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SEGUNDA ONDA
Ministro diz que macroeconomia continuará "firmemente monitorada" e rebate acusação de Cacá Diegues
Gushiken anuncia foco na política industrial
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão
Estratégica) diz que "haverá uma
segunda fase na política econômica, mais focada para política industrial e comercial".
Na primeira entrevista exclusiva
desde que virou ministro, Gushiken afirma: "Haverá, daqui para
frente, a prevalência de atitudes
de microeconomia, mas a macroeconomia continuará a ser
monitorada firmemente" pelo
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Palocci, aliás, é classificado por Gushiken como "uma
das maiores revelações da política
brasileira, pela capacidade que
demonstrou ao lidar com uma
herança tão difícil na economia".
Segundo Gushiken, o cineasta
Cacá Diegues não tinha razão ao
acusar sua secretaria de tentativa
de dirigismo cultural por querer
fixar contrapartida social ao patrocínio de filmes. Diz, porém, ser
preciso discutir o financiamento
da produção cultural pelo Estado:
"No Brasil, esse financiamento está muito vinculado às empresas
estatais, e isso não é correto".
Ele deixa claro que acha que a
disputa por recursos da BR Distribuidora são uma das causas das
críticas que recebeu. O ministro
conta que, na próxima semana,
lançará uma licitação para centralizar em três agências a publicidade institucional do governo. Leia
a seguir trechos da entrevista dada por Gushiken, 52, em seu gabinete, anteontem, em Brasília:
Folha - O cineasta Cacá Diegues
disse que as regras do PT para financiamento cultural lembravam a
ditadura. Dias depois, o sr. se reuniu com ele e suspendeu os critérios que deram origem à polêmica.
O cineasta tinha razão?
Luiz Gushiken - Não. Achei mais
prudente estancar um debate que
colocou em suspeição o governo
em relação a uma questão-chave,
a liberdade de expressão, algo que
o PT sempre prezou. As coisas estavam se dirigindo para um debate infrutífero. Sugeri estancar isso
e que o ministro Gilberto Gil, de
acordo com sua competência, no
âmbito do Ministério da Cultura,
tomasse a iniciativa de abrir amplo debate para discussão de política cultural.
Folha - Foi um recuo tático para o
governo insistir nos critérios e na
contrapartida social?
Gushiken - Não. A palavra contrapartida social não surgiu agora,
já era orientação do governo anterior na própria BR Distribuidora e
continuará a ser.
Folha - Um grupo de cineastas criticou Cacá Diegues? Um dos ingredientes desse debate é a briga por
verbas na BR?
Gushiken - Existe um debate que
precisa ser esclarecido sobre a
maneira como se financia a produção cultural. No Brasil, esse financiamento está muito vinculado às empresas estatais e isso não
é correto. É preciso que se abram
outros mecanismos de financiamento, de natureza privada, sob
pena de sobrecarregar demais as
empresas do governo. Um pouco
da tensão foi gerada por escassez
de recursos e mais ainda por uma
liberação de verbas contratadas
no governo anterior, comprometendo recursos de 2003, 2004 e
2005. A BR foi colocada numa situação de muita dificuldade, já
que basicamente é ela que oferece
recursos na área de indústria do
cinema. Daí a minha preocupação para que os dirigentes de estatais discutam forma mais adequada para atender a demandas legítimas, mas que não podem ficar
concentradas numa só empresa.
Folha - Por que sua pasta centralizou a publicidade institucional?
Gushiken - Há três tipos de publicidade. A publicidade estatal
continua com as empresas. A publicidade de utilidade pública, como campanhas de vacinação, permanece nos ministérios. A Secretaria de Comunicação no governo
anterior era muito normativa.
Não tinha recursos. Havia dispersão de agências de publicidade,
havia várias marcas de governo.
Cada ministério tinha suas agências, suas marcas. Centralizamos
a publicidade institucional, que é
de R$ 113 milhões no Orçamento,
mas que virou R$ 48 milhões após
o contingenciamento, para dar
uma linha única e coerente.
Folha - Há intenção de centralizar
em poucas agências essa conta?
Gushiken - A idéia para a nova licitação que abriremos a partir da
semana que vem é que apenas três
agências fiquem incumbidas da
publicidade institucional.
Folha - O publicitário que mais
trabalha com o sr. é o Duda Mendonça, que fez a eleição do Lula.
Qual o papel dele, que criou a campanha das reformas?
Gushiken - Até a posse, o Duda
fez um intenso trabalho contratado pelo PT. Na campanha das reformas, a agência do Ministério
do Planejamento, que tenho de
usar porque não tenho agência
contratada, achou por bem recorrer à ajuda do Duda. Segundo a
Propeg, é prática normal do mercado. Não serei eu a me opor à
contribuição do Duda Mendonça.
Folha - A Globo resiste a dar descontos a anúncios oficiais? O desconto pedido é de 70%?
Gushiken - Esse índice de 70%
não existe. A Globo diz que tem
uma sistemática de negociação
com seus clientes. E nós colocamos que temos uma sistemática
nova, que não colide com a maneira como ela pensa. É perfeitamente possível negociar. Estamos
numa fase avançada com quase
todos os veículos, negociando
com zelo pelo dinheiro público.
Folha - O sr. se assustou quando
descobriu os preços praticados? O
governo pode economizar?
Gushiken - Pode economizar
muito. Há uma multiplicidade de
estatais e ministérios. Cada unidade discutia cada programa específico. O que fiz foi juntar todos
num comitê e solicitar a cada unidade que fizesse uma programação de período relativamente
grande, para planejar o gasto em
um período. É bom para o governo e para as empresas de mídia,
porque há programação. Todos
estão gostando, no que pese, do
ponto de vista dos veículos de comunicação, um desconto que não
estavam acostumados a oferecer.
Folha - Em média, quanto o sr. está conseguindo de desconto?
Gushiken - É segredo comercial,
mas é bastante significativo.
Folha - Esse sistema de compra se
estenderá para todo o governo?
Gushiken - Já sugeri ao ministro
da Casa Civil, José Dirceu, que
juntasse os ministros para ver como cada um age nessa área. Compras governamentais têm sido objeto de atenção nas discussões da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) e da OMC (Organização Mundial do Comércio). Grandes acordos comerciais entre países sempre envolvem compras
governamentais. Em tempos de
ajuste fiscal, é fundamental.
Folha - O governo ficará satisfeito
apenas com os bons resultados colhidos até agora com a rígida política monetária e fiscal? Prepara algo
diferente em termos de política de
desenvolvimento? Haverá uma segunda onda na política econômica?
Gushiken - Os instrumentos de
macroeconomia, que foram decisivos para o Brasil pudesse encontrar seu equilíbrio e produzir uma
esperança no futuro, são fundamentais e serão monitorados diariamente. Entretanto, as políticas
de microeconomia tem uma
complexidade de outro tipo.
Exemplo: é fazer com que os recursos para microempresários
que saem do Banco do Brasil cheguem efetivamente ao cidadão,
cheguem à ponta da linha. Essas
políticas de microeconomia demoram mais a mostrar eficiência,
mas há uma preocupação do governo em agilizá-las.
Sou sempre prudente, mas haverá uma segunda fase na política
econômica mais focada para política industrial e comercial. Haverá, daqui para a frente, a prevalência de atitudes de microeconomia, mas a macroeconomia continuará a ser monitorada firmemente pelo Palocci, uma das
maiores revelações da política
brasileira, pela capacidade que
demonstrou ao lidar com uma
herança tão difícil na economia.
Já discuti com o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, a necessidade de desencadear um
processo de promoção do Brasil
no exterior. Há uma crise mundial nesse área, desencadeada pelo 11 de setembro, pelas guerras e
agora pela pneumonia na Ásia. O
Brasil não tem esses problemas e
pode dar um salto na área.
Folha - De onde sairão os recursos? Os bancos públicos têm limites
para aumentar o financiamento.
Gushiken - Essa pergunta é importante. Na conversa com o ministro da Turismo, disse que o
próximo passo seríamos procurar
o Palocci e o BNDES e o Sebrae.
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