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Sarney insiste em dividir trâmite de propostas
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Congresso, José
Sarney (PMDB-AP), ainda não
abandonou o projeto de começar
a tramitação da reforma tributária pelo Senado. Ele e o presidente
da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), que têm posições divergentes sobre o tema, concordaram com uma trégua para retomar o assunto quando assentar a
poeira da polêmica.
"Temos problemas demais no
momento", diz Sarney. No Senado, a idéia de receber em primeiro
lugar a reforma tributária é consensual. Além de acelerar as reformas -a da Previdência começaria a tramitar concomitantemente
pela Câmara-, a experiência de
duas dezenas de ex-governadores
na Casa poderia ser decisiva na
hora de dirimir conflitos.
Apesar do ceticismo de muitos
congressistas, Sarney acredita que
as duas reformas podem ser aprovadas ainda neste ano. Ele pessoalmente está disposto a jogar o
peso de seu prestígio na empreitada. E no apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
quem apoiou já no primeiro turno das eleições de 2002. No comando do Congresso, o apoio de
Sarney, que teve a ajuda de Lula
para se eleger, é decisivo para
aprovação das reformas.
Valendo-se da experiência de
quem já sentou por cinco anos
(85-90) na cadeira hoje ocupada
por Lula, Sarney julga precipitadas as críticas feitas sobretudo ao
desempenho da área social do governo: "É preciso ter consciência
de que o governo está começando. E as críticas servem de motor
para que as coisas aconteçam".
No momento em que a oposição
se articula para combater o governo no Congresso, ele adverte: "É
engano achar que a popularidade
do Lula vai erodir. Ele é carismático e tem uma trajetória bem-sucedida". E faz um vaticínio: "Na
eleição de 2006, não vejo ninguém
que possa disputar com ele".
Para Sarney, os ocupantes do
Planalto desde a redemocratização até agora, inclusive ele próprio, foram lideranças "ocasionais". Este não seria o caso de Lula, que, no ponto de vista do presidente do Congresso, representa o
fim de um "ciclo republicano",
que se completa com a chegada de
um operário ao poder.
O presidente do Senado acredita que as novas lideranças surgirão a partir de Lula. "A história
não volta. É um processo social.
Revolução social. Foi por isso que
apoiei o Lula. Eu estava entendendo esse processo. Pensei: por que
vamos represar essas forças todas? Isso significa otimismo."
"O Brasil entrou num caminho
extraordinário de sua história."
No entendimento de Sarney, a
oposição ainda não entendeu claramente esse processo: "Eles estão perplexos. Não sabem o que
ocorreu. Ninguém acreditava que
o Lula iria ganhar a eleição".
Para Sarney, Lula "atenua as
tensões sociais". Uma espécie de
colchão amortecedor. "Essas reuniões que ele faz têm resultado: as
pessoas que vão se sentem prestigiadas e co-responsáveis. Hoje a
ameaça que pesa sobre nós é a situação internacional", diz, referindo-se à guerra do Iraque.
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