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TENSÃO NO CAMPO
Segundo Moraes, novos acampamentos arregimentam "favelados" nas cidades para ocupar terras
Secretário diz que invasões são políticas
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
O secretário da Justiça de São
Paulo, Alexandre de Moraes, afirma que as invasões de terras ocorridas no Estado nos últimos meses têm motivações políticas e que
os novos acampamentos estão inchados com "favelados", vindos
das cidades.
Moraes é o principal articulador
da reforma agrária no Estado. De
acordo com ele, um mapeamento
das invasões feito pela secretaria
mostra que alguns dos sem-terra
são, na verdade, favelados vindos
das cidades.
"É muito mais uma movimentação política do que propriamente para ganhar um lote. As
pessoas sabem que não vão ganhar um lote. Nunca quiseram
um, pois não têm ligação com a
terra. Chegam caminhões com
pessoas de outros Estados, de favelas do Paraná, de Mato Grosso
ou do Paraguai", disse Moraes.
De acordo com informações da
Secretaria de Justiça, até a última
quinta-feira haviam ocorrido 20
invasões de terras no Estado de
São Paulo. Em todo o ano passado, foram 16 invasões.
Para Moraes, o aumento das
ações foi desencadeado pela frustração dos movimentos sociais
com o ritmo dos assentamentos
do governo federal.
"Houve uma expectativa exagerada [em relação à reforma agrária com a eleição do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva]. Ninguém resolve todos os problemas
da reforma agrária com um toque
de mágica", disse Moraes.
Muitas dessas invasões são feitas por um mesmo grupo que migra de propriedade em propriedade à medida que a Justiça vai
concedendo a reintegração de
posse aos fazendeiros.
Desde o dia 1º de junho, um
mesmo grupo de sem-terra invadiu três fazendas -uma depois
da outra- na região de Araçatuba, no noroeste do Estado. Na última quarta-feira, aproximadamente 400 sem-terra desse grupo
acamparam na fazenda Pau D'Alho, em Birigui.
Segundo o secretário de Justiça,
a tendência é que os sem-terra
vindos das cidades abandonem o
campo com as seguidas reintegrações de posse. "A cada reintegração, a maioria dessas pessoas volta para as cidades, pois percebe
que está sendo usada como massa
de manobra", disse o secretário.
Na última terça-feira, Moraes
esteve reunido com líderes dos
sem-terra e dos proprietários rurais em Presidente Prudente, no
Pontal do Paranapanema (extremo oeste do Estado), para apresentar o anteprojeto de lei que regulariza as propriedades rurais da
região com indícios de serem devolutas e com até 500 hectares.
Na ocasião, o presidente da
UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, pediu mais uma vez a realização de um censo para identificar
os sem-terra acampados no Pontal. Segundo o ruralista, o número
seria menor do que o anunciado
pelo governo do Estado.
O Itesp (Fundação Instituto de
Terras do Estado de São Paulo)
tem cadastradas 1.400 famílias no
Pontal. Essas famílias terão prioridade no recebimento de terras.
A meta do governo estadual é assentar todas elas até o final do ano
em terras devolutas que seriam
arrecadadas pelo Estado.
Para Moraes, a reivindicação é
uma medida protelatória para a
solução dos problemas na região.
"O Itesp já tem cadastradas as
famílias e sabe onde estão as terras devolutas no Pontal. Essa é
uma forma de tentar protelar.
Não há necessidade desse censo",
disse Moraes.
Segundo o secretário, apesar do
aumento do número de invasões,
não há clima para conflito. "Não
acredito que haja violência porque é mais uma ação política."
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