São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Bispo da CNBB diz que partido perdeu "coragem e consistência"

Igreja critica saída do PT de plebiscito sobre a Alca

Moacyr Lopes Junior - 22.fev.02/Folha Imagem
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja candidatura à Presidência da República enfrenta críticas de antigos aliados na Igreja Católica


PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de que o plebiscito sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), convocado pela CNBB e movimentos sociais para a primeira semana de setembro, seja usado na campanha eleitoral como símbolo de um partido contra a integração comercial e antiamericano levou o PT a desistir de sua participação e ampliou a rusga com amplos setores da Igreja Católica.
"O PT perdeu coragem, consistência, ousadia. Deixou escapar certas bandeiras que estão sendo usadas por quem vem de relações de longa data com a direita", diz d. Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP) e responsável pela Pastoral Social da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
D. Demétrio faz parte da organização do plebiscito contra a Alca, programado para ocorrer de 1º a 7 de setembro, ao qual o PT decidiu não aderir oficialmente.
A cédula do plebiscito tem três perguntas, que devem ser respondidas com sim ou não: 1) "O governo brasileiro deve assinar o tratado da Alca?"; 2) "O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da Alca?"; 3) "O governo brasileiro deve entregar uma parte de nosso território -a Base de Alcântara- para controle militar dos EUA?".
Em nota, o PT explicitou sua posição: "O PT sempre defendeu que o plebiscito fosse centrado exclusivamente na questão da Alca, de modo a favorecer o envolvimento dos mais diversos setores da opinião pública, evitando incluir outras questões que, embora importantes, pudessem dificultar a ampliação social da iniciativa".
A polêmica está centrada na inclusão na cédula de pergunta sobre o acordo com os EUA para utilização da Base de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.
O PT, que calcula que o plebiscito com sua participação poderia reunir até 10 milhões de pessoas, teme efeitos eleitorais na candidatura Lula e a cristalização de uma imagem de aversão aos Estados Unidos na campanha do partido.
O partido acredita já ter tido desgastes eleitorais com a lembrança de seu engajamento do plebiscito sobre o pagamento ou não da dívida externa em 2000.
Naquele ano, mais de 5 milhões de pessoas compareceram às urnas para votar no plebiscito. 90% dos votantes defenderam o não-pagamento da dívida externa sem realização prévia de auditoria pública, o rompimento do acordo firmado pelo governo brasileiro com o FMI e o não-comprometimento do Orçamento com o pagamento da dívida interna.
"Os partidos querem conquistar o poder. O plebiscito coincide com a campanha eleitoral. É problema do PT. A cidadania é que deve manter os objetivos autênticos", afirma D. Demétrio.
O secretário de Mobilização Popular do PT, Francisco Campos, afirma que é "legítimo" o direito de os movimentos sociais realizarem o plebiscito. "O PT é contra a Alca, da forma que está prevista, mas queríamos que o plebiscito fosse centrado nessa questão."
A aliança com o PL, que conta com expressiva base da Igreja Universal do Reino de Deus, já havia desgastado as relações do PT com os católicos.

"Vale tudo"
O descontentamento chega às bases católicas, principalmente por meio do rádio. São 191 emissoras que integram a Rede Católica de Rádio, que atingem 24 Estados e transmitem críticas duras, desde a aliança com o PL.
"PT, a vestal da política brasileira, gira bolsinha pelas esquinas da vida à cata de alianças. Com quem? Pouco importa! O protótipo da coerência com princípios e valores tem agora um valor, retirar a pecha de partido perdedor e Lula de eterno derrotado! Vale tudo", afirmou o padre Jesus Flores, comentarista da rede católica.



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