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JANIO DE FREITAS
O avesso da vitória
A facilidade , até um tanto
ridícula, com que os superarmados americanos entraram
em Bagdá está vista apenas como
vitória militar de Bush/ Blair,
que de fato foi, mas tem um lado
de derrota política e moral que,
obscurecida no alívio e na euforia, tende a pesar no futuro de
ambos.
A absoluta falta de resistência
militar em Bagdá constituiu um
desmentido desmoralizador a tudo o que Bush e Blair disseram,
como pretensa justificativa para
transgredir os princípios das Nações Unidas e atacar o Iraque. Já
com a cidade invadida, ainda dizia Blair logo no início da transmissão de TV especial para os
iraquianos: "Não desejávamos a
guerra. Mas, ao se recusar a abrir
mão de suas armas de destruição
em massa, Saddam não nos deixou escolha senão agir".
Nem é mais o caso de indagar
pelas armas de destruição em
massa. Bagdá, que levava Bush a
advertir para uma batalha difícil
ali, e guerra longa, não teve a defendê-la nem as armas vulgares.
Nem franco-atiradores capazes
de aparentá-la, como conviria à
dignidade de uma capital, um
pouco menos fácil do que as demais cidades. O Iraque, passados
12 anos de embargo econômico,
estava incapacitado. Os anos de
espionagem feita dia e noite, por
aviação e pela CIA, não deram
tal informação aos governos
americano e inglês?
A vitória fácil vale, contraditoriamente, como denúncia de
Bush e Blair. E seus adversários
políticos, os internos e os de tantos outros países, já sabem que
têm um armamento poderoso,
para uso na ocasião oportuna. A
esta altura, nem o aparecimento
de armas de destruição em massa mudaria alguma coisa, porque ninguém acreditaria que
não fosse mais uma adulteração.
O mundo vê que Bush e Blair não
causaram a queda de um regime
ditatorial: provocaram a ruína
de um país e seu povo.
Curiosidade
O combate aos traficantes e à
bandidagem em geral tem curiosidades que explicam muito da
situação, mesmo que não respondidas.
Tal como no governo de Anthony Garotinho, quando ocorre
uma investida mais desaforada
dos bandidos, em represália a alguma providência, a PM do governo de Rosinha Garotinho invade uma favela e prende ou mata um chefão do tráfico. Foi o que
fez há quatro dias, com a morte
do chefão do tráfico e de arruaças
intimidatórias a partir de uma
favela entre Copacabana e Ipanema. Se, em resposta a tiros em
lojas ou queima de ônibus, a PM
pode ir buscar um chefão e o traz
preso ou morto, por que não o foi
buscar antes, deixando-o à vontade até que tornasse indispensável uma satisfação pública das
chamadas autoridades?
Não há resposta disponível.
Apenas se tem a prova, supondo-se que fosse necessária sua existência, de que não é preciso esperar. No governo de Benedita, o
maior êxito foi o das prisões de
bandidos do tráfico e colegas seus
infiltrados na PM.
Comando
O pedido do líder petista Nelson
Pellegrino ao ministro Antonio
Palocci, de um esforço contrário
à idéia de que o governo se sujeita a determinações do FMI, é
uma demonstração perfeita de
quanto a prometida transparência ficou opaca.
O pedido foi feito na reunião
em que Palocci falou aos deputados sobre a necessária aprovação
da Lei de Falências -cobrada
pelo FMI. Também sobre a próxima remessa ao Congresso da reforma da Previdência, que Luiz
Inácio Lula da Silva disse mandar até maio -e que o FMI deu
prazo até junho para estar no
Congresso. E Palocci falou ainda
da reforma tributária, que há
três dias Lula disse chegar ao
Congresso "no dia 16 ou 17" agora -e que tem o mesmo prazo
dado pelo FMI.
Não só a determinação de providências, mas até os prazos estão ditados pelo FMI, mas nem os
comandos petistas estão informados, quanto os 52 milhões que
votaram por uma nova concepção de governo.
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