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Lula deve elevar tom de críticas ao governo FHC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os primeiros programas de TV
do PT no segundo turno deverão
elevar o tom das críticas ao governo FHC, mas num nível de agressividade menor do que o planejado pela equipe de marketing do
tucano José Serra.
O programa de amanhã também exibirá os apoios de Ciro Gomes (PPS) e de Anthony Garotinho (PSB) a Luiz Inácio Lula da
Silva e, ao longo da semana, venderá a idéia de que o candidato
petista tem mais condições políticas e um perfil conciliador que o
tornariam mais apto a dirigir o
país do que Serra.
Até o presidente Fernando
Henrique Cardoso, que deveria
ser poupado de ataques pessoais,
pode entrar na mira do PT no horário eleitoral. O partido considerou corretas e esperadas as intensas articulações que FHC fez a favor de Serra na semana passada.
Mas julgou que, depois de o presidente ter se mantido equilibrado no primeiro turno, ajudou Serra a fazer terrorismo contra Lula
ao determinar que o presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
insinuasse na quarta que o fator
Lula seria o maior responsável pela alta continuada do dólar.
Ao lado do publicitário Duda
Mendonça, Lula e o presidente do
PT, o deputado federal José Dirceu (SP), decidiriam até hoje o
tom dos ataques. Para responder
à crítica do tucano de que "quem
conhece o PT não vota no PT", citando o desempenho abaixo da
média nacional obtido por Lula
no Rio Grande do Sul, Estado governado pelo PT, Duda, se optar
pela linha dura, deverá responder
mais ou menos o seguinte:
"Quem conhece o governo do
PSDB não vota em Serra", numa
referência aos cerca de 20 milhões
de votos que Lula teve a mais do
que o tucano no primeiro turno.
Um telefonema de um ministro
de FHC a Dirceu na quinta-feira
contribuiu para refazer pontes
entre o presidente e o partido. E a
dianteira de 26 pontos percentuais de Lula sobre Serra na pesquisa Datafolha divulgada hoje
deverá contribuir para petardos
mais leves, a fim de transmitir a
idéia de que quem quer briga é
Serra. Avalia-se no PT que, ao bater muito forte, o tucano correrá o
risco de ver o tiro sair pela culatra.
Até receberem na sexta pesquisas internas mostrando dianteira
de cerca de 25 pontos percentuais
sobre Serra, o ânimo dos petistas
era revidar no mesmo tom, especialmente após as declarações de
Serra de que uma vitória de Lula
levaria o país a um crise econômica grave no prazo de três meses.
Os tucanos também compararam
Lula a Hugo Chávez, presidente
venezuelano que enfrentou seguidas crises institucionais.
O publicitário Duda Mendonça,
marqueteiro de Lula, recusou-se a
comentar a linha do programa,
sob a alegação de que só falará
"depois do final do segundo turno". A Folha, porém, apurou com
coordenadores de campanha que
Duda ainda testaria hoje dois tipos de formato para o programa.
A tendência era apresentar a
fórmula considerada exitosa no
primeiro turno, com a tradicional
abertura de Lula em meio a dezenas de petistas que trabalharam
na formulação de suas propostas
de governo. Com 10 minutos para
cada um dos dois programas diários, Duda acrescentaria mais doses de emoção do que pôde na
primeira fase, quando tinha um
tempo bem menor. Deverá ter
música nova, além de mais peças
de impacto emocional e de "reportagens" sobre mazelas sociais.
A alternativa seria reformular a
abertura e também outros bordões, como o "Agora é Lula".
Era consenso, porém, que deverá continuar a haver ênfase nas
propostas de Lula, qualificando o
candidato e rebatendo a acusação
tucana de que o petista quer fugir
de debates na emissoras de TV.
O partido deverá ainda apresentar quais seriam as suas cinco reformas prioritárias. Pela ordem,
elas são a tributária, a trabalhista,
a agrária, a previdenciária e a política. O PT dirá, por exemplo, que
FHC falhou na aprovação de uma
reforma tributária e que Lula não
falhará, articulando um pacto nacional para aprová-la.
Para vender a capacidade de implementar essas reformas, o PT
mostrará os apoios de Ciro e Garotinho. O primeiro gravou participação em São Paulo. Garotinho,
que chegara a dizer que não gravaria aparição para o horário eleitoral, gravou anteontem, no Rio.
A fim de reforçar o argumento
de maior capacidade política, o
PT usará o fato de ter eleito a
maior bancada na Câmara e de ter
recebido apoios inesperados no
segundo turno, como o do PTB, e
insistirá na tese de que Lula teria
mais condições para unir o país.
Serra seria apresentado como
um destruidor de reputações e desagregador, cuja palavra de ordem é "confronto" e não "união".
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