|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Esquerda do partido reprova rumo da campanha
DA REPORTAGEM LOCAL
Petistas históricos e aliados tradicionais demonstram insatisfação com os rumos atuais da campanha presidencial de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). As razões vão
desde o abandono de bandeiras
da esquerda que estariam sendo
tomadas pelo candidato do PPS,
Ciro Gomes, ao afastamento de
luta sociais com parceiros antigos.
O apoio de Lula ao acordo do
FMI anunciado na semana passada pelo governo desagradou a esquerda do partido. As alas mais
radicais acham que a coordenação da campanha de Lula contrariou o documento aprovado no
12º Encontro Nacional do partido
em dezembro, que pregava o
rompimento com o Fundo.
Até agora as discussões são no
âmbito interno, pois os petistas
temem estimular o crescimento
de Ciro, que poderia ampliar
apoio a seu nome nos setores
mais oposicionistas da sociedade.
A reação da CUT (Central Única
dos Trabalhadores) ao acordo
com o FMI foi mais agressiva do
que a do PT. "Após as eleições
presidenciais, o FMI poderá exigir
mais sacrifícios ao futuro presidente da república. Isso, ao contrário de dar sustentabilidade ao
crescimento, tende a torna-lo instável e a promover ainda mais o
desemprego e a deterioração das
condições de vida de milhões de
trabalhadores", afirmou Carlos
Alberto Grana, secretário-executivo da central sindical.
O economista Paul Singer, uma
das vozes mais respeitadas do
partido, discorda que o apoio de
Lula ao acordo e a nota que divulgou a esse respeito sinalizem mudança de posição do PT em relação ao FMI. "A relação do PT com
o Fundo, a meu ver, está em aberto. A nota critica o Fundo, reafirma o desejo do PT de mudar a política econômica, mas assume que
isso não será feito de imediato."
Singer se diz cético sobre o fim
da turbulência, mesmo com o
acordo. "Não comemoro isso.
Mas não sei qual o peso da eleição
e da crise financeira internacional
na turbulência. Os grandes bancos europeus e americanos estão
tendo prejuízos imensos que aumentam a desconfiança nos riscos. Ao mesmo tempo, o candidato do setor financeiro no Brasil,
José Serra, vai mal nas pesquisas."
O deputado federal Milton Temer (PT-RJ) separa o discurso de
Lula da prática política coordenada pelas tendências de centro do
partido. "O discurso individual
do Lula está correto. Quando vai à
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo) e confronta as contradições do setor
produtivo com as do financeiro,
ele acerta", afirma Temer.
As críticas do parlamentar se
concentram no comando da campanha de Lula- dominado pela
tendência petista Articulação.
"A assessoria do Lula cada vez
erra mais e dá espaço para o Ciro
crescer como voz de oposição. Para que toda essa conversa com o
Banco Central? Para respaldar a
política do governo?", pergunta.
Texto Anterior: Eleições 2002 - Campanha: Igreja critica saída do PT de plebiscito sobre a Alca Próximo Texto: MST questiona redução na proposta agrária Índice
|