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Serra vai tentar debater e mirar gestões petistas
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os programas de José Serra no
horário eleitoral gratuito devem
insistir em chamar Luiz Inácio
Lula da Silva para o debate, na
tentativa de "iluminar", conforme
expressão de um dos coordenadores tucanos, as experiências administrativas do PT.
Premida por uma desvantagem
de 26 pontos percentuais em relação ao adversário, de acordo com
o Datafolha publicado hoje, a propaganda de Serra será necessariamente agressiva. Mas, segundo o
candidato, sem ataques à vida privada de Lula. "Eu seria incapaz de
uma coisa dessas", disse o tucano
a um interlocutor recentemente.
Além da exigência das circunstâncias, a campanha de Serra se
sente liberada para adotar uma linha de confronto mais aberto
porque, à diferença do primeiro
turno, não há risco de "engordar"
um terceiro candidato caso se revele bem-sucedido o esforço para
tirar votos de Lula.
Na fase anterior, a ofensiva contra o petista no horário eleitoral
gratuito foi interrompida quando
estrategistas tucanos sentiram
que Ciro Gomes (PPS) e principalmente Anthony Garotinho
(PSB) seriam os beneficiados.
A insistência em provocar Lula
para participar dos três debates
programados por redes de televisão para o segundo turno cresceu
junto com os sinais, emitidos por
petistas desde a votação de domingo passado, de que o líder das
pesquisas não estaria disposto a
participar de tantos programas,
sob o argumento de que resta
pouco tempo de campanha e é
preciso viajar pelo país.
No meio da semana, o próprio
Lula declarou que confirma presença apenas no debate da Rede
Globo, a três dias da eleição.
Nizan Guanaes, publicitário de
Serra, tem dito que Lula não pode
mais passear de "Rider" na disputa pela Presidência da República.
No debate, direto ou por meio
do horário gratuito, a equipe de
Serra acha que o tucano leva vantagem porque seria "mais consistente". Reivindicar debates constantemente é também uma forma
de insinuar despreparo do adversário, que estaria com "medo" de
enfrentar Serra sem o auxílio de
outros dois oposicionistas batendo no candidato do governo.
Além disso, o tucano quer debates para explorar com maior contundência supostas contradições
e ações administrativas do PT.
A pergunta que Serra fez a Lula
sobre o preço da tarifa de ônibus
em São Paulo, no debate de primeiro turno da Globo, foi um
aperitivo: agora prefeituras e Estados controlados pelo PT devem
virar atração no horário tucano.
A campanha recolheu farto material sobre o assunto ainda no
primeiro turno. Peças foram gravadas e testadas em grupos de discussão, as chamadas pesquisas
qualitativas, mas pouco disso chegou ao ar. Agora deverá chegar.
A idéia é usar as administrações
para estabelecer contradições entre discurso e prática, desmontando o "modo petista de governar".
O desentendimento entre o governo do Rio Grande do Sul e a
Ford pode ser usado, por exemplo, para dizer que se o PT chegar
à Presidência os problemas serão
mais graves: a empresa insatisfeita não trocaria um Estado por outro; poderia deixar o país.
Além de insistir nos debates e
centrar fogo nas administrações
petistas, a campanha de Serra reuniu material para, se julgar adequado, tentar desqualificar a
união dos candidatos já eliminados em torno de Lula. Foram resgatadas declarações de Garotinho
e Ciro contra o petista.
A votação obtida pela oposição
para o Congresso e para os governos estaduais levou a campanha
tucana a concluir que foi correta a
estratégia de pouco exibir o presidente nos programas do primeiro
turno -FHC esteve apenas na estréia e no encerramento.
Deve aparecer mais agora, dizem assessores tucanos. De acordo com o publicitário Nelson
Biondi, é "provável" que o presidente vá ao ar amanhã.
O cuidado, no caso de participações de FHC, é evitar "discutir o
passado", como quer a oposição.
Ele deve aparecer para mostrar o
que fez nos dois mandatos e dizer
o que ainda precisa ser feito.
O presidente sempre manteve
contato com a campanha do tucano, especialmente com Nizan
Guanaes. Quando as dificuldades
de Serra pareciam insuperáveis,
chegou a comentar que ele mesmo não se reelegeria se pudesse
tentar um terceiro mandato.
A disposição agora é outra no
Planalto e no QG tucano, onde se
avalia que o segundo turno será
uma disputa plebiscitária -governo contra oposição. O eleitor,
acreditam os estrategistas de Serra, vai decidir entre mudar a partir do que FHC fez ou mudar inteiramente de rumo.
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