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PT SOB SUSPEITA
Sócia de agência de publicidade que trabalhou para Catanduva afirma ter feito material para Rui Falcão em 98
Gestão do PT pagou campanha, diz empresária
DO ENVIADO ESPECIAL A CATANDUVA
A empresária Laede Lia de Moraes, 29, afirma que a Prefeitura
Municipal de Catanduva, administrada pelo PT desde 1997, custeou material para a campanha a
deputado federal de Rui Falcão
(PT), que hoje é secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo.
Conhecida como Lia, a empresária é uma das sócias da empresa
UP Propaganda e Marketing S/C
Ltda., que detinha a conta de publicidade da Prefeitura de Catanduva (a 385 km de São Paulo) em
1998, quando Rui Falcão concorreu ao cargo de deputado federal
-e não se elegeu.
O prefeito de Catanduva, Félix
Sahão Júnior, confirma ter apoiado Falcão para deputado federal
em 1998, mas nega com veemência que dinheiro público tenha sido usado para pagar material da
campanha (leia texto ao lado).
Criada em 1996, a UP Propaganda foi contratada pela Prefeitura
de Catanduva, por meio de uma
licitação, em 1997, e prestou serviços ao município por três anos.
Oficialmente, a empresa pertence a Laede Lia de Moraes e ao publicitário Edson Antunes Campos. Na prática, porém, Campos
era sócio do marido de Lia, Pedro
Lyrio. A empresária era responsável pela contabilidade da agência.
Campos retirou-se da sociedade
em 2000 para trabalhar na campanha à reeleição do prefeito Félix.
Mas sua saída ainda não foi formalmente registrada. Hoje ele é
coordenador de publicidade da
Secretaria de Comunicação da
Prefeitura de São Paulo.
A empresária concordou em
dar entrevista sobre o caso após a
Folha ter obtido acesso à documentação da agência de publicidade, apreendida a pedido do Ministério Público do Estado de São
Paulo em Catanduva.
Tabela da Copa
Entre os documentos apreendidos, há uma nota fiscal, datada de
2 de julho de 1998, no valor de R$
1.400, emitida por Tarrafa Gráfica
e Editora Ltda. para a UP Propaganda, referente à impressão de
10 mil folhetos (veja reprodução
nesta página). De acordo com Lia,
a nota refere-se à impressão de 10
mil "tabelinhas" da Copa do
Mundo de 98 (leia texto abaixo).
O material traz fotos do prefeito
Félix Sahão Júnior e de Falcão (veja reprodução ao lado).
Segundo Lia, para encobrir o
pagamento das "tabelinhas", a
Prefeitura de Catanduva emitiu
uma ordem de serviço para a UP
Propaganda, para "criação e produção de cartilha educativa sobre
água e saneamento".
Depois de fazer o serviço -a
confecção das "tabelinhas", segundo Lia-, a UP Propaganda
emitiu uma nota fiscal para a Prefeitura de Catanduva, referente ao
pagamento da nota fiscal da Tarrafa Gráfica e Editora Ltda., no valor de R$ 1.610 -R$ 1.400 da nota
da Tarrafa e mais R$ 210 de comissão para a agência.
A Prefeitura de Catanduva confirma que pagou a nota enviada
pela UP Propaganda, mas diz que
o trabalho realizado foi o encomendado pela ordem de serviço
(leia texto nesta página).
Os responsáveis pela Tarrafa
disseram à Folha que não têm registro do serviço, que foi realizado
há mais de quatro anos.
Faixas
Também há, entre os documentos apreendidos, notas fiscais datadas de 15 de setembro de 1998
referentes à confecção de faixas
plásticas pela empresa Joel Pereira Propaganda, de Sorocaba (SP),
no valor total de R$ 16.500.
Lia afirma tratar-se de faixas da
campanha de Rui Falcão, cuja arte-final teria sido feita por sua empresa. Ela indica, entre os documentos apreendidos, um comprovante de depósito no valor de
R$ 15 mil, feito na conta de Flávio
Dini, dono de uma outra empresa
de confecção de faixas plásticas de
Sorocaba. O depósito seria parte
do pagamento das faixas.
Dini disse à Folha que, em virtude de os fatos terem ocorrido há
mais de quatro anos, ele não se
lembra de ter trabalhado para a
UP Propaganda ou de ter confeccionado faixas para Rui Falcão.
Mas confirma que costumava ser
subcontratado por Joel Pereira
em 1998. A empresa de Joel Pereira fechou e ele não foi localizado.
Novamente, segundo Lia, o pagamento das faixas teria sido feito
pela Prefeitura de Catanduva.
Mas, dessa vez, de acordo com a
empresária, teria sido utilizada
uma transação mais complexa
para justificar a despesa pública.
Lia afirma ter recebido notas fiscais frias, da empresa A3 Artes
Gráficas Ltda. ME, para justificar
suas despesas com faixas plásticas. A nota entregue pela UP Propaganda à prefeitura faz referência às notas fiscais da A3.
Três ordens de serviço justificariam os pagamentos. Uma é sobre
a "criação e produção da campanha "Vida Nova'". Outra diz respeito a "criação e produção da
campanha da "Fecic", logomarca e
outras peças". A terceira pede
"cruzamentos especiais, tabulação, análise e formação de banco
de dados sobre pesquisas de avaliação do desempenha da administração". Segundo a Prefeitura
de Catanduva, os serviços foram
efetivamente realizados. A UP recebeu R$ 2.475 de comissão.
(ROBERTO COSSO)
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