome na Junta, ao TRE
Candidato diz que transferiu
cotas e vê demora da Junta; para promotor eleitoral,
que falou em tese, omissão
de bens pode ser crime
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antonio
Carlos Rodrigues (PR), 58, candidato ao cargo pela terceira
vez, deixou de declarar ao TRE
(Tribunal Regional Eleitoral) a
propriedade de uma agência de
publicidade com capital social
de R$ 1,33 milhão.
O patrimônio da empresa,
chamada Publibase, foi constituído em 2006 por duas casas
registradas em nome do próprio vereador e avaliadas em
R$ 1,3 milhão -Rodrigues, assim, transferiu os imóveis para
si mesmo. A operação permitiu
que o vereador declarasse neste
ano ao TRE estar 50% mais pobre do que em 2004, já descontada a inflação do período.
Em entrevista à Folha, o presidente da Câmara primeiro
disse que, em 2008, doou a empresa para seu filho, um publicitário, e que, por isso, não a declarou ao TRE. Culpou a morosidade da Junta Comercial pelo
fato de a empresa ainda estar
em seu nome. Pouco depois,
afirmou que ainda detinha parte das cotas de uma nova Publibase "S/A". Indagado sobre não
ter declarado também a "S/A"
ao TRE, o vereador disse "não
ter certeza" de ser ainda sócio.
A reportagem pediu, então,
acesso à documentação que
provaria a possível doação da
"S/A" ao seu filho, mas o vereador alegou falta de tempo, por
estar em campanha para a reeleição.
Em 2004, Rodrigues declarou um patrimônio total de
R$ 2,42 milhões, ou R$ 2,99
milhões em valores atuais corrigidos pelo IPCA do período
2004-2008. Quatro anos depois, o presidente da Câmara
"empobreceu", declarando um
patrimônio de R$ 1,47 milhão.
O promotor eleitoral de São
Paulo Eduardo Rheingantz, falando em tese e sem avaliar os
bens de Rodrigues, disse que a
omissão de propriedades na
declaração entregue à Justiça
Eleitoral pode configurar "crime de falsidade ideológica". A
Lei Eleitoral exige a declaração
dos bens, mas é omissa no tocante às punições.
Em registro obtido pela Folha na Junta Comercial no último dia 7, um mês depois do fim
do prazo para o registro da candidatura de Rodrigues, o vereador permanece proprietário,
com 99% das ações, da Publibase do Brasil Publicidade Ltda,
que funciona, segundo o registro, na rua Barão do Rio Branco, em Santo Amaro. O filho do
vereador detém 1% das cotas.
Segundo a ficha cadastral da
empresa, a última alteração
contratual registrada na Junta
Comercial transformou-a de
"limitada" para "S/A" (sociedade anônima), mas nada falou
sobre saída de sócios.
Mesmo com a transferência
dos imóveis, Rodrigues é o oitavo vereador mais rico da Câmara de São Paulo entre os 52 que
tentam a reeleição. Caso não tivesse passado os imóveis para a
empresa Publibase, Rodrigues
seria o terceiro mais rico, abaixo de Gilson Barreto (PSDB) e
de Milton Leite (DEM).
A operação que tornou o vereador "mais pobre" ocorreu
em abril de 2006. Ele tinha em
seu nome uma casa de 809 metros quadrados na rua General
Pereira da Cunha, na Vila Andrade, perto da avenida Morumbi. Ao transferir o imóvel
para sua agência de publicidade, declarou um valor de
R$ 885 mil, de acordo com escritura do 15º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo.
Dez dias depois, o vereador
transferiu para a Publibase outra casa em seu nome, de 646
metros quadrados no loteamento Jardim Acapulco, no
Guarujá (litoral de SP). No ato
da transferência, atribuiu valor
de R$ 438 mil ao imóvel.
Rodrigues preside a Câmara
Municipal desde o ano passado.
Em 1979, foi procurador da Assembléia Legislativa. Em 2001,
foi relator da CPI da Câmara
que investigou supostas irregularidades em licitações e contratos de coleta de lixo e serviços de limpeza pública da prefeitura paulistana. Ele foi também secretário de Serviços Públicos de Guarulhos e conselheiro do Metrô.
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