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JANIO DE FREITAS
Mudança de direção
O silêncio quase total sobre
a propriedade de uma empresa não declarada por José
Serra, que a Folha publicou ontem, resultou de uma operação
desfechada na sexta-feira sobre
outras redações detentoras da
informações semelhantes. O
bem sucedido propósito de obter
proteção global para o candidato governista completou-se com
a inflexão crítica, estimulada
por comentário de Fernando
Henrique Cardoso, dada ao encontro de Luiz Inácio Lula da
Silva com militares (reformados) e civis da Fundação de Altos Estudos Estratégicos.
A significação imediata da
descoberta não está propriamente na omissão às declarações de bens de José Serra à Justiça Eleitoral, nas suas candidaturas ao Senado em 1994, à prefeitura paulistana em 1996 e
agora à Presidência. A importância que a omissão tenha, ou
não, depende de certos fatores
ainda não conhecidos, como a
real atividade e o faturamento
da empresa, por exemplo.
Mas a constatação da propriedade oferece à disputa eleitoral
a prova de ligação maior do que
a admitida por José Serra com
seu parente afim Gregório Marin Preciado. A empresa de Serra foi instalada em prédio de
uma das empresas de Marin favorecidas por Ricardo Sérgio de
Oliveira, então diretor do Banco
do Brasil e arrecadador de fundos para as campanhas de José
Serra e de Fernando Henrique
Cardoso.
Enquanto dizia querer apenas
o debate de idéias, José Serra
lançou a disputa eleitoral no
que alguns têm chamado de
"desconstrução" do adversário,
à qual é atribuída a queda de
Ciro Gomes, com a consequente
subida do próprio Serra. A propósito, a passagem de Serra pelo
Rio, na sexta-feira, antecipou de
um dia o vendaval previsto pela
meteorologia para sábado: foram rajadas de ataque para todos os lados. Exceto para os militares, elogiados pela "capacidade científica e tecnológica" e
agraciados com a promessa de
incremento da indústria de material bélico para uso interno e
para venda pelo mundo afora.
A empresa de José Serra
ameaça aumentar o grau de
"desconstrução" na campanha
eleitoral. Agora, sob nova direção.
Pressão
Os serviços de informação,
mesmo que não sejam os oficiais, estão ativos.
Fernando Henrique Cardoso
valeu-se pessoalmente do telefone, na quarta-feira, para obter
que determinada reportagem
não fosse publicada. Isso, enquanto a reportagem ainda estava no estágio de apurar e avaliar dados relativos a uma transação imobiliária de José Serra.
Haveria modos bem menos
comprometedores de usar a Presidência da República na campanha eleitoral. Ainda mais por
parte de quem tanto fala na lisura das atuais eleições.
Permuta
Há sinais de negociações para
uma novidade na composição
do Supremo Tribunal Federal.
Um ministro que cairia na aposentadoria compulsória durante o mandato do próximo presidente pediria, agora, seu afastamento. Como compensação, receberia uma embaixada, de preferência em país de idioma português.
Aberta a vaga, seria nomeado
um reforço para a bancada do
governo no STF -o nome mais
falado é o do procurador-geral
Geraldo Brindeiro. Com isso, ficaria impossibilitada a nomeação, pelo futuro presidente, de
alguém que fizesse apreciação
apenas jurídica de ações judiciais que podem chegar ao tribunal contra Fernando Henrique.
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