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ELEIÇÕES 2002/MÍDIA
Dados mostram relação entre espaço editorial e intenção de voto
Projeto vai incluir telejornais e propaganda eleitoral gratuita
Instituto mapeia cobertura dos jornais
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto os jornais monitoram
cada passo dos candidatos, um
grupo de pesquisadores esquadrinha cada edição dos jornais. O
trabalho se estenderá por toda a
campanha, mas seus resultados
parciais já permitem esboçar um
mapa do comportamento da mídia impressa nas eleições presidenciais deste ano.
O estudo do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio
de Janeiro) mede a quantidade e a
qualidade das menções a cada um
dos postulantes ao Planalto nas
páginas dos principais diários.
No que diz respeito à visibilidade, os dados coletados entre 20 de
fevereiro e 28 de junho mostram
estreita relação entre o espaço
destinado a determinado candidato e seu desempenho nas sondagens de intenção de voto.
"Como acontece na imprensa
norte-americana, o padrão geral é
determinado pela "corrida de cavalos'", diz Marcus Figueiredo,
coordenador do projeto. Mas não
apenas por ela. No entender do
cientista político, outros fatores
interferem na "noticiabilidade"
do presidenciável.
Para ele, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria lugar de destaque na
cobertura mesmo se não liderasse
a disputa, tanto por concorrer pela quarta vez quanto por ser o nome mais claramente identificado
como de oposição.
Da mesma forma, Figueiredo
acredita que a condição de candidato do governo contribui para
explicar por que José Serra
(PSDB) teve, em vários momentos do período analisado, espaço
maior do que o conferido a adversários em posição semelhante nas
pesquisas. "Da condição de governista deriva todo um noticiário que acaba por se agregar à candidatura", afirma.
Em sua avaliação, o loteamento
baseado na "corrida de cavalos"
se explica pela lógica de mercado
que rege os jornais. "Não dá para
ignorar o interesse do leitor pelo
que tem audiência."
"Mecanismo Tostines"
A afirmação leva a crer que a cobertura está presa ao que poderia
ser chamado de "mecanismo Tostines". Como saber em que medida o candidato tem mais exposição porque está na frente, e em
que medida está na frente porque
tem mais exposição?
Figueiredo reconhece o dilema,
mas acha que, de maneira geral, a
posição relativa na disputa determina o grau de visibilidade do
personagem, não o contrário.
Ele lembra que Folha, "Estado"
e "O Globo", os jornais de maior
penetração nacional, competem
por um público grande e heterogêneo, não podendo, sob pena de
perder terreno para os concorrentes, encampar uma candidatura e
eliminar as demais das páginas.
Ainda que se observe um padrão geral de divisão, as fatias de
cada um dos candidatos não são
iguais nos três diários.
De acordo com a primeira série
horizontal de gráficos reproduzida nesta página, a Folha destinou
a Serra um espaço relativo expressivamente maior do que o obtido
pelo tucano nos outros dois jornais -a linha vertical do quadro
indica o número de aparições do
candidato nos textos.
Na segunda parte do estudo,
destinada a qualificar o tratamento dispensado aos presidenciáveis, a Folha aparece com os mais
elevados percentuais de reportagens consideradas "neutras", em
proporções semelhantes para os
quatro candidatos.
O "Estado", nas palavras de Figueiredo, "chama a atenção por
ser mais benevolente com o candidato de sua preferência" -em
editorial publicado há pouco menos de um mês, o jornal declarou
apoio a Serra.
O "positivo" predomina e está
em ascensão na cobertura do tucano. O "negativo", nas de Lula e
Anthony Garotinho (PSB). O
"neutro" só sobressai nos textos
sobre Ciro Gomes (PPS).
No "Globo" se verifica um quadro geral de equilíbrio, mas com
características diferentes das observadas no noticiário da Folha.
Para os quatro candidatos, as taxas de "neutro" são menores. Porém, há mais semelhança entre as
de "positivo" e "negativo".
Padrões de escolha
Figueiredo pondera que os percentuais de reportagens "positivas" e "negativas" não derivam
necessariamente da intenção editorial de promover ou perseguir
uma candidatura.
O movimento ascendente de Ciro nas pesquisas de intenção de
voto é, em si, um fato "negativo"
para Serra. Assim como o é, para
Lula, a declaração do petista de
que propina de R$ 40 mil é troco,
em referência às investigações sobre a Prefeitura de Santo André.
Mesmo quando buscada e medida por uma série de parâmetros, a neutralidade jornalística é
um conceito sujeito a debate.
O pesquisador também reconhece que desdobramentos da
campanha -desde a escolha de
um vice até a erupção de um escândalo- têm influência sobre a
divisão de espaço, independentemente do quanto se planeje destinar a cada candidato.
Mais do que no destaque dado a
notícias isoladas -"positivas" ou
"negativas"-, Figueiredo acredita que a orientação editorial se faz
perceber em padrões de escolha e
hierarquização dos assuntos. "As
decisões políticas da imprensa,
um dos atores do processo eleitoral, começam com a seleção do
que publicar", diz.
Inspirada em estudos semelhantes conduzidos nos EUA e na
Europa, a avaliação dos jornais é
parte de um projeto do Iuperj a
respeito do papel da mídia na definição do voto.
A iniciativa tem precedentes no
país. O Datafolha, por exemplo,
realiza medições desse gênero
desde o pleito de 1989. Também
não é a primeira vez que o Iuperj
se debruça sobre a cobertura jornalística de eleições, mas o trabalho este ano será mais amplo.
Além de veículos impressos (está em curso um capítulo sobre as
revistas, ainda sem resultados
consolidados), o projeto incluirá
o noticiário dos telejornais, a propaganda eleitoral e uma pesquisa
nacional com 2.000 entrevistas.
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