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DESGASTE PETISTA
Em reunião do Diretório Nacional do partido, presidente diz que, se a taxa de juros cair, até sua "bursite melhora"
Governo está mal na área social, admite Lula
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em reunião do Diretório Nacional do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem
que seu governo vai mal na área
social e sinalizou com a possibilidade de redução da taxa de juros
básica da economia.
"O [ministro Antonio] Palocci,
que é médico, sabe que, se reduzir
a taxa de juros em 0,5 ponto, até
minha bursite melhora", afirmou
Lula em pronunciamento aos 82
membros do diretório, segundo
apurou a Folha. Nas duas reuniões do Copom (Conselho de
Política Monetária) sob o governo
Lula, os juros aumentaram 0,5 e 1
ponto, como resposta ao temor de
aumento da inflação.
O presidente, que passou a semana sendo pressionado a mudar
o comando do programa Fome
Zero, avaliou a atuação do governo no setor: "Estamos mal naquilo em que pensávamos ser melhores, que é área social", declarou.
Na reunião, fechada aos jornalistas, Lula disse que uma das críticas que mais o incomodaram
nestes 74 dias de governo foram
as que diziam que seus atos repetem os do seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Lula fez um apelo aos integrantes do partido, em especial aos
chamados integrantes das alas radicais: "O PT precisa ser 100% governo". A declaração foi feita momentos antes da votação de três
resoluções partidárias sobre a
condução da política econômica.
Derrota da esquerda
A resolução do chamado campo
majoritário petista foi aprovada
por 54 de 77 votos (5 abstenções).
O texto defende as ações de Palocci e classifica de "retrocesso" sugestões como o controle de preços
para reduzir a inflação.
As duas teses da ala radical, uma
primeira defendida pelo deputado federal Babá (PA) e outra pela
senadora Heloísa Helena (AL) e
pelo ex-prefeito de Porto Alegre
Raul Pont, foram rejeitadas -obtiveram 13 e 8 votos, respectivamente. Ambas criticavam a atual
política econômica, classificada
de "neoliberal".
A esquerda petista conseguiu,
porém, aprovar a realização de
dois seminários para discutir a reforma da Previdência e a retomada do crescimento econômico. As
datas dos eventos serão decididas
pela Executiva do partido.
Palocci justificou aos integrantes do diretório as medidas tomadas pela equipe econômica, repetindo que são conservadoras, mas
necessárias para que futuramente
o governo possa estimular o crescimento e a geração de empregos.
Disse que são medidas de transição e se comprometeu a "mudar o
modelo econômico" herdado da
gestão tucana.
Lula afirmou que pretende participar, sempre que possível, das
reuniões do Diretório Nacional
do PT, da qual é membro. Afirmou que o PT não pode ser uma
correia de transmissão do governo, não pode ser um anexo do Palácio do Planalto, mas precisa
apoiar sua administração.
A proposição de apoio ao governo aprovada ontem pode ser
usada contra parlamentares do
partido que votarem contra propostas do Planalto.
Formalmente, a proposição não
fala em punição a nenhum integrante das chamadas alas radicais
petistas que decida não seguir a
orientação do governo. Mas, como o texto corrobora as diretrizes
econômicas adotadas e defende
as reformas que o governo pretende levar à votação no Congresso, pode ser usado contra parlamentares que votarem em desacordo com as idéias ali expressas.
"Não podemos aprovar uma resolução partindo do princípio de
que não será cumprida. Mas, uma
vez aprovada pelo Diretório Nacional, a bancada tem de seguir as
suas determinações", afirmou o
presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP).
O presidente do PT, José Genoino, abriu às 10h34 a reunião do diretório, que contou com a participação na mesa diretora de Lula,
Palocci e dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).
Genoino iniciou seu discurso,
condenando a possibilidade de
um ataque comandado pelos
EUA ao Iraque. "Reafirmamos a
posição do governo Lula em defesa da paz e contra a guerra."
Em seguida, fez um apelo de
coesão aos integrantes do diretório, em especial às alas radicais.
"Nossa tarefa primordial é o sucesso do governo Lula, como foi
no ano passado sua eleição. Somos um time. Temos de ter pluralidade, mas também coesão."
Dirceu fez um relato da composição da base de apoio do governo
Lula no Congresso, defendendo
que seja ampla e inclua representantes do maior número possível
de partidos.
Colaboraram RUBENS VALENTE e RAFAEL CARIELLO, da Reportagem Local
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