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JORNADA DUPLA
132 deputados e senadores devem esvaziar Brasília no segundo semestre para concorrer para prefeituras
Eleição impõe recesso branco no Congresso
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Pelo menos 132 dos 594 parlamentares pretendem disputar a
eleição para prefeito de suas cidades em 3 de outubro. Com isso, o
Congresso deverá ter um recesso
branco no segundo semestre,
com poucas sessões deliberativas
e sem votar projetos importantes.
O número foi levantado pela
Folha junto às lideranças dos partidos na Câmara e no Senado e se
refere a todos os parlamentares
que podem disputar as eleições.
Os partidos, entretanto, avaliam
que vários desses nomes devem
ficar pelo caminho e o número de
candidatos que chegarão a 3 de
outubro ficará entre 100 e 110 (veja quadro nesta página).
O partido com o maior número
de pré-candidatos é o PT, com 22.
Entre os parlamentares paulistas,
20 querem disputar a eleição, sendo 12 para a Prefeitura de São
Paulo (leia texto nesta página).
Boa imagem
Preocupado com a imagem do
Congresso, desgastada com a recente convocação extraordinária
que consumiu R$ 50 milhões e teve poucas votações importantes,
o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), propôs um
acordo com os líderes.
Ele quer que ao menos uma vez
por semana, às quartas-feiras, haja quórum de mais de 400 deputados na Casa para a votação de
projetos importantes e de medidas provisórias.
A intenção da Câmara é votar
ainda em 2004 as reformas do Judiciário e sindical, além de concluir as votações das reformas tributária e da Previdência.
No Senado, o problema é menor, pois há apenas 14 pré-candidatos. Mas o presidente José Sarney (PMDB-AP), recém-recuperado de uma cirurgia, também
buscará construir uma pauta mínima no segundo semestre.
Os dois presidentes querem evitar que o Congresso seja paralisado entre julho e novembro por
conta das eleições e que depois
não haja tempo para analisar os
projetos que ficarem parados.
Nesse cenário, seria preciso convocar extraordinariamente a Casa
em janeiro, aumentando o desgaste dos parlamentares.
Carona presidencial
No embalo da popularidade do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com as benesses da máquina
federal, 21 deputados e uma senadora do PT querem disputar as
eleições de outubro. Desses, 16 já
tiveram seus nomes homologados oficialmente pelo partido e
outros seis ainda precisam disputar as prévias para confirmar suas
candidaturas.
Outros partidos da base aliada
também lançarão muitos deputados às prefeituras, como o PTB
(18), o PMDB (16) e o PSB (11).
Já a oposição, sem a máquina federal utilizada a seu favor nas últimas eleições, se limita aos 13 pré-candidatos tucanos e aos nove do
PFL. O neo-oposicionista PDT,
que proibiu alianças e coligações
com o partido de governo, o PT,
terá até oito candidatos.
O excesso de candidatos da base
aliada preocupa o presidente nacional do PT, José Genoino, que
vem se reunindo com os presidentes dos partidos em busca de
alianças no maior número possível de municípios.
Na semana passada, Genoino
esteve com o presidente do PSB,
Miguel Arraes (PE). Firmaram
um pacto de não-agressão entre
os candidatos dos dois partidos e
ao governo Lula.
Mas a carta de intenções esbarra
em três capitais onde o PSB terá
candidatos de oposição aos prefeitos petistas: Porto Alegre (Beto
Albuquerque), São Paulo (Luiza
Erundina) e Goiânia (Barbosa
Neto). Nas demais cidades, a disputa entre os dois partidos deve
ser "cordial".
Para o líder do PSB na Câmara,
Renato Casagrande (ES), mesmo
onde candidatos de seu partido
disputarem o primeiro turno contra petistas, a orientação é que não
haja ataques mútuos para que
uma aliança no segundo turno
não fique inviabilizada.
Além disso, o governo Lula deverá ser poupado das críticas dos
socialistas, pois o partido participa do primeiro escalão com um
ministro, Eduardo Campos
(Ciência e Tecnologia).
Outra preocupação do PT é
com o PC do B. Genoino tenta
convencer os comunistas a retirarem dois candidatos a prefeito de
capitais: Jandira Feghali (Rio) e
Alice Portugal (Salvador).
Essas candidaturas podem atrapalhar as intenções do PT de viabilizar Jorge Bittar e Nelson Pellegrino, respectivamente.
O argumento petista é de que o
PC do B já ocupa dois ministérios,
Esporte e Coordenação Política, o
que está acima de sua representatividade no Congresso. Além disso, o PT promete não lançar candidatos em Fortaleza e Manaus
para apoiarem os deputados comunistas Inácio Arruda e Vanessa Grazziotin, respectivamente.
Com os demais partidos da base, a situação é mais tranqüila.
Com o PTB, a disputa mais tumultuada deve ser em Santos, envolvendo a petista Telma de Souza e o petebista Vicente Cascione,
vice-líder do governo na Câmara.
Com o PMDB, já foi fechado um
acordo para o apoio a Marta Suplicy, em São Paulo. O PT ainda
busca acordos semelhantes no
Rio e em Curitiba, sempre com
petistas na cabeça da chapa.
Envolvido desde já nas eleições,
Genoino acha normal o Congresso ter um recesso branco em ano
eleitoral. Afirma ter sido assim
mesmo em 92, ano do impeachment do ex-presidente Fernando
Collor. E constata que os parlamentares que se omitem das disputas municipais, mesmo os que
não são candidatos, acabam castigados pelos eleitores.
"A opinião pública tem um sentimento contraditório", afirma o
presidente do PT. "Cobram que o
deputado esteja sempre em Brasília, mas todos aqueles que não
participam da campanha municipal "rodam" na eleição parlamentar seguinte", disse Genoino.
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