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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Carlos Ranulfo diz que troca geraria "briga'; para David Fleischer, "a cada semana diminui possibilidade" de saída
Analistas apostam na permanência de Serra
Alan Marques/Folha Imagem
David Fleischer, cientista político, em seu escritório, em Brasília
RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO
"Vai virar briga de famílias." Essa seria a consequência, segundo
o cientista político Carlos Ranulfo, de uma hipotética retirada da
pré-candidatura do tucano José
Serra à Presidência da República.
Hipótese que, por isso mesmo, o
professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) considera improvável.
Para Ranulfo, 45, da mesma
maneira que o PFL interpreta que
Serra destruiu a candidatura Roseana Sarney, o PSDB iria interpretar que o PFL e seus aliados
destruíram a candidatura Serra. A
retirada do pré-candidato tucano
significaria então "uma desestabilização irreversível do que resta
do campo governista".
"Aí seria um deus-nos-acuda,
cada um por si, começaria uma
guerra entre o PMDB e o PFL pela
vice. Aí sim, nós iríamos assistir a
uma grossa pancadaria."
Apesar da aversão do PFL a Serra e das resistências que seu nome
enfrenta em setores regionais do
PMDB e em alas do próprio
PSDB, Ranulfo diz que o raciocínio pragmático dos políticos e setores sociais que se aglutinaram
em torno do senador fará com
que sua candidatura seja mantida.
"Ruim com Serra, pior sem ele",
diz, verbalizando o que acredita
ser o pensamento de tucanos, industriais e banqueiros.
"A alternativa que o status quo
tem chama-se José Serra. Isso ficou claro no debate da CNI [Confederação Nacional da Indústria".
Gostando ou não, é ir com ele, ou
então já podem entregar [a eleição" para o Lula [o pré-candidato
do PT, Luiz Inácio Lula da Silva"."
As causas da atual crise na candidatura do PSDB, iniciada com
declarações de tucanos que confirmavam saber da história de
possível pedido de propina na
privatização da Vale do Rio Doce,
seriam as mesmas de crises anteriores, diz Ranulfo.
"A inabilidade do presidente
Fernando Henrique Cardoso e de
Serra em conduzir a construção
de sua candidatura deixou uma
série de arestas. Eu só consigo enxergar assim a facilidade com que
o [ministro da Educação" Paulo
Renato jogou lenha na fogueira."
"Um membro do primeiro escalão do governo que falou: "Olha,
vocês me trataram como um ninguém, então toma o troco'", diz
Ranulfo, comentando as declarações do ministro sobre o caso.
Paulo Renato disse ter ouvido
de Benjamin Steinbruch, que liderou a compra da empresa e se tornou presidente de seu conselho de
administração, que o ex-diretor
do Banco do Brasil e arrecadador
de campanha de Serra, Ricardo
Sérgio de Oliveira, teria pedido
propina em nome de tucanos para ajudar o empresário a montar o
consórcio que comprou a Vale.
Para o cientista político David
Fleischer, 60, professor titular da
UnB (Universidade de Brasília), o
tempo que falta para as eleições
(menos de cinco meses) talvez seja o maior aliado de Serra.
Questionado se considera possível a substituição do nome do
candidato tucano, Fleischer, não
tão categórico quanto seu colega
da UFMG, disse que, "quanto
maior a demora para trocar o
candidato, mais difícil fica para o
novo nome decolar".
"Não é impossível [a troca",
mas, a cada semana que passa, diminui mais essa possibilidade." A
atual crise da candidatura tucana,
segundo ele, se deve ao "estilo
centralizador de Serra, que tem a
tendência de alienar aliados".
A pressão do PFL pela troca do
nome da candidatura tucana seria, assim, menos motivada pelo
desejo de refazer a aliança governista, que pela vontade de afetar
José Serra.
O prejuízo causado por essa
"alienação", segundo o analista,
se faria sentir para o pré-candidato também em outra frente: a da
máquina do governo.
"A pressão do PFL está sendo
sentida na dificuldade de se aprovar a emenda da [prorrogação da"
CPMF no Senado. Justamente em
uma época crucial, a eleitoral, [a
divergência com o PFL" pode
obrigar o governo a aumentar impostos e cortar gastos, o que é
muito infeliz de se fazer em um
ano eleitoral."
Sobre o apoio do setor produtivo e do setor financeiro à candidatura Serra, o analista afirmou
que "é paradoxal que os bancos,
que estão assustados com a queda
de Serra, talvez em seu governo
possam vir a ser prejudicados".
"Se ele der apoio total ao setor
produtivo, isso pode prejudicar
os bancos, que podem passar a
não ter os lucros tão fantásticos
que tiveram nos últimos anos",
diz Fleischer.
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