|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO PLANALTO
Berzoini e Benedita trocam "fogo amigo"
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula começa a
atingir um grau de harmonia jamais visto. Há ministros
que nunca discutem. Na verdade,
nem se falam. Respiram uma atmosfera de civilizado desacordo.
É o caso de Ricardo Berzoini (Previdência) e Benedita da Silva (Assistência Social).
A geografia do poder impôs a
Berzoini e Benedita uma proximidade administrativa que os
condenou a um distanciamento
tragicômico. Compartilham, em
silenciosa algazarra, a gestão da
filantropia governamental. Vivem trocando tiros. Usam armas
com silenciador.
Chefe da grande família petista,
Lula viu-se na contingência de
ampliar o primeiro escalão. Construiu na Esplanada, a toque de
caixa, pequenos puxadinhos. Só
para abrigar velhos amigos.
Acomodou Benedita numa pastinha chocha. Para atenuar a insignificância do ministeriozinho,
enxertou-lhe no organograma o
CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social). Lida com as instituições ditas filantrópicas.
São entidades privadas que, em
troca de isenção de tributos, deveriam socorrer a plebe. Embora
nem sempre resulte em filantropia genuína, a generosidade do
CNAS drena bilhões dos cofres de
Brasília.
Só da Previdência, de cuja estrutura o conselho filantrópico foi
arrancado, são sorvidos anualmente R$ 2,1 bilhões. Daí que, por
precaução, Lula manteve nas
mãos de Berzoini, dono da máquina arrecadatória do INSS, a
incumbência de fiscalizar o sistema.
Logo que assumiu, Berzoini
promoveu no setor filantrópico o
que seus auxiliares chamam de
"faxina". Uma das áreas "vassouradas" foi a Consultoria Jurídica
da Previdência. A repartição funciona como filtro de decisões do
CNAS.
Impressionado com a presença
de escândalos filantrópicos nas
paginas de jornal, Berzoini avaliou que, sob FHC, o filtro era demasiadamente poroso. Substituiu
o consultor jurídico Antônio
Glaucius de Morais. No rastro dele, saiu Indira Ernesto Silva Quaresma, segunda na hierarquia da
Consultoria.
Berzoini confiou o setor jurídico
de sua pasta a Jefferson Carús
Guedes. Dono de um rigor técnico
que se materializa na cassação de
benefícios tributários de gigantes
do ramo filantrópico, Carús Guedes abespinhou-se com alguns pareceres que encontrou nos arquivos da consultoria. Encaminhou-os ao Ministério Público.
Entre os documentos colecionados por Carús Guedes há pareceres que trazem as assinaturas de
Glaucius e Indira. Encontram-se
sob análise de procuradores que
compõem uma força-tarefa dedicada a investigações filantrópicas.
Nos últimos 15 dias, os consultores que Berzoini considerou "inconfiáveis" foram aquinhoados
no "Diário Oficial" com novos
cargos de confiança. Benedita recontratou-os.
Glaucius chefia agora a Consultoria Jurídica da pasta da Assistência Social. Indira é a sua segunda. As nomeações passaram
pelo crivo do ministro José "todo-poderoso" Dirceu (Casa Civil).
Indira considera "injusto" o juízo que se faz do trabalho dela. Diz
ter assinado mais pareceres favoráveis à Previdência do que às entidades filantrópicas. Acrescenta:
"Não fui exonerada da Previdência, pedi para sair".
Glaucius diz ter assinado, entre
2000 e 2002, 55 pareceres sobre filantropia. Desses, 42 resultaram
em cassações. "O Jefferson [Carús
Guedes] trabalha com a minha
equipe. E utiliza pareceres do
meu tempo para cassar certificados de filantropia."
Os ministros seguem atirando
um no outro. Berzoini tenta convencer o Planalto da conveniência de forçar Benedita a rever as
nomeações. Benedita luta para
subtrair de Berzoini o poder fiscalizatório sobre a filantropia. A
despeito dos silenciadores, o "fogo
amigo" petista tornou-se ensurdecedor.
PS.: Antes que as reformas de
Lula alcancem o legado do companheiro Vargas, saio em férias
por 30 dias.
Texto Anterior: Elio Gaspari: A Infraero acha que é dona da silhueta do Rio Próximo Texto: Tributária: Governo tenta atrair Estados com arrecadação Índice
|