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SOMBRA NO PLANALTO
Depoimentos ligam ex-secretário da gestão de Palocci em Ribeirão Preto a Waldomiro Diniz e contrato da GTech com a Caixa
Para governo, nova revelação acirra crise
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A revelação de dirigentes da
GTech, de que a renovação do
contrato da multinacional com a
Caixa Econômica Federal foi intermediada por Waldomiro Diniz
e teve como moeda de troca a
contratação da empresa de consultoria de Rogério Tadeu Buratti,
foi classificada ontem de "grave"
pela cúpula do governo.
Em sua primeira avaliação das
novas acusações contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares
da Presidência, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
acreditam que elas vão esquentar
novamente a crise e alimentar a
avaliação de que Waldomiro não
estava agindo sozinho.
Anteontem, em depoimento à
Polícia Federal e ao Ministério
Público, o diretor de marketing
da GTech do Brasil, Marcelo Rovai, e o ex-presidente da empresa
Antonio Carlos Lino Rocha disseram que, durante as negociações
para renovar o contrato com a
Caixa, Waldomiro pediu a contratação da consultoria de Buratti,
ex-secretário de governo de Ribeirão Preto (SP) na primeira gestão do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) como prefeito da
cidade, entre 1993 e 1996.
A maior preocupação de Lula é
que o escândalo agora pode passar a envolver os seus dois principais ministros: José Dirceu (Casa
Civil), ex-chefe de Waldomiro, e
Palocci. O presidente foi informado do caso apenas ontem.
Palocci não quis comentar ontem o aparecimento do nome do
antigo assessor no escândalo envolvendo Waldomiro, exonerado
do governo federal em 13 de fevereiro, após aparecer numa gravação feita em 2002, quando presidia a Loterj (Loteria do Estado do
Rio de Janeiro) na gestão Benedita da Silva (PT), cobrando propina de um empresário de jogos.
Em nome da Gtech, Rocha e Rovai estiveram à frente da renegociação do polêmico contrato com
a Caixa para o processamento
online de dados das lotéricas.
No depoimento, eles insistem
em que não prosperou o pedido
de contratação da consultoria de
Buratti ou nenhuma outra forma
de pagamento de propina a Waldomiro ou ao ex-secretário. Mas
dizem que a assinatura da prorrogação por 25 meses, finalmente
sacramentada em 14 de abril, chegou a ser adiada por duas vezes
enquanto o ex-assessor do Planalto insistia em intermediar a negociação e na contratação de Buratti.
Segundo o depoimento dos dirigentes da GTech, Waldomiro
sugeriu a contratação do ex-secretário num encontro em 31 de
março de 2003. O ex-assessor, relatam os depoentes, teria dito que
Buratti os iria procurar, o que de
fato ocorreu. No encontro entre o
ex-secretário e os dirigentes da
GTech, Buratti teria feito o pedido
de um acerto de valor impreciso
-seria algo entre R$ 15 milhões e
R$ 20 milhões- para que o contrato da Caixa fosse renovado.
Ainda segundo os depoimentos, Buratti teria aceitado fechar
um acordo por R$ 6 milhões, mas
que nunca chegou a ser honrado
porque a matriz da GTech nos
EUA teria vetado o negócio por
causa da legislação americana,
que impede a contratação de consultorias que tenham relacionamentos com os governos atendidos pela empresa multinacional.
Mais tarde, já com a renovação
de contrato com a Caixa assinada
em 14 de abril, Waldomiro teria
sugerido a contratação de outro
consultor pela GTech, já que a
empresa teria vetado Buratti. Na
versão dos dirigentes, o novo nome também foi descartado.
A Caixa continua alegando que
a renovação do contrato com a
GTech não sofreu nenhum tipo
de intermediação ou interferência
de pessoas estranhas à burocracia
do banco estatal. Por meio de sua
assessoria de imprensa, a instituição afirmou que não tem conhecimento do conteúdo dos depoimentos de Rocha e Rovai e que
eventuais adiamentos da assinatura da prorrogação de contrato
com a Gtech teriam decorrido exclusivamente do cronograma de
negociações técnicas da própria
Caixa Econômica Federal.
A Folha não conseguiu localizar
ontem Paulo Bretas, vice-presidente da Caixa. Nos depoimentos
à Polícia Federal e ao Ministério
Público, ele aparece como autor
de telefonema comunicando que
a assinatura da renovação do contrato com a GTech enfrentava
problemas no mesmo momento
em que Waldomiro insistia em
ser intermediário do negócio.
Ligado ao PT, Bretas já afirmou,
em entrevista, que Waldomiro
não tinha procuração para negociar a prorrogação do contrato.
Para Bretas, o ex-assessor teria
agido "na condição de gaiato".
Uma das hipóteses em investigação pela PF e pelo Ministério
Público é que a Caixa pode ter
adiado por duas vezes a assinatura da renovação do contrato com
a GTech à espera de um fechamento de acordo entre a multinacional e a consultoria de Buratti, o
que a instituição nega.
(KENNEDY ALENCAR E MARTA SALOMON)
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