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RODA DA FORTUNA
Deputado federal, que com o filho recebeu R$ 811 mil em prêmios, diz que "desdobrava" fórmula em computador
Sortudo afirma ser "apostador de futebol"
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado federal Francisco
Garcia Rodrigues (PP-AM), 54, e
seu filho são dois dos mais felizardos apostadores dos jogos federais. Entre 1996 e 1998, eles receberam juntos R$ 811 mil. Tiveram
43 bilhetes premiados em 21 concursos diferentes, principalmente
na loteria esportiva federal. O deputado atribui sua sorte ao "envolvimento" que tinha com futebol e ao uso do "computador". A
seguir, a entrevista.
(RV)
Folha - Segundo o levantamento
da Receita e do Coaf, o seu nome e
de seu filho aparecem como ganhadores várias vezes das loterias...
Francisco Garcia Rodrigues - [Interrompendo]Quando foi isso?
Folha - O período em que o sr. ganhou? O sr. não se recorda de ter
ganho?
Rodrigues - Eu não, eu quero ir
atrás desse prêmio, por isso que
estou perguntando [rindo].
Folha - O sr. confirma seu CPF?
Rodrigues - Não, me dê o valor e
o mês que eu te digo. Porque eu
quero ir atrás, tu estás com o documento, eu quero ir atrás.
Folha - Março de 97, outubro...
Rodrigues - Ah, isso daí já faz
tempo. Está na declaração nossa
[de Imposto de Renda]. Isso daí
tu tiras da declaração. Pensei que
fosse agora. Pegue na minha declaração de 97 que tem. Loteria esportiva, né? Mas são prêmios pequenos.
Folha - O total deu em torno de R$
450 mil.
Rodrigues - O quê? Mas em
quantos anos?
Folha - 96, 97...
Rodrigues - É que teve um prêmio grande. Exatamente. Aí depois joguei cinco semanas seguidas, perdi e parei de jogar. Pensei
que tinha um prêmio novo em
meu nome. É quando eu estava
no Rio Negro, com um clube, a
gente estava envolvido em futebol, aí jogava na loteria esportiva.
Folha - O sr. foi presidente do Rio
Negro?
Rodrigues - Não, fui presidente
do Ideal Clube, mas o Rio Negro
era o meu time. Os prêmios são
pequenos, só um que é grande. A
gente jogava toda semana, cento e
poucos reais. Aí não deu, passou
cinco semanas sem acertar, nós
paramos de jogar. Também a loteria... Você joga, o governo fica
com 67%. Aí não é mais negócio
para o jogador. Quando eu fui ver,
fazer a análise. Pô, o governo te leva tudo. O jogador leva 30 e poucos por cento só. Aí parei.
Folha - No período 96-97, o sr. teve um ótimo desempenho, acertou
várias vezes. A que o sr. atribui esse
desempenho?
Rodrigues - Ah, eu acompanhava os jogos. Você, para fazer uma
reportagem, não precisa dominar
o assunto? Eu estava acompanhando o esporte.
Folha - Para um apostador se dar
bem na loteria, ele precisa acompanhar o esporte, que vai acertar várias vezes?
Rodrigues - Claro. Para qualquer
negócio. Mas você precisa ter sorte também. Agora, se você vê que
o negócio pode te dar prejuízo, aí
você não joga. Quando eu caí na
realidade, que o governo ficava
com 67%, eu digo, não, meu dinheiro, não, eu quero jogar para
ganhar, não para perder.
Folha - Pelo levantamento, o seu
filho também foi muito bem no período.
Rodrigues - Oi?
Folha - Seu filho, ele acertou várias vezes.
Rodrigues - Ah, mas ele joga, joga bola. Futebol. Parou também
porque você perder toda semana
R$ 200, R$ 250, chega no final do
mês você perdeu mil e poucos
reais. Aí não é negócio. A gente fazia um jogo que era uma fórmula:
a cada quatro tinha que acertar
um. Tinha um desdobramento
que o sujeito fazia, para poder cercar e ter mais chances. Você desdobrava no computador uma fórmula que você fazia quatro duplos e acertando um duplo, você
matava os quatro. Coisa de doido
mesmo, apostador de futebol.
Folha - O seu filho também parou
de apostar?
Rodrigues - É claro, claro. Aqui
nós temos uma concessionária
Chevrolet, em Manaus, uma Citroen, temos jornal, televisão, nós
somos concessionários do João
Saad [Rede Bandeirantes] em
Manaus há 30 anos. Por que eu teria de ficar jogando?
Folha - O sr. gastava quanto por
ano com os jogos?
Rodrigues - Rapaz, eu não sei te
dizer. Pela fórmula dava uns R$
400, R$ 500 por semana. A gente
jogava toda semana. A gente ganhou mais do que jogou. Porque
você tem que fazer o cálculo do dinheiro que você deixou lá atrás.
Porque fica como lucro seu. Porque, de qualquer jeito, você jogando no final do ano R$ 20 mil, tá, aí
você ganha R$ 50 mil. Aí você ganhou R$ 50 mil mais o Imposto de
Renda que está na fonte. Mas
quando tu começas a perder na
seqüência, tu só insistes se for
burro. Porque o azar começa a bater na sua porta.
Folha - O sr. não recomenda que
as pessoas continuem jogando?
Rodrigues - Não, com essa taxa
de imposto que o governo está fazendo, não é negócio. Negócio é
jogar no bicho, como diz o cabra.
Porque o bicho só te tira 20%. O
camarada, pô, vai jogar R$ 100 para ganhar R$ 35, onde se viu um
negócio desses?
Folha - É um mau negócio?
Rodrigues - É um mau negócio.
O governo, para melhorar a loteria esportiva, devia baixar as taxas
de impostos.
Folha - Mas deputado, o sr. e seu
filho ganharam quase R$ 1 milhão,
como é um mau negócio?
Rodrigues - Não, não, você deve
estar com o número errado. Se
você puxar a declaração de Imposto de Renda, vai ver o número
certo. Você deve ter aí.
Folha - E quanto foi?
Rodrigues - Ah, não posso te dizer agora. Eu quero que você puxe
a declaração de Imposto de Renda, lá está certinho, porque é o
contador da empresa que faz, e toda vez que ganhava na loteria eu
deixa lá pra ele o canhoto. Até para ganhar o imposto. (...) Do jeito
que você está colocando. É chato,
você está duvidando, como se eu
nunca tivesse jogado na loteria.
Como aconteceu, o caso do João
Alves [ex-deputado que disse ter
ganho 200 vezes na loteria]. Sou
comerciante, empresário há 40
anos. Você pesquise, vai à loteria
onde eu fazia meu jogo toda semana, e veja primeiro.
Folha - Onde o sr. apostava, como
era o nome da lotérica?
Rodrigues - Ah, não sei o nome.
Folha - Não lembra também?
Rodrigues - Não lembro, não...
Era a loteria na 10 de Julho, na rua
10 de Julho, lá funcionava. O nome eu não sei. Não lembro. Isso
faz oito anos.
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