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JANIO DE FREITAS
Infeliz aniversário
Cada um comemora as suas
datas como queira. Apesar
disso, não fossem os petistas esses
seres originais que, ao chegar ao
governo, viraram do avesso, não
haveria o que explicasse a celebração, tão peculiar, dos 24 anos
do PT, a começar do bolo levado
por um dos ministros petistas, levado no rosto.
A propósito, as atitudes tortas
do ex-sinistro da Previdência
contra os anciãos afinal permitiram, contra todas as expectativas, que até os aposentados vissem Ricardo Berzoini, por um
momento em sua vida, como um
homem doce. Já a festança contratada no hotel Glória, cuja categoria merece melhores usos, teve amargor duplamente merecido. Primeiro, por ser uma comemoração falseada, celebrando a
criação daquilo que o PT deixou
de ser e que os petistas passaram
a renegar. Depois, pelo desaforo
de fazer a festa no Rio, que deu
80% dos seus votos a Lula, mas
nunca foi tão maltratado pelo
governo federal quanto no governo Lula.
O exótico modo petista de comemorar aniversário, deixando-se atingir por um belo escândalo
de corrupção, não faltaria, porém, com algum marketing no
único assunto que interessa a
Lula, as relações internacionais.
O festeiro governo encerrou, então, o longo período em que não
se teve oportunidade de homenagear os norte-americanos com
a lembrança de um dos seus chavões prediletos: o homem certo
no lugar certo. É, agora, o que se
pode dizer da escolha de um tomador de dinheiro da contravenção para negociar, em nome
da Presidência da República, o
apoio de parlamentares ao governo.
Alguém duvidou que o nível de
conversas, para adquirir determinados apoio no Congresso, é o
próprio daquele tipo de pessoa
que a Presidência acaba de exonerar, sem no entanto desprezar
os frutos que lhe trouxe?
A reação do governo foi rápida,
mas, não havia como ser de outro modo, insuficiente para reduzir os riscos de que dela mesma
advenha a continuidade, senão o
agravamento, dos problemas
que pretendeu conter. A crônica
do exonerado Waldomiro Diniz,
em sua passagem no governo fluminense, sugere que a investigação autorizada pelo governo, se
correta, tem bastante com que se
ocupar. E não há motivo, até pelo contrário, para supor que o
(ex) subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência se tenha tomado de rigores só por subir do governo de Benedita da
Silva, quando extinto, para o de
Lula. O governo federal é sempre
o território do maior e mais nefasto tráfico de influência.
Dois aspectos emergem, de
imediato, das revelações de atividades passadas do assessor da
Presidência. Um, é o divisor que
esse caso impõe. Escândalos petistas, consumados como o do governador Flamarion Portela ou
em estágio de suspeição como
tantos outros, deixam a periferia
e retiram, de uma vez, a imagem
de austeridade invulnerável que
o núcleo de comando do governo
e do PT quis ter como proveitosa
marca registrada.
O outro aspecto é problema
propriamente político, já perceptível. Melhor cabeça política (ou
seria a única?) no núcleo do governo, José Dirceu, e não Lula e
muito menos a corrupção, é o alvo da oposição ao encontrar um
fato consistente a explorar. José
Dirceu, visto como um poder tão
real quanto arredio, e por isso inconveniente, é também o alvo da
maior parte da mídia, cujo padrão de relações com Lula transpareceu bem, dois dias antes da
revelação de "Época", no jantar
a ele oferecido por uma colunista
política do Globo, com numerosos jornalistas políticos de Brasília como comensais. A maioria
dos presentes seria incapaz de,
mal acabado o evento cordial,
criar constrangimentos para o
seu recepcionado. Mas já fazia o
possível, há muito tempo, para
dificultar a vida de José Dirceu
no governo.
Um dos efeitos esperáveis dessa
tendência será a maior procura
de confirmação para os boatos
que envolvem José Dirceu, por
intermédio de outro assessor
(Gilberto Carvalho), com as improbidades que estariam por trás
do caso Celso Daniel, em Santo
André, para financiamento das
campanhas eleitorais do PT.
Ainda imprevisíveis são os efeitos nos papéis que cada um desempenha no núcleo do governo,
onde a disputa por poder e influência cerca-se de cautelas e de
aparências atenuadoras, sem
que por isso deixe de ser forte.
E aí o que estará em teste será a
competência de Lula para lidar
com seu primeiro problema grave: ceder à pressão, já evidente,
para afastar ou minimizar a presença de José Dirceu tranqüilizaria a Presidência e o governo,
mas a ambos retiraria o integrante que lhes dá alguma visão
estratégica e tática política até
para o dia-a-dia. Aquilo mesmo
que o governo Fernando Henrique perdeu com a morte de Sérgio Motta, ficando entregue ao
bater de cabeças até a derrota final.
A capacidade de reação do governo, e particularmente de Lula
e de José Dirceu, conta com um
aliado poderoso: a partir de
quinta-feira, o Carnaval será o
único interesse da mídia e por
uns 10 a 15 dias os políticos estarão entregues à sua principal atividade -o lazer.
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