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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

Semelhanças inquietas

Não é entre os petistas desgostosos e os eleitores decepcionados, mas nos setores agradavelmente surpreendidos com o governo Lula que se forma uma onda de inquietação com os possíveis efeitos da política econômica.
Entre o desgosto de uns e a preocupação de outros, há diferenças de motivação cada vez menores e, ainda assim, diferença extrema quanto à possibilidade de exercer alguma influência. Já ficou bastante claro que Luiz Inácio Lula da Silva e Antonio Palocci não querem saber de avaliações e sugestões feitas por discordantes da política econômica, nem mesmo dos que têm maior tradição de autoridade na matéria. Os ex-temerosos de Lula, porém, têm poder e meios conhecidos de influência, além da maior receptividade em razão, entre outras, da própria linha geral adotada pelo governo.
De modo simplificado e sem tecnicalidades, pode-se dizer que os partícipes desses quatro meses de lua-de-mel com o governo Lula inquietam-se, agora, com os possíveis efeitos da combinação de dois fatores. De uma parte, a política com que Lula e Palocci fizeram o seu alívio é a mesma que lhes parecia necessário alterar, para deter e reverter as sequelas da falta de crescimento econômico. Nesse sentido, o governo não emitiu sinal algum.
De outra parte, os dados positivos, entre os quais o câmbio é a grande estrela, não têm solidez confiável e não resultam, propriamente, de ações do governo. Apesar disso, poderiam ser vistos pela equipe econômica como oportunidade para algumas inovações. Mas, ao contrário, parecem fortalecer no governo a idéia de que, por ora, nada há a modificar ou discutir na política econômica e monetária.
Como fazer a passagem dessa política, iniciada no governo passado, para a política de crescimento já era uma indagação em aberto. A essa, agora se sobrepõe outra: terá o governo, diante do que considera êxitos seus, disposição para tentar a passagem em busca do crescimento e para medidas não abençoadas externamente, em tempo de evitar os problemas que tantos antevêem?
Por vias que nem paralelas são, os críticos e os neo-aliados de Lula tornam-se mais parecidos entre si do que o governo se parece com o PT das suas origens. A propósito, dizem que PT agora significa Parece Tucano.


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