|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RIO GRANDE DO SUL
Líder com folga nas pesquisas para 2º turno, candidato do PMDB afirma que é opção "entre o brittismo e o PT"
Aliado e crítico de FHC, Rigotto diz ser 3ª via
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O candidato ao Executivo gaúcho que mantém laços políticos,
ideológicos e até partidários com
o governo federal é, paradoxalmente, um forte crítico da equipe
econômica de Fernando Henrique Cardoso, especialmente
quanto à ""falta de vontade política" para a reforma tributária.
O deputado federal em terceiro
mandato Germano Rigotto
(PMDB), 53, líder com folga até
agora do segundo turno para o
governo gaúcho, às vezes surpreende. Por exemplo: desacreditado pelo próprio partido quando
tinha 4% das intenções de voto no
primeiro turno, ele próprio teve
de pegar sua camionete Toyota a
diesel e percorrer 80 mil quilômetros Rio Grande do Sul afora.
À época, as eleições estavam polarizadas entre Antônio Britto
(PPS) e Tarso Genro (PT) e parecia que seria assim até o fim.
Antes da candidatura ao governo, Rigotto tinha aspirações de
ser candidato ao Senado. O
PMDB precisava ter uma candidatura própria ao Palácio Piratini,
para não perder terreno no Estado. O senador Pedro Simon, primeiro nome da lista, sonhava percorrer o país como candidato à
Presidência. Sobrou para Rigotto.
""Só eu e poucos que me cercavam acreditávamos em mim."
O que ele não conta é que muitos peemedebistas embarcaram
na sua campanha apenas em setembro. Até reagir nas pesquisas,
Rigotto via correligionários ostentando adesivos do ex-governador Britto (que trocara o PMDB
pelo PPS um ano antes e é malvisto por boa parcela do seu ex-partido) nos seus carros. O presidente
regional do PMDB, Cézar Schirmer, chegou a ameaçar de expulsão quem fizesse isso.
O fato é que, em dia de comício,
o diretório municipal onde Rigotto pisava era uma festa para ele.
Quando virava as costas, reapareciam, imediatamente, os adesivos
de Britto -o homem tido como
mais forte para derrotar o PT.
Casado com a dona-de-casa
Claudia Scavino Rigotto, advogado e dentista, pai de Rafael e Roberta, tendo ocupado os cargos de
vereador em Caxias do Sul, cidade
natal, deputado estadual e federal,
se perfila entre os aliados de Pedro Simon, considerado espécie
de líder da chamada ""ala ética" do
PMDB -expressão que rechaça.
Privatização
Classificando-se como ""a terceira via" no Rio Grande do Sul, ""entre o brittismo e o PT", o peemedebista não se diz nem contra
nem à favor das privatizações.
"Na telefonia, pode-se discutir como ocorreu, mas foi importante."
Duas atividades na Câmara são
consideradas por Rigotto um divisor de águas na sua biografia
parlamentar: o primeiro ano e
meio do governo FHC, quando
foi líder no Congresso, e sua atuação como relator da Comissão de
Reforma Tributária, ocasião em
que percorreu o país e se desapontou com a equipe econômica.
""Quando chegávamos a bom termo, puxavam o tapete", conta.
Se o tema é fiscal, Rigotto deixa
de lado o vínculo com o governo
federal. ""Um dos grandes erros da
gestão Fernando Henrique foi
olhar mais para o caixa e menos
para a reforma tributária, sentando em cima dela", diz. ""Tanto o
Serra [seu aliado" quanto o Lula
farão a reforma no primeiro ano
de mandato. Nosso sistema tributário é concentrador de renda."
E as qualidades do governo
FHC? ""A estabilidade econômica
é o grande feito." Ironicamente, é
na área fiscal que ele viveu um dos
seus equívocos em 12 anos como
deputado federal. No final do ano
passado, quase acabou com a dedução no Imposto de Renda para
planos de saúde e previdência privada ao assinar documento sem
ler, acreditando no parecer redigido por outro deputado.
O documento seria votado pela
Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Alertado sobre o
que assinara, Rigotto retirou o
projeto da pauta antes.
Havia 45 projetos reunidos em
um texto de 200 páginas, do qual
Rigotto seria o relator. Incluíam
temas como o desconto de desembolsos com medicamentos e
aluguel de imóveis. Rigotto alega
que foi pego desprevenido.
Ao ser questionado sobre o fato
de ter sido cotado até o último
instante para integrar a dissidência que deixou o PMDB para embarcar no PPS com o ex-governador Britto (1995-98), Rigotto diz
que isso nunca ocorreria, pois
tem sua vida vinculada ao PMDB.
A respeito de Britto, que ficou
em terceiro lugar no primeiro turno, Rigotto procura se descolar,
apesar de ter sido governador do
seu partido. ""Não participei do
governo Britto. Eu era deputado
federal, estava em Brasília. Não
nego seus erros, faltou diálogo
com a sociedade", diz.
Na sua biografia, não houve
partido que não fosse o MDB e o
PMDB, desde 75. No final dos
anos 60, no regime militar, trocou
de escola por assumir, como diretor do grêmio estudantil, propaganda com críticas ao governo e
apoio a Che Guevara.
Texto Anterior: São Paulo: Maluf pressentiu maior derrota na véspera Próximo Texto: Apoio de ACM é constrangedor, afirma Tarso Índice
|