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"Meu negócio era cassino e jogo do bicho", diz Gratz
DO ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA
O deputado estadual José Carlos Gratz (PFL-ES) tem um explicação simples para ter obtido por
três vezes o cargo de presidente da
Assembléia Legislativa.
"Venho das três coisas mais populares que já existiram: futebol,
samba e jogo do bicho", afirma
ele, presidente do conselho deliberativa da equipe do Rio Branco
e que desfila nas nove escolas de
samba do Estado, por razão óbvia: é "patrono" de todas elas.
Gratz, que tem apenas o primário, foi eleito com a segunda
maior votação do Estado na última eleição. A mais recente polêmica em torno do deputado surgiu depois que um funcionário da
Assembléia enviou um e-mail a
uma colunista social para informar que ele abriria um novo restaurante. Questionado sobre o
uso da máquina pública, ele pediu
para levantar os custos do e-mail e
pagou R$ 0,00000042.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do presidente
da Assembléia à Folha:
Folha - Por que o senhor é contra
uma intervenção federal no Espírito Santo?
José Carlos Gratz - Se tivesse de
haver intervenção no Espírito
Santo, por qualquer tipo de argumento, é preciso tirar do mapa do
Brasil Rio de Janeiro e São Paulo.
Folha - O que impressiona aqui é
que, à exceção do senhor e do governador José Ignácio (PTN), o arcebispo de Vitória, a Ordem dos Advogados do Brasil, todas as entidades e políticos dos mais variados
partidos defendem a necessidade
de intervenção.
Gratz - O arcebispo aqui é mais
político do que eu. Eu não gosto
dele, e ele não gosta de mim. O
presidente da OAB aqui é meu adversário. O PT aqui, bato tanto neles que só vou parar quando eles
soluçarem. Esses grupos fazem
parte de uma panela, da fofoca e
têm acesso à grande imprensa.
Folha - A acusação é que há uma
violência patrocinada por agentes
do Estado.
Gratz - O Espírito Santo só não
tem violência. Você vai lá, come
minha mulher. Eu descubro e te
encho de tiro. O Estado é culpado
disso? O Flamengo perde, o outro
vai lá no bar e dá uns tiros. O Estado é culpado disso? O traficante
do morro dá banho no outro, vira
briga de quadrilha. O Estado é
culpado disso? Isso é palhaçada.
99% desse troço é fofoca. Quem
fala isso é um bando de moleques.
Se tem a coragem de colocar no
papel que há uma infiltração de
criminoso nos poderes, eles têm
de ter a competência para dizer
que tipo de crime foi cometido ou
quem é o criminoso. Isso é conversa de bêbado para delegado.
Folha - O senhor foi acusado pela
CPI do Narcotráfico de liderar o crime organizado no Estado.
Gratz - O relatório da CPI do
Narcotráfico é papel higiênico
usado. Um bando de vagabundos
que vieram aqui.
Folha - O senhor ainda é bicheiro?
Gratz - Meu negócio era cassino
e jogo do bicho. Parei em 1990,
quando assumi meu primeiro
mandato. Vendi tudo e entrei na
política para combater os pilantras que me sequestraram e me
deixaram uma semana preso na
Polícia Federal, sem mandato,
sem processo.
Folha - O senhor se acha injustamente perseguido?
Gratz - Vou dar um exemplo. Os
agentes da PF encontraram em
um cassino meu seis garrafas de
whisky -só bebo Blue Label- e,
mancomunados com esses moleques da Procuradoria da República, disseram que o presidente da
Assembléia é contrabandista de
bebidas. Fizeram isso para aparecer em jornal, mas até hoje não
houve nem processo.
Folha - O senhor pretende entrar
na política nacional?
Gratz - Nasci para ser cacique.
Na próxima eleição, vou disputar
o Senado.
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