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JANIO DE FREITAS
Lento apressadinho
Os críticos "neobobos" de
ontem seriam os críticos
"apressadinhos" de hoje, não fossem as tantas defecções de neobobos arrependidos e convertidos
em nostálgicos petistas-tucanos.
Mas, na perturbação de conceitos
que se invertem no governo,
"apressadinhos" não tem o desejo
de insulto, presente no neobobos,
e tem a utilidade de expressar o
quanto o governo está confuso
consigo mesmo.
Em um mesmo dia da semana,
Luiz Inácio Lula da Silva discursou para empregados e, depois,
para empregadores. Aos primeiros, mais uma vez disse que não
tem pressa, não fará reformas "de
modo atabalhoado". Aos segundos, disse que antecipará a remessa, para votação no Congresso,
dos projetos de reforma: o da Previdência vai "antes de maio" e,
"muito antes de junho", o de reforma tributária. Quem é apressadinho?
"Antes de maio" significa que
em uns 30 dias úteis, no máximo,
o governo dirá ao Congresso a reforma da Previdência que deseja.
Digamos que tal disposição é uma
barbaridade, para não dizer que é
uma leviandade. A ser feita de
maneira séria, uma reforma previdenciária é tarefa muito complexa. Além disso, são dezenas de
milhões de pessoas alcançadas pelas mudanças -cerca de 80 milhões, se envolvidos também, como conviria, os que têm ocupação
informal. Ainda não há segurança, porém, nem sequer sobre os
números reais da seguridade e o
que significam, tantas são as contestações oferecidas por entidades
e especialistas respeitáveis aos dados e argumentos convencionais.
E, se não cometo inconveniência, onde fica, no apressado prazo
do presidente Lula, a tão prometida discussão ampla, em âmbito
nacional, com participação irrestrita, para produzir uma reforma
justa contra as aposentadorias
sempre chamadas, pelo candidato
Lula, de indecentes e humilhantes? Há dois meses, a cada semana
o governo alterna a decisão de votar ou não votar o projeto do governo passado sobre a Previdência de servidores públicos. Diante
disso, não precisaria emitir outra
demonstração de que até agora, a
30 dias úteis do limite inventado
para apresentar o seu projeto geral, continua esvoaçando, aéreo e
desorientado, em torno da reforma.
E será preciso acreditar que, em
reforma de Previdência, o único a
fazer é alinhar todos por baixo,
sem ao menos uma ideiazinha
nova, original, para a elaboração
do sistema? Só para dar um exemplo: ainda não encontrei no palavrório e no papelório governamental, apesar da insistência,
nem indícios do estudo de uma
fórmula que combinasse aumento
escalonado das contribuições dos
salários médios e altos, hoje mais
do que ridículas, com outras medidas. É claro: o governo não quer
onerar a contribuição proporcional feita pelas empresas. Mas, para aumentar o desconto nos salários melhores, não precisaria mudar, necessariamente, a parte paga pelas empresas.
Tudo isso sugere que o governo
satisfaz-se, na Previdência, com
uma reforma tucano-pefelista, no
gênero neoliberal cobrado pelo
FMI: o que importa é o resultado
das contas, não a maneira de obtê-lo e nem o seu custo para o povo em geral.
O pouco que se ouviu sobre a
também apressada reforma tributária vai no caminho da outra: arrumar o resultado das contas, sem
considerar que o sentido de uma
reforma tributária é organizar a
economia, pela regulação criteriosa das relações entre sociedade,
suas atividades econômicas e os
governos federal, estadual e municipal.
Mas, como informou o ministro
Antonio Palocci aos prefeitos reunidos em Brasília, "o presidente
não está nos dando muito tempo
para o debate, não, ele quer enviar a proposta de reforma tributária com rapidez ao Congresso".
Enquanto Lula, tendo pedido paciência aos prefeitos, perguntava
aos empregados da Mercedes:
"Por que vou fazer as coisas com
pressa?"
Parece que ninguém teve ocasião de responder que quem passou quase um ano prometendo
criar 10 milhões de empregos em 4
anos, ou explorava aflições
alheias, ou, no governo, não quereria perder nem um minuto.
A oportunidade não deverá
ocorrer também na reunião, neste
fim de semana, do Diretório Nacional do PT, que tem, entre questões burocráticas, o propósito de
aprovar (democraticamente, vê-se) uma resolução de aplauso ao
governo e sua política econômica
aplaudida, mais uma vez nessa
semana, pelo FMI.
Outra resposta foi dada, porém.
Apareceu na pesquisa CNT/Sensus: em apenas mês e meio, caiu
mais de 10% o número dos que
confiam em que o governo Lula
será bom.
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