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REFÉM DA BASE
Presidente do partido, que deve ser reeleito hoje, afirma que caso Waldomiro foi decisivo na consolidação da relação com PT
Lula não governa sem PMDB, diz Temer
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com reeleição por mais dois
anos assegurada na convenção
nacional do PMDB, hoje, em Brasília, o presidente do partido, Michel Temer, defende "mudanças"
na política econômica do governo. E diz que o caso Waldomiro
Diniz tornou "difícil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva governar sem o PMDB".
Deputado federal por São Paulo, o advogado Temer, 63, prega
como "necessária para o bem dos
brasileiros a diminuição da meta
de superávit primário [hoje fixada
em 4,25% do Produto Interno
Bruto] e da taxa de juros". O superávit, toda a economia de gastos
públicos para o pagamento da dívida, é o pilar do ajuste fiscal.
Ressalvando que não "palpita
em assuntos do PT", afirma que
os correligionários de Lula poderiam "ajudar mais" no Senado. O
presidente da Casa, José Sarney
(PMDB-AP), e o líder do partido
no Senado, Renan Calheiros (AL),
estão na linha de frente da operação para abafar CPIs, enquanto
petistas são acusados de erros.
Temer avalia que o caso Waldomiro, homem da confiança de José Dirceu (Casa Civil) que, em vídeo de 2002, pede propina e contribuição de campanha a um empresário, "deu sacudidela" no PT.
O episódio ocorreu no Rio, na
gestão Benedita da Silva (PT).
Afirma que o PMDB não dará
tratamento preferencial ao PT nas
eleições municipais de outubro,
mas o mesmo que destinará a
partidos da oposição, como PSDB
e PFL. Diz que há acordo "parlamentar e governamental" com o
PT, não "acordo eleitoral".
O presidente do PMDB acredita
que o ministro Dirceu "superará"
a crise do caso Waldomiro. Mas
afirma que será necessária CPI se
surgir "fato novo" nas investigações da Polícia Federal sobre
"agentes públicos ou políticos".
Seguem os principais trechos da
entrevista, concedida anteontem:
Folha - O governo sempre privilegiou Sarney na interlocução com o
PMDB. Na quarta, Dirceu procurou
o sr., que tem laços com oposicionistas da sigla. O governo amplia
contatos no partido para se blindar
na crise do caso Waldomiro?
Michel Temer - Não há dúvida de
que naturalmente está havendo
procura mais ampla, porque se
revelou aos olhos do governo a
absoluta unidade do PMDB, que
virá retratada na chapa única do
Diretório Nacional que será eleita
domingo [hoje].
É possível que essa circunstância de unidade tenha ensejado novos contatos numa hora difícil.
Folha - O PT diz desejar aliança
preferencial com o PMDB nas eleições municipais de outubro. Nos
bastidores, fala em contar com
apoio à reeleição de Lula em 2006.
Temer - Tenho conversado com
o presidente do PT, José Genoino,
sobre a eleição municipal. Tenho
enfatizado e ele também que as
alianças municipais se darão de
acordo com as circunstâncias de
cada localidade. Não há como a
direção nacional do PMDB impor
aos diretórios municipais decisão
de aliança com o PT.
Dizer agora o que acontecerá
em 2006 é prematuro. O objetivo
é ter candidato próprio, mas não
descarto diálogo futuro.
Folha - Na hora de alianças, o
PMDB dará o mesmo peso ao PT
que dará ao PSDB e ao PFL?
Temer - Sim. Não há restrição
em relação ao PT, mas também
não há restrições em relação a outros partidos. O PMDB é um partido multifacetado politicamente.
Folha - Quando o PMDB fala em
candidato à Presidência o nome é o
do ex-governador Anthony Garotinho, secretário da Segurança Pública do Rio?
Temer - É um nome. Temos seis
governadores, o presidente Sarney e parlamentares de peso.
Folha - Em outras eleições, o
PMDB adotou o discurso de candidato próprio e, na hora decisiva,
apoiou outro. É lícito duvidar que
tal projeto não seja para valer mesmo em 2006?
Temer - Por isso digo ser prematuro falar de 2006. Só posso expressar agora um desejo que sinto
no partido de identidade própria
e de disputar a Presidência.
Folha - Na reunião com o ministro
Dirceu, ele disse que deseja apressar integração do PMDB ao governo, o que significa dar os cargos de
segundo escalão prometidos na reforma de janeiro. Esses cargos vão
sair?
Temer - Essa é uma decisão do
governo. O PMDB, pela direção
nacional, não os postula. Aguarda
como aguardou a integração aos
dois ministérios. O que ele disse
foi que o PMDB era indispensável
à governabilidade e que julgava
fundamental a integração do
PMDB ao governo o mais urgentemente possível.
Folha - Após o caso Waldomiro, ficou difícil Lula governar sem o
PMDB?
Temer - É uma verdade. É difícil
para o presidente governar sem o
PMDB. O partido integrado ao
governo é muitíssimo útil à governabilidade. Mas saliento que é um
acordo parlamentar e governamental, não eleitoral.
Folha - O PMDB não reforça a imagem de partido fisiológico ao contribuir decisivamente no Senado
para abafar CPIs?
Temer - O PMDB está preocupado com o país. Não há dúvida de
que o presidente Sarney e o líder
Renan têm dado demonstrações
de muito apoio. Se não fossem os
dois, a situação ficaria mais complicada para o governo.
Folha - O PT tem sido acusado de
criar problemas para o governo no
Senado, enquanto o PMDB ajuda
mais.
Temer - Não vou me meter na relação do PT com o governo. Claro
que, como todo partido aliado, o
PT poderia ajudar mais o governo, com mais unidade. Deve registrar, porém, que o PMDB tem
sofrido ônus, com desgaste político, devido ao auxílio mais efetivo
ao governo.
Folha - Qual ônus?
Temer - A idéia equivocada de
que ajuda em troca de cargos, que
é o que sai na imprensa.
Folha - Qual o saldo para o governo do caso Waldomiro?
Temer - É evidente que não é positivo, mas negativo. Tratava-se
de alguém com assento no Palácio
do Planalto. Não quero entrar no
mérito. Acho que as investigações
devem ser processadas rapidamente pela Polícia Federal.
Folha - O sr. é a favor de CPI?
Temer - Por ora, não. Se na investigação da Polícia Federal surgirem indícios ou fato novo de envolvimento de agentes públicos
ou políticos, não há dúvida de que
o Congresso deve abrir CPI.
Folha - É irreversível o enfraquecimento de Dirceu?
Temer - Ele superará isso.
Folha - Qual será o efeito eleitoral
do caso Waldomiro?
Temer - Esse fato deu discurso
político-eleitoral à oposição e até
para partidos que concorrerão
com o PT nos municípios. Lamentavelmente, mesmo em relação ao PMDB, há Estados em que
alianças são difíceis. Há oposição
muito grande do PT aos nossos
governadores. Por isso, tenho dito
ao governo que o PMDB não é só
o Congresso, mas um universo
muito maior. É preciso mais cuidado com nossos governadores.
Folha - A idéia de que o PT é mais
ético do que outros partidos foi
avariada?
Temer - Maniqueísmo é sempre
intolerável e autoritário. Quando
se diz que o bem está de um lado e
o mal do outro, faz-se o que há de
menos religioso. Foi uma sacudidela no PT, um despertar no sentido de dizer: "Não vamos atirar
pedras, porque podemos recebê-las de volta".
Folha - O próprio PT divulgou nota pedindo "mudanças" na política
econômica? Qual a opinião do sr. e
da cúpula do partido sobre a política de rigor fiscal e monetário do
ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)?
Temer - Em 2003, o governo agiu
adequadamente. Fez o equilíbrio
das contas públicas, como no governo passado. Agora, porém, o
PMDB cobrará mais ousadia. É
necessária para o bem dos brasileiros a diminuição da meta de superávit e da taxa de juros. O objetivo deve ser incentivar o setor
produtivo e não apenas atrair capitais para investimentos de curtíssimo prazo.
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