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SOMBRA NO TUCANATO
Não dá para ser tão cordato assim com Lula, avalia presidente
Para FHC, Serra enfrenta o
pior momento da campanha
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que o pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto, o senador José Serra, enfrenta o pior momento da campanha. Para FHC, esse período crítico, no qual há hipótese remota de
Serra ser substituído, durará até
15 de junho, dia das convenções
do PSDB e do PMDB para oficializá-lo como candidato da aliança.
A Folha apurou que, pela primeira vez em muito tempo, FHC
está "soturno", "preocupado" e
"abatido", segundo descrição de
políticos com os quais se encontrou nesta semana. O presidente
acha que Serra tem errado muito.
A um interlocutor, FHC disse:
"A diferença entre mim e o Serra é
que sou estratégico e ele é tático".
Ou seja, o presidente prefere perder uma batalha se isso for importante para a guerra. Já Serra pensaria mais no curto prazo, comprando brigas menos importantes para chegar ao objetivo de longo prazo, como querer impor o
nome do vice ao PMDB em vez de
aceitar logo a indicação do partido para segurá-lo de vez.
Para FHC, Serra e auxiliares são
de uma inabilidade ímpar, esvaziando o efeito das articulações do
presidente para proteger o final
de mandato e ajudar o pré-candidato a evitar que o fogo amigo se
transforme na ruína de ambos.
Guerra suja
Na quarta-feira, o presidente ficou contrariado ao saber que serristas ameaçaram dinamitar os
tucanos Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, e Aécio Neves,
presidente da Câmara, em menos
de 15 dias de campanha caso um
dos dois venha a substituir Serra
como candidato.
FHC disse a Serra que ele e auxiliares estavam dando um sinal de
insegurança e de inabilidade política ao disparar tiros para dentro
do PSDB no momento em que
ambos estão acuados pelas suspeitas que pairam em torno da relação do tucanato com Ricardo
Sérgio de Oliveira, ex-diretor do
Banco do Brasil.
Ricardo Sérgio arrecadou recursos para campanhas eleitorais de
FHC (1994 e 1998) e de Serra
(1990, 1994 e 1996).
Para FHC, é dificílimo e inconveniente trocar Serra porque a leitura seria de derrota pessoal sua.
Desde que o ministro Pedro Malan (Fazenda) saiu do páreo presidencial, recusando-se a se filiar ao
PSDB em tempo hábil para eventualmente ser candidato, FHC jogou todas as fichas em Serra.
O presidente insistiu tanto para
Malan se colocar à disposição
porque já avaliava que os atritos
que Serra sempre criou em sua
carreira política recomendavam
uma saída de emergência.
Agora, sem poder recorrer a
Malan, FHC não moverá uma palha para derrubar Serra. Muito
pelo contrário. Quer viabilizá-lo.
No entanto, o presidente já começa a manifestar dúvida em relação
à chance de seu preferido.
Um sinal é a avaliação presidencial de que não dá mais para ser
tão cordato assim com Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável
do PT que disparou nas pesquisas. No governo e no PSDB, há
quem tema uma vitória petista no
primeiro turno.
Os tucanos Tasso e Aécio são
um exemplo. Em almoço na quarta, concluíram que, no atual ritmo
de campanha, Lula pode conquistar a Presidência na primeira fase.
Aécio e Tasso também julgaram
que o clima de guerra suja é estimulado por serristas e que, nesse
cenário, o PSDB tende mais a perder por ser governo federal.
O ex-governador do Ceará chamou de "aliados da onça" os serristas que espalharam que ele havia estimulado o irmão, Carlos Jereissati, a declarar à revista "Veja"
que dera R$ 2 milhões para a campanha de Serra em 1994. À Folha,
Carlos Jereissati disse que o valor
era de R$ 700 mil. Serra, porém,
disse que recebeu apenas R$ 95
mil, montante registrado na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
A queixa de Tasso chegou a
FHC, bem como uma manifestação de Aécio, outro tucano que
entrou na mira dos serristas por
ser uma alternativa presidencial.
Em relação a Aécio, serristas
disseram que ele estimulara Paulo
Renato Souza, ministro da Educação, a confirmar o suposto pedido
de propina de R$ 15 milhões feito
por Ricardo Sérgio para ajudar o
empresário Benjamin Steinbruch
a formar o consórcio que arrematou a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Detalhe: Aécio, que se encontrou com Paulo Renato dias antes
de a reportagem ser publicada, só
soube do caso no sábado, quando
a revista já estava nas bancas.
"Esse clima de briga é muito
ruim. O Serra precisa agregar politicamente", diz Tasso. Apesar de
dizer que "o PSDB tem vários nomes" que poderiam substituir
Serra, o ex-governador do Ceará
diz que não acredita nessa possibilidade. "A candidatura é irreversível e, mesmo que não fosse,
eu não seria candidato", diz.
Escudo
O presidente FHC também
acionou um "escudo humano"
para encampar a indicação de Ricardo Sérgio, tentando afastá-lo
dos verdadeiros patronos de sua
ida para a diretoria da área internacional do Banco do Brasil: Serra
e Sérgio Motta, ministro das Comunicações que morreu em 1998.
Atribui-se a Carvalho, ex-chefe
da Casa Civil, a indicação de Ricardo Sérgio para o BB, mas essa
versão cai por terra em conversas
reservadas com o tucanato.
Atualmente, é Carvalho, cumprindo missão para proteger Serra e FHC, que tem estabelecido
canais de comunicação com Ricardo Sérgio, acalmando-o e garantindo que não será abandonado pelo Palácio do Planalto.
Quem conversa com Ricardo
Sérgio sempre escuta a seguinte
expressão para definir sua participação no processo de privatização: "missão de governo".
Ricardo Sérgio nunca privou da
intimidade de FHC, mas sempre
teve a confiança de Motta e Serra.
Também foram acionadas pessoas próximas a Benjamin Steinbruch a fim de obter do empresário um compromisso, o de que ele
não poria lenha na fogueira.
O governo teme que Steinbruch, como fizeram Paulo Renato e o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, confirme a
história da suposta propina pedida por Ricardo Sérgio. Até sexta
ele continuava se negando a dar
entrevistas.
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