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JANIO DE FREITAS
Onde está a clareza
As recomendações de certos bancos e corretoras internacionais, para que seus clientes
desistam de investimentos no
Brasil, provocou no ministro da
Fazenda uma reação que não é
reação, mas apoio.
Pedro Malan pede "clareza da
oposição" quanto ao que pretende no governo. Subscreve, portanto, a alegação de que a liderança da candidatura de Luiz
Inácio Lula da Silva, nas pesquisas eleitorais, é o motivo da recomendação que prejudica o Brasil
e muitas de suas empresas.
O problema não é saber a
quem Malan se refere, ao falar
genericamente em oposição, mas
saber a quem ele não se refere.
Afinal de contas, todos os atuais
candidatos a presidente são de
oposição à política e às idéias de
Malan, a começar do candidato
do governo e, por tal condição, tido como candidato do próprio
Malan.
Se o motivo do ataque vem das
pesquisas, o problema se deve
fundamentalmente a Pedro Malan. Lula da Silva lidera a disputa sucessória por méritos seus,
mas, também, porque o governo,
contrariando toda a teoria eleitoral, mostra-se incapaz de injetar competitividade no seu candidato. Os tão citados 20% a
25% de apoio automaticamente
transferíveis ao candidato oficial, qualquer que seja, mal passam, nas pesquisas atuais, da
metade disso.
Ainda que a José Serra sejam
atribuídas discutíveis dificuldades pessoais, é reconhecido e inegável que a condição de candidato do governo despeja ônus pesado sobre sua candidatura. E isso só se explica pela rejeição do
eleitorado à política imobilista,
desempregadora, de impostos
brutais e crescentes, de custo de
vida muito mais veloz do que os
salários e tudo o mais que é a
obra de Pedro Malan avalizada
por Fernando Henrique Cardoso.
Mais lúcido, embora mais incômodo, seria Pedro Malan pedir clareza aos seus amigos dos
bancos e corretoras internacionais sobre os verdadeiros motivos das recomendações contra o
Brasil. Diz-se que é por causa do
possível Brasil de Lula da Silva.
Mas já 2001, sem pesquisas eleitorais, registrou queda de formidáveis 41% no montante de investimento empresariais privados no Brasil: de US$ 265 bilhões
em 2000 para US$ 156,5 bilhões.
Foi corte feito aqui dentro, por
dirigentes que se orientam segundo a situação imediata e as
perspectivas geradas pela política econômica.
Explicar a queda com o corte
de energia, como foi feito, é truque de comentarista econômico.
Primeiro, porque se trata de investimento, que é operação com
vistas ao longo prazo. Segundo,
porque a capacidade ociosa da
indústria andava entre os 20% e
os 25% quando se iniciou o racionamento, que, então, deixou intocada a quase totalidade do
tempo de produção. Terceiro,
porque os indicadores continuam
muito ruins depois de encerrado
o racionamento, até piores do
que ao fim do ano passado. O desemprego cresce mais, em apenas
três meses a inflação derrubou as
previsões para o ano, a sugestiva
produção de carros decresceu e
por aí em diante, ou melhor, para
baixo.
Os bancos, corretoras e demais
especialistas em especulação internacional têm ganho no Brasil
de Pedro Malan mais do que em
qualquer outra parte do mundo.
O que significa que o Brasil tem
perdido para eles mais do que
qualquer outro país do mundo. É
motivo bastante para que expliquem suas recomendações valendo-se das pesquisas e de Lula da
Silva, sem cometerem a ingratidão de dizer o que e quem é o verdadeiro motivador do ataque.
Reação troglodita
Em alguns lugares chamam-se
pardais, em outros, caso do Rio,
são chamados de radares. Em
torno deles está criado um movimento, originado pela proliferação desses aparelhos pela Prefeitura de São Paulo. A prefeitura
paulistana está acusada de má-fé, porque pretenderia apenas aumentar a arrecadação com maior
número de multas de trânsito. No
Denatran, Ministério da Justiça,
a discussão derrubou seu diretor
na sexta-feira.
E, no entanto, o que está errado
não é haver multas, é não haver.
Quem protesta contra a proliferação de pardais, em São Paulo ou
outro lugar, está defendendo a
desobediência às regras determinadas, da qual resulta a maior
parte da enormidade de acidentes. O brasileiro ao volante é um
troglodita motorizado, pela irresponsabilidade e incompetência.
Mais radares só podem contribuir para civilizá-lo um pouco.
Radares nos cruzamentos com sinais luminosos, os semáforos, por
certo evitariam muitos acidentes.
E, se comparados aos guardas,
ainda têm as vantagens de que
não inventam multa, não recebem propina, não dispensam os
ônibus e podem comprovar a infração com fotografia, que a prefeitura paulista tem o bom propósito de imprimir na cobrança.
A discussão está mal dirigida.
Os radares fazem parte das soluções, e o problema que lhes é atribuído está, de fato, nas velocidades permitidas. É comum até o
absurdo de velocidade máxima
de 70 km/h em via chamada de
alta velocidade (caso, por exemplo, de um trecho do carioca e famoso Aterro do Flamengo). Isso é
ignorar a melhoria das pistas e o
progresso tecnológico dos carros,
resultando em convite à desobediência em tais lugares e à deseducação no trânsito em geral
-que inclui ainda os pedestres,
quase todos trogloditas desmotorizados.
A administração de trânsito no
Brasil parece estar ainda na idade da pedra.
É a perfeição
PM prendeu, no Rio, soldado da
PM com carro roubado do chefe
do estado-maior da PM.
Isso, sim, é literalmente círculo
vicioso.
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