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GOVERNO EM DISPUTA
Para petista Cristovam Buarque, demitido do ministério de Lula, nota do partido sugere essa crença
"PT acredita que mercado vá salvar o país"
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ainda magoado por ter sido
exonerado por telefone do cargo
de ministro da Educação, o senador petista Cristovam Buarque
(DF) quebrou o silêncio para fazer duras crítica ao seu partido e
ao governo. Entre as principais,
disse que o caso Waldomiro Diniz
só ganhou dimensão nacional e
abalou o PT porque o partido tem
se "vendido" apenas pela ética.
"O PT ficou refém do fato de ter
vinculado sua imagem quase somente à defesa das questões éticas", afirmou Cristovam. "Se tivéssemos explicitado ao país
quais são as nossas metas e fundamentos, o assunto Waldomiro ficaria local, restrito", completou.
Cristovam retornou ao Senado,
ficou um tempo em silêncio, mas
agora voltou a criticar o governo e
o seu partido. "Fiquei calado todo
esse mês, mas a nota do PT foi um
erro", disse, referindo-se ao documento aprovado pelo partido no
dia 5 deste mês, com a cobrança
por mudanças na política econômica. "O PT precisa voltar a ser
um partido de esquerda."
Para o senador, a nota -intitulada "Em Defesa do Patrimônio
Ético do PT"- é a comprovação
de que o partido não adota os interesses da população mais pobre
como bandeira. "O PT está fechando os olhos para as necessidades dos mais pobres", disse.
Segundo ele, o partido pede a
redução da taxa básica de juros,
como se isso fosse a solução para
garantir a retomada do crescimento e a geração de empregos,
medidas que, pela lógica do documento, afirma o senador, beneficiariam os mais pobres.
Para Cristovam, quando o PT
pede em nota a redução de juros e
defende que isso vai gerar o ciclo
do crescimento econômico no
país, está transferindo essa responsabilidade para o mercado.
"Quem disse que, se os juros
baixarem, as empresa irão contratar trabalhadores?", pergunta o
senador. "Quem garante que, se
forem feitas contratações, elas
não irão beneficiar apenas os que
são mais escolarizados?"
Para Cristovam, o documento
quer dizer basicamente que o PT,
que se considera o maior partido
de esquerda brasileiro, "acredita
que o mercado é quem vai resolver os problemas do país".
O senador sugere que o partido
elabore metas claras para a defesa
dos setores mais pobres da população. "O PT tinha que elaborar
uma lista de metas "abolicionistas"
e não apenas assistenciais, como é
o caso da extinção do analfabetismo entre os adultos", disse.
E foi além: o fato de o escândalo
gerado pelo caso Waldomiro
também ter abalado o Palácio do
Planalto é típico de "um governo
que não tem metas claras".
Para Cristovam, o caso do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, flagrado em
vídeo gravado em 2002 pedindo
propina a um empresário do ramo de jogos, é grave, mas localizado e não tem relação com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, já
que o episódio divulgado agora
aconteceu quando Waldomiro
era presidente da Loterj (Loteria
do Estado do Rio de Janeiro) na
gestão Benedita da Silva (PT).
"O caso é grave, mas não é histórico, não é nacional e não vai repercutir daqui a 20 anos."
Waldomiro Diniz, que era homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), também
trabalhou como assessor parlamentar de Cristovam, quando o
senador foi governador do Distrito Federal entre 1995 e 1998.
Só a falta de metas do PT e do
governo explicam o fato de o assunto ter dominado as discussões
do Congresso Nacional, avalia
Cristovam. "Se o governo estivesse criando mais uma zona franca
no Amazonas, o Arthur Virgílio
teria outros assuntos para pensar
e não apenas no Waldomiro", disse referindo-se ao líder do PSDB
no Senado e um dos críticos mais
ferrenhos da gestão Lula.
"Se o governo tivesse obrigado
todas as prefeituras do país a matricularem as crianças de quatro
anos na escola, os prefeitos estariam no Congresso, reclamando
por verbas. Mas, nesse caso, estaríamos tendo um debate sobre
quais são as prioridades de investimento do governo", afirmou.
Cristovam foi exonerado do
cargo de ministro da Educação,
no último mês de janeiro, durante
a reforma ministerial. O presidente o demitiu por telefone, quando
o senador estava em viagem a
Portugal. O ex-governador do DF
saiu do ministério fazendo críticas à condução da área social.
Cristovam diz ainda que o discurso dos políticos do PT e dos
congressistas de tendência mais à
direita deveria ser distinto. "É
preciso haver diferença entre o
discurso do Renan Calheiros [líder do PMDB no Senado] e o do
José Genoino [presidente do PT],
e o Lula seria o ponto de equilíbrio, mas está tudo igual."
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