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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
Publicitário deixa campanha de Alckmin e ataca serristas
Lucas Pacheco culpa tucanos ligados ao governador por problemas no programa
Marqueteiro diz que "lobos
em pele de cordeiro" fizeram
orquestração para espremer
Alckmin; "não dá para fazer
campanha autista", afirma
Marlene Bergamo - 15.ago.08/Folha Imagem
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FORA
Lucas Pacheco, ex-marqueteiro de Alckmin, que está em empate técnico com Kassab no Datafolha
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
O marqueteiro Lucas Pacheco está fora da campanha de
Geraldo Alckmin, que disputa a
Prefeitura de São Paulo pelo
PSDB. Em entrevista à Folha,
ele culpou os tucanos ligados a
José Serra pelas dificuldades
enfrentadas pela campanha.
Pacheco, que será substituído por Raul Cruz Lima, critica
sobretudo os "lobos em pele de
cordeiro" -referência velada a
José Henrique Reis Lobo, presidente do PSDB municipal e
secretário do governador.
FOLHA - O que deu errado?
LUCAS PACHECO - Desde o princípio entendi que o Geraldo corria em faixa própria. Costumava dizer que estávamos na Castelo Branco. À direita, o prefeito, contando com a simpatia da
máquina estadual. À esquerda,
a candidata do PT, também numa faixa muito bem pavimentada. Para nós sobrou o canteiro central: a grama. Eu dizia
que o Geraldo era o candidato
off-road.
FOLHA - E por que não funcionou?
PACHECO - Nossa estratégia se
baseava em quatro pontos. Primeiro: o Geraldo colocar o dedo
na ferida, apontar os graves
problemas que a cidade tem.
Porque isso aqui não é "Alice no
País das Maravilhas". Segundo:
apresentar propostas viáveis,
criativas. Terceiro: resgatar a
obra do Geraldo. Afinal, ele estava um pouco esquecido. Mostrar o que ele já fez, aliado a todos os atributos positivos e à
baixa rejeição que ele tem.
Quarto -e mais importante:
resolver a equação política.
FOLHA - Que equação?
PACHECO - Essa situação de você ter duas candidaturas disputando a mesma fatia do mercado eleitoral. O PSDB alckmista
e o PSDB kassabista.
FOLHA - Mas isso não é um dado de
realidade, uma vez que o partido está na prefeitura e, ao mesmo tempo,
Alckmin resolveu disputar a eleição?
PACHECO - O que sustenta uma
campanha é o pilar político. Há
um segundo pilar, que envolve
mobilização, organização, recursos, e um terceiro, que é a
comunicação. Mas o fundamental é o pilar político.
FOLHA - Qual foi a linha decidida
antes de o programa de TV estrear?
PACHECO - O primeiro programa foi para o ar em 20 de agosto. Reapresentava o Geraldo ao
eleitor. No segundo programa,
dois dias depois, começamos a
executar a estratégia de colocar
o dedo na ferida. Dos problemas da saúde, da educação. O
Tobias da Vai-Vai cantava um
samba quase fúnebre que dizia
que faltam mais de cem mil vagas nas escolas e nas creches.
No dia seguinte, um sábado, o
mundo tucano-kassabista, ligado ao governo do Estado, caiu
sobre a cabeça do candidato.
Começou uma pressão insuportável. Diziam que estávamos batendo na gestão do Serra
na prefeitura. Estávamos mostrando os problemas. Não dá
para fazer campanha autista.
FOLHA - Quem fazia a pressão?
PACHECO - Os lobos em pele de
cordeiro. Que se diziam porta-vozes da insatisfação do Serra.
Fizeram uma orquestração para acuar o candidato. Tentar espremê-lo. Assim como tentaram, primeiro, inviabilizar a
candidatura, trabalharam depois para tornar seu discurso
inviável. Se ele não puder apontar os problemas, vai dizer o
quê? Não é o prefeito. Não foi
prefeito. É um ex-governador
que acredita ter uma missão. E
eu acredito que ele tem. Mas
não deixaram ele falar.
Quero deixar registrado que,
no meio de todo esse processo,
ele teve dois leões ao lado dele:
o Edson Aparecido [coordenador-geral da campanha] e o Julio Semeguini [deputado federal muito próximo a Alckmin].
FOLHA - "Lobos em pele de cordeiro" é referência a José Henrique Reis
Lobo, secretário do governo Serra e
presidente do PSDB municipal?
PACHECO - É uma referência a
todos os que diziam ao candidato que ele deveria esquecer o
Kassab e falar apenas da Marta,
que ele podia acreditar que estava muito próximo o dia em
que o PSDB ia chegar junto. O
PSDB que ele não tem.
Foram muitos acenos. Diziam que ele teria apoio explícito, e não apenas gravado em fita. Mas diziam apenas para
acalmá-lo e para convencê-lo a
não falar da gestão Kassab.
FOLHA - O sr. se refere ao vídeo
com declaração de José Serra que
lhe foi entregue para ser incluído no
primeiro programa de TV?
PACHECO - O que eu posso dizer
é que essas pessoas falavam em
nome dele.
FOLHA - O que o sr. achou da declaração gravada por Serra?
PACHECO - Correta. De homem
de partido. Nada além disso.
FOLHA - O candidato cedeu?
PACHECO - Ele foi convencido
de que a mudança poderia contribuir para unir o partido em
torno dele. Mas isso nunca
aconteceu. Não era isso o que
queriam. Eles queriam que o
Geraldo fosse desidratado.
FOLHA - Como ficou o programa?
PACHECO - Tivemos que fazê-lo
apenas em cima de atributos e
propostas. Isso, numa cidade
que se divide entre o voto no PT
e o voto anti-PT, é mortal. A
classe média que vota no PSDB
e que vive na Manhattan paulistana, que nunca foi à Brasilândia, a Itaquera, nunca viu
uma AMA nem uma UBS, começou a assistir àquele festival
de maravilhas [no programa de
Kassab] e a achar que está tudo
ótimo. Mudar pra quê? É mudança ou continuidade? Eu
acho que o Geraldo tem de ser o
candidato da mudança. E ficou
impossível dizer isso na TV.
FOLHA - Como o sr. responde ao
que dizem que a propaganda de
Alckmin é tecnicamente ruim?
PACHECO - Não temos os recursos das outras duas campanhas,
feitas, aliás, por dois profissionais por quem tenho o maior
respeito [João Santana, de
Marta Suplicy, e Luiz Gonzalez,
de Kassab]. E temos menos
tempo. Tinha de adotar uma estética mais próxima da vida das
pessoas que sofrem. Mas os lobos em pele de cordeiro conseguiram contaminar o noticiário
com a versão de que havia crise
de formato, não de conteúdo.
Vi coisas nesta campanha que
fariam o malufismo corar.
FOLHA - Por exemplo?
PACHECO - As acusações de
compra de delegados [por kassabistas] antes da convenção
do PSDB. Isso na cidade mais
avançada do país.
FOLHA - O sr. está fora?
PACHECO - Decidi sair depois de
conversar com o Geraldo e com
o Edson, para o bem do candidato. Quando você insiste numa tese, passa a atrapalhar o
processo. Mas ponho a maior fé
na campanha, no Raul Cruz Lima, que vai assumir, e na vitória. Depois de três meses, estou
louco para ver meus netos.
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