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SÃO PAULO
Pepebista havia concentrado recursos e material de campanha para o segundo turno; na noite de sábado, anteviu o fiasco
Maluf pressentiu maior derrota na véspera
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Atropelado por uma avalanche
de votos petistas de última hora, o
ex-prefeito Paulo Maluf (PPB)
pressentiu a sua derrota na noite
anterior ao primeiro turno, quando disparou telefonemas nervosos a seus correligionários.
Maluf estava preocupado com a
última pesquisa do Ibope, divulgada no sábado, que mostrou o
petista José Genoino com um
ponto de vantagem sobre ele. Até
então, dormia embalado pela certeza de chegar ao segundo turno
da disputa pelo governo paulista
com Geraldo Alckmin (PSDB).
A confiança era tanta que o
grosso do material e do dinheiro
foi concentrado para o segundo
turno, quando era previsto um
duro embate com os tucanos.
O telefonema de Maluf na noite
de sábado desencadeou outros
entre membros da equipe. Assustados, todos tentavam analisar a
veracidade da pesquisa.
Maluf foi dormir naquela noite,
por volta da 1h, acreditando que
fosse ao segundo turno, mas, ao
contrário do que previa, sem uma
vantagem tão folgada em relação
ao candidato petista.
Acostumado a acordar às 6h,
sem despertador, no domingo da
eleição vestiu uma calça bege, camisa branca e um paletó preto,
sem gravata. Com um sorriso
plástico no rosto, deu sua primeira entrevista às 7h40, em frente à
sua casa, no Jardim Europa.
Bem-humorado, disse ter acordado com a tranquilidade de chegar ao segundo turno com pelo
menos 1 milhão de votos a mais
do que Genoino. Maluf, no entanto, fez questão de, em repetidas
vezes, amarrar sua confiança à
credibilidade das pesquisas.
Votou em menos de 30 segundos, cumprimentou eleitores, tomou um sorvete e, uma hora depois, voltou para sua casa, onde
esperava comemorar o resultado
ao lado da mulher Sylvia, dos filhos, genros, noras e dos 13 netos.
Além, é claro, de um batalhão
de assessores, candidatos e correligionários -cerca de 50 pessoas.
A confiança de Maluf voltou a
desmoronar a partir das 16h do
domingo, quando foi divulgada a
primeira pesquisa de boca-de-urna, que dava larga vantagem ao
petista José Genoino.
Sentado no sofá, com as mãos
apoiadas nos joelhos, coluna reta
e o olhar fixo na televisão, Maluf
permaneceu em silêncio e distante. Ao lado dele, os netos. Atrás,
vozes inconformadas da equipe
que, ainda incrédula, tentava entender o que teria ocorrido.
"Em silêncio, Maluf não parecia
mais preocupado com as urnas,
mas, sim, com a explicação que
teria de dar a toda aquela gente
que estava em sua casa", afirmou
uma das pessoas que acompanharam a apuração com ele.
Pelo menos uma hora depois,
diante do clima depressivo que se
abateu entre os presentes, o único
que parecia ter recuperado o ânimo foi o próprio Maluf. Aos
acompanhantes, o ex-prefeito repetia: "100%, está tudo 100%. Vamos esperar o resultado oficial".
A cada porcentagem de urna
apurada, o resultado negativo para Maluf era confirmado. "100%,
100%, está tudo bem" ou "Vamos
esperar o resultado oficial", tornava a dizer o ex-prefeito.
Com cerca de 20% das urnas
abertas, Maluf abandonou o sofá
e se juntou a seu marqueteiro, José Maria Braga. Pousou seus braços sobre ele e perguntou o que
havia acontecido.
Ouviu a resposta em silêncio.
Em seguida, Maluf formulou sua
própria teoria: "Fui prejudicado
pelo efeito sanduíche do PT", disse, referindo-se à cola petista que
recomendou o número 13 para
todos os candidatos. "Fiquei entre
Aloizio Mercadante [eleito senador" e Lula", afirmou.
Reproduziu a versão para outras pessoas que estavam na sala,
que mecanicamente concordaram. A tranquilidade demonstrada por ele foi descrita por alguns
dos presentes como "forçada".
A partir das 22h, quando as pessoas começaram a partir, Maluf
reuniu-se com sua assessoria para
acertar que a entrevista à imprensa deveria ocorrer no dia seguinte.
As últimas pessoas deixaram a casa de Maluf à 1h, quando ele disse
estar cansado. Queria dormir.
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