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ESPÍRITO SANTO
Segundo conversas gravadas pela missão especial, esquema visaria aprovar privatização do banco estadual
Escuta revela suposta compra de votos na Assembléia
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA
Escutas telefônicas feitas pela
missão especial de combate ao
crime organizado do Espírito
Santo revelam suposto esquema
de compra de votos na Assembléia Legislativa para aprovar a
privatização do Banestes (Banco
do Estado do Espírito Santo).
Foram gravados diálogos atribuídos ao empresário Carlos Guilherme Lima, considerado pelo
Ministério Público um dos principais suportes financeiros do crime organizado no Estado, o secretário de Transportes e Obras
Públicas, Jorge Hélio Leal, e quatro parlamentares. Outros dois
deputados ainda são citados como parte das negociações.
Lima, que é ex-diretor do Banestes, foi preso na semana passada preventivamente, sob as acusações de corrupção, desvio de recursos federais, lavagem de dinheiro, fraudes em licitação, ocultação de bens, formação de quadrilha e prática de agiotagem.
A principal acusação contra ele
é a de obtenção de financiamento
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), de modo fraudulento, no
banco Santos Neves, e aplicação
irregular desses recursos. De
acordo com o Ministério Público,
ele seria um dos responsáveis pela
quebra do Santos Neves.
No pedido de prisão preventiva
contra o empresário, os procuradores da República afirmam que
relatório de monitoramento
"constata a ligação do denunciado com pessoas do mais alto escalão do Estado envolvidas na privatização do Banestes, articulando ora com o Executivo, ora com
uma provável rede de corrupção
no Legislativo, com a finalidade
de moldar eventual texto de lei".
Cheques
Em um dos trechos transcritos,
o secretário de Transportes pergunta a Lima como foi a conversa
com o deputado. "Ele queria 16
cheques e ninguém vai dar cheque a uma altura dessas da vida",
afirma o empresário.
Entre os deputados que tiveram
supostas conversas gravadas pela
missão especial estão o presidente
da Assembléia, José Carlos Gratz
(PFL), Luiz Pereira (PFL), Robson
Neves (PFL) e Gumercindo Vinand (PGT).
Ainda são citados nas gravações
como parte do suposto esquema
Paulo Loureiro (PFL) e Mateus
Vasconcelos (PRTB).
Em outro trecho transcrito, o
empresário diria a Leal que falou
com o presidente (José Carlos
Gratz) "e os dois estão dando golpe, porque eles já sabem que o negócio de Jorge Hélio (Leal) e o negócio do Banestes serão aprovados hoje".
O governo do Estado tenta, sem
sucesso, avançar no processo de
privatização do Banestes desde o
início do ano.
Em janeiro, a Assembléia aprovou pedido do Executivo de alteração da constituição estadual,
permitindo a venda do banco.
Mas, em agosto, a Casa aprovou
proposta de emenda constitucional, em primeiro turno, de autoria
do deputado Robson Neves
(PFL), barrando o leilão do banco. Para virar lei, a emenda precisava ser aprovada em segundo
turno, mas não foi votada.
Mudança de posição
O presidente da Assembléia,
que em agosto era contra a privatização, tornou-se a favor. Em outubro, Gratz acompanhou o governador do Estado na apresentação do banco a interessados, na
Bolsa de Valores de São Paulo.
A Assembléia também aprovou,
em outubro, revogação da lei de
desestatização, do governo ante"rior, e alterou a lei que regulamentava a venda de ações do Banestes, facilitando a privatização.
O Ministério Público Federal
determinou, na sexta, a suspensão do leilão de privatização do
Banestes e o afastamento da atual
diretoria do banco. A venda estava paralisada devido a ação judicial. A Polícia Federal cercou o
prédio do Banestes para impedir a
retirada de documentos.
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