São Paulo, domingo, 16 de março de 2003 |
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DESGASTE PETISTA Com apenas 30% das principais vagas da administração preenchidas, presidente enfrenta crise gerencial no Fome Zero e apela à paciência para reagir à frustração Governo loteia cargos, patina na inexperiência e desgasta Lula
Com 75 dias, o governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva conseguiu preencher apenas 30% dos cerca de
800 cargos do primeiro e segundo escalões. A dificuldade para lotear em torno de 5.000 cargos federais nos Estados entre petistas e afilhados de aliados políticos é uma
das causas e um dos sintomas do emperramento da máquina administrativa no início do governo. Semelhante
à partilha de cargos vista no governo José Sarney (1985-1990), quando o PMDB detinha a maioria das indicações, a montagem em curso do aparelho estatal mescla
prática fisiológica e predomínio do PT -a quem estão
reservadas 60% das nomeações. Vendo refletidos nas
pesquisas de opinião os primeiros sinais de desgaste do
exercício do poder, o governo argumenta que sabia pouco a respeito do transatlântico que assumiu em janeiro.
Enquanto diz que está sendo obrigado a trocar o pneu
com o carro andando e insiste na promessa de que fará
mudanças sem rupturas, o governo se vê acuado pela
acusação de que promove o continuísmo na área econômica e tem de enfrentar crises gerenciais. A principal delas, em torno do programa Fome Zero, levou Lula a agir
para desarmar as pressões que se avolumaram pela demissão do ministro José Graziano, da Segurança Alimentar. Mais distante do contato direto com o público,
Lula deixou de lado o tom efusivo das primeiras semanas no poder e passou a insistir na necessidade de se ter
paciência a fim de contornar expectativas frustradas.
Após retornar de uma visita a uma porta de fábrica no
ABC paulista, na última segunda-feira, o presidente desabafou a um auxiliar: "Se todo dia fosse como hoje, seria ótimo ser presidente". |
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