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RUMO ÀS ELEIÇÕES
José Dirceu afirma que eleitorado de apoio ao governo é "forte" e pede pacto de não-agressão da oposição
Governo deve levar Serra ao 2º turno, diz PT
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT avalia que, apesar da crise
entre os tucanos gerada pelas suspeitas de propina na venda da Vale, o governo tem todas as condições de levar José Serra ao segundo turno da disputa presidencial.
Em entrevista à Folha, o presidente do PT e coordenador-geral
da campanha de Luiz Inácio Lula
da Silva, José Dirceu, 56, diz que o
governo tem hoje a simpatia de
40% do eleitorado -o que poderia alavancar o tucano.
"As forças políticas e empresariais que apóiam este governo e o
eleitorado que sustenta sua política são grandes. Têm condições de
levar um candidato para o segundo turno", diz.
Quanto à união das oposições
no primeiro turno, Dirceu joga a
toalha. Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) serão candidatos, afirma. A prioridade do
PT agora será construir um pacto
de não-agressão, com a divulgação de ações e documentos comuns entre eles, para polarizar nitidamente com Serra.
Folha - O sr. ainda vê o Serra como o grande rival do PT, apesar dos
problemas em sua candidatura?
José Dirceu - O governo, as forças políticas e empresariais que
apóiam este governo e o eleitorado que sustenta sua política são
grandes, independentemente de
quem seja o candidato. Eles têm
condições de levar um candidato
para o segundo turno. Mas não
quer dizer que outro candidato de
oposição além do Lula não possa.
Folha - Qual o alvo prioritário do
PT na campanha?
Dirceu - Eu diria que o eleitorado
que nós queremos atingir são os
jovens, as mulheres e as cidades
com menos de 30 mil eleitores. É
onde temos que dialogar. Desconhecem as nossas propostas ou
têm rejeição a nós.
Folha - Por que isso acontece?
Dirceu - Há uma faixa dos jovens
que não conhece Lula e PT. Quanto às mulheres, ainda estamos
analisando e já estamos tomando
ações com relação a isso. O PT
tem três senadoras, deputadas
destacadas, duas governadoras, a
prefeita da maior cidade da América Latina, histórico de defesa das
mulheres. Mas o PT não expôs isso corretamente à sociedade.
Folha - Uma das medidas para ganhar o voto feminino poderia ser
indicar uma mulher para vice?
Dirceu - A questão de vice está
fora da agenda do PT, só vai entrar em junho. Mas esse [ser mulher" é um critério que vai pesar.
Não necessariamente será o único. Isso, claro, na hipótese de o PT
indicar o vice para o Lula.
Folha - Cite algumas mulheres
que o PT poderia indicar para vice.
Dirceu - Não vou citar. Está fora
da nossa agenda. O vice que está
colocado é o [senador" José Alencar (PL-MG), mas está dependendo de o PL tomar uma decisão.
Folha - A possibilidade de união
das oposições no primeiro turno
ainda existe ou não mais?
Dirceu - Não vamos fazer nenhum movimento de desestabilizar as outras candidaturas. Minha
avaliação é que Ciro e Garotinho
serão candidatos e que nós teremos de construir [uma ponte para" o segundo turno e o próximo
governo. Queremos fazer com
PSB, PPS e PDT um pacto de não-agressão, pronunciamentos e
ações comuns e manter nossas
alianças nos governos.
Folha - É interessante polarizar
com o Serra, por todos os problemas que ele enfrenta?
Dirceu - Nós vamos polarizar
com o governo. Somos oposição.
Não vamos responder às críticas
de Ciro e Garotinho. Não são nossos inimigos, são adversários. Ciro e Garotinho vão ser candidatos, não há nenhum elemento para dizer que vão se retirar. No segundo turno, quero o apoio deles.
Folha - E o PMDB, vai mesmo
apoiar o Serra?
Dirceu - Com essa crise? Vamos
esperar. Continuamos mantendo
relações com todos no PMDB que
querem dialogar com o PT. A candidatura do Serra está em crise, é
o óbvio ululante. Mas o PSDB não
tem outro nome.
Folha - Aécio e Tasso são viáveis?
Dirceu - Não tem tanta diferença
assim. A verdade é que há uma
contradição política na campanha do Serra. Eles são governo ou
não? A ambiguidade prejudica.
Serra é o candidato de uma parcela importante da elite. Acontece
que em setores do empresariado
há uma visão negativa do governo. E alguns grupos econômicos
querem nos cooptar para a agenda deles, que é a do continuísmo,
do fundamentalismo ortodoxo
que dominou o Brasil esses anos.
Nós não vamos aceitar isso.
Folha - Se o PT vai mudar a política que os grupos financeiros apreciam, não é natural então que bancos façam relatórios pessimistas
por causa da subida do Lula?
Dirceu - Estão defendendo os interesses deles, não do Brasil. Temos que olhar é o interesse brasileiro, a política que o Brasil precisa para se desenvolver, para criar
emprego. O que nós vamos fazer é
claro: reduzir juros, distribuir
renda, mudar a política de abertura comercial. Somos outro partido, representamos outros setores,
vamos fazer outra política. Mas
não vamos voltar com a inflação
ou fazer irresponsabilidade fiscal.
Folha - Num dia vocês vão à Fiesp
e no outro o presidente da entidade diz que se o Lula ganhar vai haver estresse? Por que ir então?
Dirceu - Porque nós estamos debatendo democracia. Não vamos
governar o Brasil sem o empresariado. Queremos reduzir preconceito. Não tem problema dizer
que o dia que o Lula assumir vai
ter estresse no empresariado.
Qualquer mudança de governo
cria instabilidade. Se o Serra assumir, vai ter uma série de dúvidas.
Folha - Mas se o Lula ganhar, as
dúvidas serão muito maiores.
Dirceu - Não tem problema. Vamos enfrentar isso.
Folha - Antecipar a divulgação da
equipe econômica para acalmar o
mercado, como já se falou no partido, é uma possibilidade?
Dirceu - É improvável hoje que
isso ocorra. Mas vai depender da
situação política.
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