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Zeca do PT e o "outro lado"
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
No domingo passado, o ombudsman da Folha fez críticas a
uma reportagem minha que descreve um relatório do Ministério
Público do Mato Grosso do Sul
apontando o suposto envolvimento do governador Zeca do PT
e membros de seu núcleo de poder com quadrilha de policiais.
Publicada há duas semanas, a
reportagem mereceu, antes da coluna, apenas comentários rápidos
na crítica diária do ombudsman,
sem alusão à crítica sobre procedimentos que fez sua coluna dominical, quando usou a reportagem para endossar a tese de que
há um "ciclo pró-Serra" no jornal.
Sem entrar no mérito da tese,
cabe-me aqui defender o procedimento jornalístico utilizado na
confecção do texto.
Diz o ombudsman que o "outro
lado" da reportagem foi "pro forma, ligeiro e adjetivado" e que o
governador deveria ter recebido
mais tempo para responder.
Zeca do PT teve tempo de sobra
para responder. No início da tarde da quinta-feira anterior ao domingo em que a matéria foi publicada, comecei a ligar para as pessoas citadas no relatório. O primeiro foi o governador, por meio
do superintendente de Comunicação, Bosco Martins, a quem expliquei o teor do relatório e solicitei entrevista. O dia passou, e não
houve resposta.
Na sexta, após diversos contatos
telefônicos, Bosco Martins resolveu pedir as perguntas por escrito
com o compromisso explícito de
repassá-las ao governador.
Eis a resposta de Martins, gravada, após o recebimento da pergunta: "O governador não vai pôr
peso na sua matéria, quando na
verdade isso aqui é uma ilação. Só
tem bobagem nisso aqui (...). Isso
aqui é uma coisa muito doida para a gente entrar de gaiato e referendar. A Folha, no código dela,
diz: você tem de ouvir os dois lados. Cadê o outro lado? E o governador, botando peso na tua matéria, está respondendo a quatro
promotores que estão fazendo
terrorismo político para tentar
derrubar o governador".
Já que Bosco Martins dizia estar
falando em nome do governador,
há duas conclusões. Primeiro, Zeca do PT não quis falar após ter as
perguntas em mãos. Segundo, sua
estratégia foi tentar "esvaziar" a
reportagem e, depois, posar de vítima de "terrorismo político"
-tomando medidas judiciais
contra a Folha e os promotores.
Discordo ainda da afirmação de
que a carta de Zeca do PT, publicada dois dias depois da reportagem, tenha sido "extensa e detalhada". Extensa foi, mas ele escolheu o que quis responder em vez
de aceitar ser questionado, esfriando e moldando o "outro lado". Vários pontos do relatório
não foram nem sequer abordados
na carta.
Para finalizar, vale citar contraponto de outra autoridade citada
no relatório, o ex-secretário de Segurança Pública Franklin Masruha. Avisado por assessor quando
estava em sua fazenda, ele se deslocou até o topo de um morro para telefonar ao repórter. Sua versão foi publicada integralmente.
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