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O CASO CAPIXABA
"Esses otários aqui, quantas vezes eu for deputado, eles têm que votar em mim", afirma José Carlos Gratz
Pivô da crise no ES quer apoio dos "otários"
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA
O principal foco da crise político-institucional no Espírito Santo
se prepara para tentar reforçar
seu poder onde os adversários
menos esperam: nas urnas.
O deputado estadual José Carlos
Gratz (PFL), 54, três vezes presidente da Assembléia Legislativa
do Estado e que controla 28 dos
seus 30 votos, repetirá neste ano a
estratégia que lhe deu a supremacia nas três últimas eleições do
parlamento local: ajudará no financiamento de campanha dos
candidatos com mais chances.
"Esses otários aqui, quantas vezes eu for deputado, eles têm que
votar em mim [para presidente da
Assembléia]", declarou. À questão sobre que candidaturas ajudará a financiar, é direto: "Todas
que tiverem chances de ganhar".
Um parlamentar do PMDB relata a forma de trabalho de Gratz.
Na eleição passada, ele recebeu
um telefonema do já então presidente da Assembléia, que perguntou o que faltava na campanha.
Estrutura, foi a resposta. Mandou
gasolina e um trio elétrico.
Não sabia que Gratz tinha pesquisas que o colocavam como o
sétimo deputado mais votado. Foi
eleito e até hoje faz parte da bancada que apóia o deputado pefelista, grupo este que independe de
partidos -os dois únicos parlamentares que não são incluídos
nele pertencem a PT e PSB.
Fortuna montada a partir da exploração do jogo do bicho e de
cassinos, como afirma claramente, o pefelista está no centro da crise no Espírito Santo. Desde 1994, é
acusado de envolvimento com o
narcotráfico e com os desmandos
no Estado, que incluiriam assassinatos, drogas e corrupção.
Após o relatório da CPI do Narcotráfico em que Gratz foi apontado como um dos líderes do crime organizado no Estado, teve os
últimos cinco anos de sua movimentação financeira escarafunchados pela Receita Federal.
O resultado foi um auto de infração por "acréscimo patrimonial a descoberto", resultado de
"omissão de rendimentos tendo
em vista a variação patrimonial,
na qual se verificou excesso de
aplicações sobre origens não respaldadas por rendimentos declarados/comprovados".
Mas a punição parece tímida.
Multa de R$ 82.527, 61, parcelada
em 30 meses. "Num exame de
cheques e depósitos como esse, se
pegar o papa, acontece a mesma
coisa", minimiza Gratz.
O presidente da Assembléia não
revela quanto deve gastar na eleição: "Isso depende da quantidade
de bônus eleitoral que vamos vender. Tenho o meu prestígio".
O projeto de Gratz é claro. À exceção do governador José Ignácio
Ferreira (PTN), é inimigo das
principais forças políticas do Estado e que são as favoritas na disputa até aqui, o senador Paulo
Hartung (PSB) e o deputado federal Max Mauro (PTB): "Quero bater de frente com essa gente. Podia me candidatar ao Senado, mas
não vou. Eles não dizem que sou
um merda? Pois quero ver".
Na declaração de bens que entregou na semana passada ao TRE
(Tribunal Regional Eleitoral), o
patrimônio do pefelista é avaliado
em R$ 779.348,55. No papel, houve uma redução, porque no ano
2000 declarava possuir um patrimônio de R$ 833.464,53.
Na lista entregue ao TRE, os
bens que mais se destacam são a
"disponibilidade financeira em
moeda nacional" de R$
396.500,00, um terreno de 27 mil
m2 em Vila Velha (R$ 100 mil),
50% de uma lancha (R$ 62.500) e
uma loja comercial onde funciona
uma imobiliária (R$ 50 mil).
"Tenho dois bingos aqui, tenho
restaurante, tenho 200 maquininhas (caça-níquel) lá no melhor
bingo de Guarapari. Não vou viver do salário de deputado", afirma o presidente da Assembléia.
Foi sua força na Casa que impediu a votação do processo de impeachment do governador José
Ignácio Ferreira, hoje no PTN,
mas que era o principal cardeal do
PSDB no Estado até 2001.
Na semana passada, Gratz foi,
indiretamente, o pivô da demissão do ministro da Justiça, Miguel
Reale Júnior, que defendia a intervenção no Estado e citava como
um dos exemplos da corrupção
entranhada no poder público 14
ações na Justiça que envolvem o
pefelista capixaba. "Papel aceita
tudo. Eu desafio essa merda de
ministro a trazer um processo
contra mim", rebate Gratz.
O pefelista apresenta uma série
de declarações da Justiça que
apontam que não há nenhum
processo em que é réu e que não
tem dívidas com a União. Ele afirma que o presidente Fernando
Henrique Cardoso tem 425 ações
contra si na Justiça. "Qualquer
um pode colocar no papel qualquer coisa contra você. Provar é
outra coisa", declara.
De 1978 a 1990, segundo afirma,
Gratz se dedicou à exploração do
jogo do bicho e de cassinos no Espírito Santo, estes últimos em associação com os mais famosos
banqueiros do bicho do Rio.
"Em 1984, tivemos um negócio
juntos no cassino, no hotel Pôr do
Sol em Guarapari. Era eu, o [capitão] Guimarães, o Anísio [Abrão
David] e seu Antônio (Turcão).
Aqui sempre teve jogo. Como tem
no Rio. Você quer que eu te leve
em quantos cassinos? Tem em
Recife, em Fortaleza com propaganda no aeroporto. Tem em São
Paulo, do lado da casa do governador, no Morumbi. Isso é uma
hipocrisia", declarou.
O presidente da Assembléia nega qualquer envolvimento com o
narcotráfico. "Nunca vi maconha
na vida." Afirma não ter lógica a
associação entre jogo e drogas.
"Não faz sentido citar uma contravenção que é consentida pela
sociedade -o jogo do bicho-
com algo que é odiado pela sociedade -o narcotráfico. Quando
mexia com esse negócio de bicho
e ia muito no Rio, cansei de ver a
alta cúpula da polícia pedindo
apoio ao jogo do bicho para combater o narcotráfico."
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