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NA EUROPA
Brasileiros pedem emprego
Lula enfrenta críticas e romaria em Portugal
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva passeou ontem, inadvertidamente, por uma espécie de "pátio
dos milagres" brasileiro em Portugal: a cada passo, trombava
com brasileiros emocionados e
trêmulos por encontrá-lo, mas
chorosos pelos problemas que
enfrentam e pelo país que deixaram.
Por isso, o presidente acabou levando 40 minutos para percorrer
os meros 300 metros da antiga rua
Direita (hoje Frederico Arouca), o
calçadão do porto de Cascais, a
cerca de 30 km de Lisboa.
Mal saiu do Hotel Albatroz, refúgio da família real portuguesa
no século 19, em cujo restaurante
comeu bacalhau, Lula deu de cara
com um rapaz do Paraná, que o
abraçou, tirou fotos com ele e fez
o pedido que poderia ser a síntese
da caminhada: "Melhora o Brasil
que eu volto".
Ao lado de Lula e de sua mulher,
Marisa Letícia, o presidente de
Portugal, Jorge Sampaio (socialista), e o primeiro-ministro, José
Manuel Durão Barroso (conservador), foram somente atores
coadjuvantes do pequeno banho
de multidão de que o presidente
brasileiro participava.
Abraços e pedidos
Parecia uma resposta às críticas
do semanário "Expresso" e do
jornal "Público", para os quais
"faltou povo" e faltou festa à visita
de Estado do presidente brasileiro
a Portugal, ontem encerrada.
De cada três brasileiros que paravam Lula para cumprimentá-lo
ou tirar fotos, dois estavam em situação irregular, alguns desempregados.
Caso da paraibana Maria do Socorro Araújo, que se apresentou
como professora e chorou copiosamente no ombro de Lula, pedindo emprego. O presidente
chamou o embaixador brasileiro
José Gregori, apresentou-o a Maria do Socorro e pediu que ela o
procurasse depois.
Nem só de desemprego e clandestinidade era feito o "pátio dos
milagres" da rua Direita de Cascais. Houve também a queixa de
um bioquímico, que está fazendo
pós-graduação em Portugal, e reclamou de Lula da dificuldade de
encontrar trabalho nas universidades brasileiras.
De longe, na janela do restaurante "Gordinni", outro brasileiro
acenava timidamente para o presidente, com o uniforme do restaurante no corpo e o desenho da
bandeira brasileira na bandana.
Lula deu autógrafo até em balão
do McDonald, antigo demônio da
esquerda, levado pela menina Flávia Guimarães, 6 anos, para alegria muito maior da mãe, Áurea,
que se apresentou como eleitora e
militante do PT.
Atração turística
Nem tudo eram dramas no calçadão. Turistas também pediam
fotos e autógrafos do presidente,
que, na agenda de uma estudante
paulista, escreveu, como se ainda
estivesse na campanha de 1989:
"Sem medo de ser feliz".
Quando a caminhada chegou
ao fim na praça Costa Pinto, outra
turista pediu uma foto com ele,
mas, rispidamente, avisou: "Eu
não votei em você". Deu-lhe as
costas e foi-se embora.
Lula despediu-se dos dois mandatários portugueses, visivelmente encantados com o colega brasileiro, a ponto de Durão Barroso
ter dito, como demonstração da
humildade de Lula: "Ele sabe que
o Brasil é maior que ele".
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