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SEGUNDA ONDA
Para Gushiken, seu partido deve ceder ministério a aliado
PT deve dar vaga a PMDB para compor, diz ministro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Luiz Gushiken defende que os ministros do PT,
partido com mais postos no primeiro escalão, coloquem seu cargos à disposição para liberar uma
vaga para composição política,
caso o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva precise disso para firmar
uma aliança com o PMDB.
Para ele, "é natural que o PMDB
venha fazer parte do governo como integrante do primeiro escalão e não como mero apoiador no
Congresso. Isso dá sentido a um
governo amplo."
Um dos ministros mais próximos a Lula, com direito a reuniões diárias e conversas sobre os
principais assuntos do governo,
da economia à política, Gushiken
rebate a crítica de que o governo
apóia agora medidas que combateu no passado, como um dos pilares da reforma da Previdência: a
cobrança previdenciária de 11%
dos funcionários públicos aposentados que ganham acima de
R$ 1.058. "Nosso governo fez
aliança com vários partidos e juntou interesses de várias áreas da
sociedade, como os Estados. É natural que a proposta não tenha
apenas idéias do PT", afirma.
Folha - Como sr. se sente com o
governo sendo acusado de renegar
várias de suas críticas ao governo
FHC e adotando várias das políticas
tucanas? O que o sr. acha de o governo Lula pregar a taxação dos
inativos e de o PFL criticá-la?
Gushiken - Nosso governo fez
aliança com vários partidos e juntou interesses de várias áreas da
sociedade, como os Estados. É natural que a proposta não tenha
apenas idéias do PT. Do contrário, não precisaria haver negociação para elaborar os projetos que
foram enviados ao Congresso.
Folha - Mas o PT não teria de fazer um mea culpa em relação ao
governo FHC? O ministro José Dirceu, por exemplo, era contra a cobrança dos inativos e agora enquadra os radicais para tentar aprová-la.
Gushiken - Se o governo estivesse discutindo só a taxação dos
inativos, talvez sim. Mas está discutindo uma reforma acordada
com governadores. A taxação dos
inativos é um ponto que importava quase nada para o governo federal. Foi incluída para atender
compromisso com os Estados.
Folha - O governo tem dito que
não colocou bodes nas reformas
previdenciária e tributária e está
enfrentando resistências, principalmente no PT e na base aliada,
como o PDT. Como o governo vai
aprovar as reformas sem o PMDB
no ministério e com uma oposição
que está subindo o tom?
Gushiken - Quando o presidente
juntou os governadores e fez uma
análise da Previdência, encontrou
um ponto de consenso. Eles vão
atuar juntos.
Folha - Há um processo de aproximação com o PMDB, que sempre
empaca na concessão do ministério. O partido terá um ministério?
Quando? Antes ou depois de votar
as reformas?
Gushiken - É natural que o
PMDB venha fazer parte do governo como integrante do primeiro escalão e não como mero
apoiador no Congresso. Isso dá
sentido a um governo amplo.
Folha - O presidente Lula tem resistido a dar o ministério agora.
Acha que pode haver interpretação
de barganha. O ministério virá só
em dezembro, quando o governo
pensa em fazer uma reforma ministerial?
Gushiken - Isso depende exclusivamente do presidente.
Folha - No cronograma do governo, haverá reforma ministerial em
dezembro?
Gushiken - O presidente nunca
fixou data. O bom senso diz que,
se o governo sentir necessidade
de mudança ministerial, ela tem
de ser feita. Acho inclusive que,
no caso de uma eventual mudança para composição com outros
partidos, como o PMDB, por
exemplo, o mais correto seria que
os ministros, principalmente os
do PT, o partido majoritário, coloquem seus cargos à disposição
para o presidente fazer o ajuste da
maneira mais livre e justa.
Folha - Outro dia o presidente falou que quatro anos era pouco tempo para mudar o país. Ele já pensa
na reeleição?
Gushiken - Não temos de nos
preocupar com isso. Não há sentido. O governo mal começou.
Folha - Qual é hoje a maior preocupação que o presidente apresenta a vocês nas reuniões? O que ele
mais tem pedido?
Gushiken - Há várias. Uma delas
é que as ações interministeriais
sejam realizadas de maneira contínua. Eficiência maior do usos
dos recursos depende de maior
trabalho em equipe.
Folha - Trabalhar em equipe tem
sido a maior dificuldade da área social? Haverá unificação, com coordenação única?
Gushiken - Os ministros dessa
área estão mais habilitados a falar,
mas é público que a profusão de
programas não obedece ao princípio da racionalidade. É necessário que haja esforço para ver o que
poderá ser unificado, sem prejuízo de tal ou qual ministro. É claro
que a eficácia dependerá da junção de alguns programas para que
a população ganhe na ponta.
Folha - Haverá um novo ministro
na área social, para coordenação
geral? Aventou-se que Ciro Gomes
(Integração Nacional) poderia ser
esse ministro.
Gushiken - Não vejo nada nesse
sentido, nem acho prudente que
se discuta mudanças ministeriais
em função de medidas administrativas que precisam é de maior
racionalidade.
Folha - As empresas de comunicação, de modo geral, estão atravessam um momento de grave dificuldade financeira. Haverá algum tipo de socorro financeiro, via
BNDES, a esse setor? Um Proer para
a mídia?
Gushiken - Não tenho visto essa
discussão com esse tema, mas
acho que é um que deve ser objeto
de preocupação de toda a sociedade. As empresas nacionais de
mídia têm papel de muita relevância. Nós não poderíamos permitir que a comunicação sofra
um processo de invasão de enlatados que venham do exterior para baratear custos. O governo deve pensar na capacidade criadora
dos profissionais brasileiros. É
preciso que essa diversidade cultural e essa riqueza criadora expressa em comunicação e em informação sejam produzidas por
brasileiros.
Folha - Isso inclui uso de recursos
públicos para financiar empresas?
Gushiken - Não sei se haverá um
Proer, mas sinto que esse assunto
não é um assunto qualquer.
Folha - Esse assunto deve levar
em conta um setor uma empresa.
Uma Globo em dificuldades, uma
empresa com enorme poder de
pressão, merecerá ajuda ou não do
governo?
Gushiken - Não cheguei a uma
conclusão sobre ajudar financeiramente, mas, com certeza, a capacidade que a Globo apresenta
hoje em termos de criatividade e
de produção genuinamente brasileira deve ser preservada. Penso
que a Globo, hoje, é uma das mais
importantes e eficientes organizações de comunicação do mundo.
Na China, até hoje, a novela "Escrava Isaura" vai ao ar. Independente de saber se deve aportar recursos ou não, é uma questão decisiva e o país e o governo devem
pensar nela.
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