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SEGUNDA ONDA
Governo vai autorizar instituições geridas por entidades de classe; instrumento pode gerar R$ 8 bi por ano
Lula quer fundos para induzir crescimento
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os dois primeiros fundos de
previdência complementar administrados por entidades de classe,
como sindicatos e associações de
profissionais liberais, terão o funcionamento autorizado nos próximos dias. É o primeiro passo do
governo Luiz Inácio Lula da Silva
para multiplicar o mercado milionário dos fundos destinados ao
pagamento de aposentadorias e
pensões.
A nova modalidade pode vir a
gerar uma poupança de R$ 8 bilhões por ano, segundo estimativa
preliminar do ministro Ricardo
Berzoini (Previdência).
"Evito falar em números por enquanto, mas a expectativa é que
possamos atingir entre 4 e 5 milhões de trabalhadores. Se cada
um entre 4 milhões de trabalhadores poupar em média R$ 2 mil
por ano para a aposentadoria, teremos R$ 8 bilhões de poupança",
calcula o ministro sobre o potencial dos chamados fundos instituídos, que considera "formidável". "É um dinheiro útil para investimentos no país e, melhor, é
dinheiro interno", completou.
O valor estimado por Berzoini é
quase o dobro dos investimentos
públicos previstos pelo governo
em 2003 depois dos cortes acertados com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Competição
Os fundos instituídos serão administrados por entidades de
classe e vão competir com os fundos abertos por oferecerem taxas
de administração mais baratas,
além do mesmo incentivo fiscal,
mediante o abatimento das contribuições no Imposto de Renda.
"Numa entidade fechada, os ganhos de rentabilidade revertem
para os associados, os administradores não precisam ter lucros, e
há também um ganho em escala
nos fundos instituídos, que ajudam a baratear as taxas de administração", argumenta o secretário de Previdência Complementar, Adacir Reis.
Hoje, menos de 1,7 milhão de
trabalhadores participam de fundos de previdência fechados patrocinados por empresas. Nos últimos 8 anos, o patrimônio desses
fundos triplicou. Passou de R$ 57
bilhões para R$ 168 bilhões.
A maior parte desse dinheiro é
investida em títulos públicos
(fundos de renda fixa e renda variável), uma outra parcela importante vai para ações, e percentuais
menores são aplicados em imóveis e empréstimos aos participantes dos fundos.
O governo quer estimular também investimentos em infra-estrutura, por exemplo, onde faltará
dinheiro público em consequência das metas de superávit primário (economia para pagamento de
juros) de 4,25% do PIB em média
com as quais o governo se comprometeu nos próximos anos.
"As aplicações dos fundos têm
de viabilizar retorno financeiro
para garantir o benefício previdenciário. Se puder combinar o
retorno com fomento à atividade
produtiva, ótimo", pondera o secretário de Previdência Complementar.
Mudanças
A criação da figura do instituidor está prevista por lei desde
2001. A regulamentação saiu em
meados do ano passado. Mas é
uma mudança nessa regulamentação que fará deslanchar os fundos de previdência patrocinados
por entidades de classe.
Nos próximos dias, o Conselho
de Gestão de Previdência Complementar vai permitir que os
grandes fundos patrocinados por
estatais, como a Previ (Banco do
Brasil), a Petros (Petrobras) e a
Funcef (Caixa Econômica Federal), administrem os planos das
entidades de classe, adiantou
Adacir Reis.
Os primeiros fundos instituídos
a serem autorizados serão o do
Sindicato dos Engenheiros de São
Paulo e o dos ex-alunos da Fundação Getúlio Vargas. Também estão adiantados os entendimentos
para a criação do fundo da Força
Sindical.
Ricardo Patah, secretário de finanças da Força, disse que a intenção é começar com 35 mil pessoas dos principais sindicatos filiados à central. Se o negócio pegar, poderá alcançar cerca de 16
milhões de pessoas associadas aos
sindicatos ligados à Força. A CUT
(Central Única dos Trabalhadores) ainda não apresentou projeto
à Secretaria de Previdência Complementar.
Estímulo
Para estimular a criação de fundos instituídos, o Ministério da
Previdência vai promover seminários regionais voltados a sindicatos e associações de profissionais liberais, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o
Conselho Federal de Medicina.
A criação dos fundos terá prioridade na secretaria, que reforçou
sua estrutura para acompanhar o
crescimento do negócio e tornar
mais rigorosa a fiscalização de
suas aplicações.
A reforma previdenciária encaminhada pelo governo ao Congresso representará outro estímulo importante para o mercado dos
fundos complementares, ainda
que alcance apenas os futuros servidores públicos, pela proposta
em discussão.
O ministro Ricardo Berzoini
prevê que cerca de 20 mil a 25 mil
pessoas entrarão no serviço público da União por ano e terão a
opção de se associar a fundos para
pagamento de aposentadorias
acima do teto do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social), de R$
2.400.
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