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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA
"Discurso do medo" de Marta e novas articulações do PT federalizam e acirram a já polarizada disputa entre a prefeita e Serra
Campanha em São Paulo registra inflexão
DA REPORTAGEM LOCAL
A semana que terminou ontem
foi marcada por uma inflexão na
já polarizada disputa entre o tucano José Serra e a prefeita petista
Marta Suplicy pelo comando da
administração de São Paulo.
A federalização da campanha
paulistana, que aparentemente
não interessava aos petistas, reapareceu com força num discurso
que prefeita fez para executivos
da Acrefi (Associação Nacional
das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
Marta resolveu adotar o "discurso do medo" ao afirmar que
uma eventual vitória de Serra
ameaçaria a estabilidade política
no país. A reação do PSDB foi dura, definindo a declaração da prefeita como "chantagem" e acusando o PT de antidemocrático.
Dois outros movimentos mostram que o quadro realmente foi
alterado na semana que passou:
1) o terceiro colocado nas pesquisas Paulo Maluf (PP), segundo
a Folha informou na sexta-feira,
teria fechado um acordo com os
petistas para poupar de ataques a
prefeita e direcionar suas baterias
contra Serra; 2) Luiza Erundina
(PSB) também resolveu eleger como seu adversário direto o tucano
e já tratou de deixar isso bem claro em seu programa de TV.
Não está muito claro ainda o
que levou a prefeita a adotar o
"discurso do medo", tática, aliás,
usada pela campanha presidencial de Serra em 2002, quando
usou a atriz Regina Duarte se declarando com medo de uma eventual vitória do então candidato
petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Pistas
Mas há algumas pistas que merecem atenção. A sensação de que
as coisas não iam tão bem como a
propaganda alardeava atingiu a
cúpula da campanha de Marta
ainda na semana anterior, com a
divulgação da pesquisa Ibope,
que mostrava Serra com 34% das
intenções de votos e Marta com
30%. Embora a rigor fosse um
empate técnico (a margem de erro do levantamento era de 3,5
pontos percentuais), era inegável
que o adversário estava subindo.
Baseados também em pesquisas
internas, os petistas verificaram
que a pavimentação da estrada de
Serra estava pronta, que, de agora
em diante, a tendência é o tucano
ganhar altura e que, para evitar
que isso ocorra, ele precisa ser
atingido em pleno vôo, sob o risco
de pousar com tranqüilidade e
grande folga no segundo turno.
Na avaliação dos coordenadores da campanha petista, um dos
principais fatores que possibilitaram a ascensão de Serra atende
pelo nome de Geraldo Alckmin.
Com uma imagem de bom moço,
que agrada sobretudo às mulheres, e com a massificação da propaganda institucional do governo
do Estado, Alckmin vem atingindo dois objetivos ao mesmo tempo: içar Serra e ganhar combustível para sua pretensão de se lançar
à sucessão de Lula, em 2006.
O horário eleitoral tucano, então, passou a mostrar imagens de
Serra ao telefone, de um lado,
Alckmin, do outro, e a locução ao
fundo afirmando que o primeiro
na prefeitura e o segundo no governo do Estado possibilitarão ao
município melhores parcerias.
Em contrapartida, o PT lançou
o líder do governo Lula no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
para dizer que os paulistanos estariam melhor com uma candidata próxima ao presidente da República. Estava definida, então, a
federalização da campanha.
Os petistas avaliaram, num primeiro momento, que a tarefa de
atacar Serra não deveria caber à
candidata Marta Suplicy, que tem
treinado e se esforçado para
transparecer serenidade. Então, o
PT nacional, por quem os integrantes da campanha da prefeita
não tem grande afinidade, foi chamado a contribuir, tudo em nome
da reeleição de Lula em 2006.
Nessa circunstância, apelou-se
para a aliança do governo Lula em
nível nacional com PSB e PMDB,
coligados em torno da candidatura Erundina em São Paulo, e, no
caso de Maluf, lembrou-se que,
embora em marcha lenta, a CPI
do Banestado no Congresso ainda
é capaz de atropelar muita gente.
Desde a última quarta-feira,
Erundina e Maluf tem evitado
atacar Marta e definiram o rival
tucano como alvo preferencial.
Erundina passou a falar de vampiros, numa alusão à ação da Polícia Federal que prendeu servidores do Ministério da Saúde envolvidos em fraudes em licitações.
A preocupação no QG de Marta,
agora, é impedir que Serra atinja
40% das intenções -ele aparece
com 37% na pesquisa Datafolha
divulgada hoje, contra 33% da
prefeita. Se isso acontecer, o PT
acredita que pode começar a
ocorrer um movimento de voto
útil, que dificultará ainda mais a
vida de Marta.
(CHICO DE GOIS)
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