São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Esquerda do partido reprova rumo da campanha

DA REPORTAGEM LOCAL

Petistas históricos e aliados tradicionais demonstram insatisfação com os rumos atuais da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As razões vão desde o abandono de bandeiras da esquerda que estariam sendo tomadas pelo candidato do PPS, Ciro Gomes, ao afastamento de luta sociais com parceiros antigos.
O apoio de Lula ao acordo do FMI anunciado na semana passada pelo governo desagradou a esquerda do partido. As alas mais radicais acham que a coordenação da campanha de Lula contrariou o documento aprovado no 12º Encontro Nacional do partido em dezembro, que pregava o rompimento com o Fundo.
Até agora as discussões são no âmbito interno, pois os petistas temem estimular o crescimento de Ciro, que poderia ampliar apoio a seu nome nos setores mais oposicionistas da sociedade.
A reação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) ao acordo com o FMI foi mais agressiva do que a do PT. "Após as eleições presidenciais, o FMI poderá exigir mais sacrifícios ao futuro presidente da república. Isso, ao contrário de dar sustentabilidade ao crescimento, tende a torna-lo instável e a promover ainda mais o desemprego e a deterioração das condições de vida de milhões de trabalhadores", afirmou Carlos Alberto Grana, secretário-executivo da central sindical.
O economista Paul Singer, uma das vozes mais respeitadas do partido, discorda que o apoio de Lula ao acordo e a nota que divulgou a esse respeito sinalizem mudança de posição do PT em relação ao FMI. "A relação do PT com o Fundo, a meu ver, está em aberto. A nota critica o Fundo, reafirma o desejo do PT de mudar a política econômica, mas assume que isso não será feito de imediato."
Singer se diz cético sobre o fim da turbulência, mesmo com o acordo. "Não comemoro isso. Mas não sei qual o peso da eleição e da crise financeira internacional na turbulência. Os grandes bancos europeus e americanos estão tendo prejuízos imensos que aumentam a desconfiança nos riscos. Ao mesmo tempo, o candidato do setor financeiro no Brasil, José Serra, vai mal nas pesquisas."
O deputado federal Milton Temer (PT-RJ) separa o discurso de Lula da prática política coordenada pelas tendências de centro do partido. "O discurso individual do Lula está correto. Quando vai à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e confronta as contradições do setor produtivo com as do financeiro, ele acerta", afirma Temer.
As críticas do parlamentar se concentram no comando da campanha de Lula- dominado pela tendência petista Articulação.
"A assessoria do Lula cada vez erra mais e dá espaço para o Ciro crescer como voz de oposição. Para que toda essa conversa com o Banco Central? Para respaldar a política do governo?", pergunta.



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