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Dantas ignora estrutura de empresas, diz PF
Relatório diz que banqueiro criou um "complexo empresarial criminoso" e que sua participação "nas empresas é mínima"
Em documento, delegado
aponta um sócio de mais
de 700 empresas; para ele,
há "diversos indícios de que
se trata de mero laranja"
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal diz que
nem mesmo Daniel Dantas e
sua irmã Verônica sabem ao
certo a estrutura de cada empresa do grupo Opportunity.
A PF cita o uso de "empresas
prateleira" (que não têm atividade para produção ou circulação de bens e serviços) e de laranjas. Segundo o relatório, um
"complexo empresarial criminoso" foi arquitetado.
"A participação de Daniel
Dantas nas empresas é mínima,
especialmente quando comparada com a de sua irmã Verônica Dantas, a qual faz parte de
quase todas as empresas pesquisadas", diz trecho do inquérito da Operação Satiagraha.
"De qualquer forma, não interessa quem esteja legalmente
constituído para representar a
empresa, as decisões sempre
passam por D. Dantas", completa o documento, escrito pelo
delegado Protógenes Queiroz.
Segundo a PF, "em análise a
respeito do complexo empresarial criminoso", a maior parte
das empresas é somente "prateleira" ou "veículo". "Isto representa na pior das hipóteses
a má intenção ou conduta criminosa ao integrar no mercado
empresarial e financeiro uma
empresa com pouco tempo de
duração que vai servir para
aquele propósito determinado,
qual seja, investimentos ou
passagem de ativos suspeitos
ou ilícitos", diz o relatório.
O delegado cita Eduardo
Duarte como sócio de mais de
700 empresas do grupo, "havendo diversos indícios de que
se trata de mero laranja".
Quem é quem
Para argumentar que nem
mesmo Dantas e sua irmã Verônica sabem ao certo quem comanda cada empresa do grupo
empresarial, a PF cita interceptações telefônicas e de e-mails.
"Diversos diálogos interceptados, bem como e-mails, demonstram uma confusão na
administração dos negócios.
Nem os investigados sabem
quem estava à frente de qual
empresa, em qual período, pois
isso é uma mera formalidade, já
que o comando se conhece."
Queiroz afirma que Dantas
"extrapola em sua ficção de
"grande gênio financista" para
na realidade, em sua essência,
ser "grande gênio fraudador'".
O relatório chama Dantas de
"Alter Ego", "pois atua de forma extremamente discreta,
quase não assina documentos
ou detém participações acionárias, não utiliza e-mails, porém,
o grupo Opportunity age conforme seus interesses".
A Folha não conseguiu falar
com o advogado de Dantas, Nélio Machado. Em uma ligação
interceptada, Dantas comenta
com a sua irmã Verônica a tese
do "alter ego". "Eles tão desenvolvendo uma tese que o banco
Opportunity, o Opportunity
Fund, tudo isso é um alter ego,
não tem uma estrutura jurídica
aqui, tá?", afirma. "E o banco
Opportunity claramente não se
caracteriza num alter ego."
Dantas e Verônica conversam diversas vezes para tentar
levantar os postos ocupados
em cada uma das empresas.
Em um dos diálogos, falam
sobre Dório Ferman, presidente do Opportunity. "Ele foi diretor o tempo inteiro e eu acho
que você tem que dizer que falou com ele e, com quem ele falou lá dentro, você não sabe",
diz Verônica.
"Qual a relação formal dele
com a empresa, ele é sócio?",
questiona Dantas. Verônica
responde: "Ele é diretor do Opportunity Fund".
A PF conclui: "É de se notar
que o grupo Opportunity (...)
cresceu tanto e arrecada valores inimagináveis que operacionalmente é impossível hoje
ele ou qualquer controlador
abaixo dele saber qual a quantidade de empresas controlada,
bem como o fluxo de recursos
existentes em transações correntes, sem contar o que passa
no caixa dois, caracterizando,
assim, a gestão fraudulenta".
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