|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSIÇÃO
Dirceu prefere ministério e divide bancada petista
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A resistência do presidente do
PT, o deputado federal José Dirceu (SP), em ser candidato a presidente da Câmara abriu um racha na bancada do partido e na
cúpula petista. Segundo a Folha
apurou, Dirceu prefere integrar o
governo a disputar a presidência
da Câmara, apesar de não descartar esta última possibilidade.
O presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, também acha mais
útil ter Dirceu no governo. Espécie de curinga, Dirceu é cotado
para Casa Civil, o posto que mais
deseja, mas também é lembrado
para a Justiça e até para Fazenda.
A tendência de Dirceu pelo ministério criou um problema no
PT. Com exceção dele, não há nome consensual na bancada nem
avaliação pacífica de que o partido deva brigar pelo cargo. Ciente
da preferência de Dirceu, o líder
petista na Câmara, João Paulo Cunha (SP), articula intensamente
para ocupar o cargo. Obstáculos:
1) Lula e a cúpula petista avaliam
que falta densidade política a João
Paulo para o posto; 2) seria uma
candidatura de risco, já que um
nome mais fraco do que o de Dirceu incentivaria a oposição a ter
um candidato forte.
Diante dessas dificuldades, Lula
tende a querer negociar a Câmara
com eventuais partidos aliados e
até mesmo com legendas adversárias, como o PSDB. A idéia inicial é obter apoio para quatro reformas que seriam feitas em dois
anos: tributária, previdenciária,
trabalhista e política. Antes da
eleição, Lula disse ao presidente
da Câmara, o tucano Aécio Neves,
que negociaria a Câmara. Dirceu
também admitiu a possibilidade.
Todavia a bancada e parte da
cúpula petista acham que Lula
não pode abrir mão do cargo. Na
bancada, a disputa é a seguinte:
parte está integrada ao projeto de
João Paulo para ser a alternativa a
Dirceu, mas setores aventam outros nomes, como Patrus Ananias
(MG), Sigmaringa Seixas (DF) e
Jorge Bittar (RJ). Estes três têm
menos força do que João Paulo.
Em relação a uma eventual negociação, o PT lidaria com um
PSDB ainda magoado, apesar de
Fernando Henrique Cardoso e a
cúpula tucana terem decidido na
quinta-feira fazer oposição light.
Entre os adversários do PT, há
três possíveis candidatos: o tucano Arnaldo Madeira (SP), líder do
governo FHC na Câmara, o pefelista Inocêncio Oliveira (PE), líder
do seu partido na Casa, e o peemedebista Michel Temer (SP),
que já presidiu a Câmara.
A candidatura de Madeira é
uma tentativa do PSDB de atrair o
PFL e o PPB para um bloco a fim
de disputar as presidências da Câmara e do Senado. A postulação
de Inocêncio é um velho desejo
do deputado que enfrenta resistência dentro do próprio PFL. A
candidatura de Temer também
tem suas complicações. Há um
acordo fragilíssimo entre PT e
PMDB, segundo o qual os petistas
fariam a presidência da Câmara e
os peemedebistas, a do Senado.
A chance de Temer seria fazer
com que a preferência de Dirceu
pelo ministério e as divergências
no PT levassem Lula a propor
uma troca de Casas. Temer presidiria a Câmara. E Aloizio Mercadante (PT), o Senado. Lula, porém, teria de jogar contra a candidatura de José Sarney no Senado,
e os aliados a Temer teriam de
persuadir Renan Calheiros (AL) a
desistir de disputar no PMDB
com Sarney, algo nada fácil.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Duas carências Próximo Texto: FHC e Lula falam sobre falta de privacidade Índice
|