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ELEIÇÕES 2008 / AMBIENTE
Agronegócio disputa cidades desmatadoras
Nos 36 municípios que mais devastam a floresta, 35% dos candidatos a prefeito são madeireiros, pecuaristas ou agricultores
Em quatro cidades de Mato Grosso e do Pará, a disputa pela prefeitura se dará apenas entre candidatos
do ramo da agropecuária
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Levantamento feito pela Folha nas 36 cidades que mais
desmatam a Amazônia mostra
que cerca de 35% dos candidatos a prefeito são ligados ao
agronegócio -pecuaristas,
agricultores ou donos de madeireiras. E que, entre os candidatos à reeleição nesses municípios (que historicamente têm
mais chances de vencer a disputa), 44% também atuam em
alguma dessas atividades.
Distribuídas por Mato Grosso (19), Pará (12), Rondônia (4)
e Amazonas (1), as cidades da
lista da devastação tiveram ao
todo 116 pedidos de homologação de candidaturas a prefeito.
Segundo apurou a Folha, no
grupo constam 41 candidatos
dos setores que mais causam
impactos ambientais na região
-19 pecuaristas, 11 agricultores e 11 madeireiros.
O PT, com 18 candidaturas,
será o partido que mais disputará as cidades da lista. Já o PR,
do governador de Mato Grosso,
Blairo Maggi, é o que terá mais
candidatos à reeleição -nove.
Em quatro municípios de Mato
Grosso e Pará, a disputa se dará
exclusivamente entre representantes do agronegócio.
Para candidatos ouvidos pela
Folha, ambiente será um ponto essencial da campanha, mas
muitos se mostram reticentes à
adesão total dos planos federais de reduzir o desmate.
Candidato único em Querência (MT), na região do Xingu, o
prefeito Fernando Gorgen
(PR) promete "trabalhar" para
que o "problema" não inviabilize a economia da cidade. "Se
deixar na mão desse ministro
aí [Carlos Minc, do Meio Ambiente], nossa cidade acaba",
diz ele, que é produtor rural.
O madeireiro Carlos Roberto
Torremocha (DEM), candidato
em Aripuanã (MT), defende
uma visão "menos radical".
"Nosso município não conseguirá sobreviver só da floresta."
A prefeita de Alta Floresta
(MT), Maria Izaura Dias Alfonso (PDT), também candidata à
reeleição, reclama da visão distorcida "passada pela mídia".
"Ninguém mostra a realidade.
E não temos respaldo algum do
governo federal nessa luta."
A ligação direta entre prefeitos e os segmentos que exploram os recursos naturais em
geral dificulta as iniciativas de
preservação da floresta, diz o
ambientalista Sérgio Guimarães, coordenador da ONG ICV
(Instituto Centro de Vida).
"Na maioria das vezes, o eleito entra preocupado em fazer
valer as demandas do seu setor.
Em cidades que dependem de
um modelo econômico insustentável, a tendência é manter
esse padrão."
(RODRIGO VARGAS e JOÃO CARLOS MAGALHÃES)
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