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Dificuldades na economia e lentidão nas reformas incomodam presidente
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Se todo dia fosse como hoje, seria ótimo ser presidente", disse
Luiz Inácio Lula da Silva a um auxiliar, quando retornava a Brasília
na última segunda-feira, após
eventos em São Paulo, onde visitou uma porta de fábrica no ABC
e deu palestra a empresários.
O desabafo de Lula revela seu
desconforto com o excesso de atividades de gabinete e com a morosidade para que as promessas
de campanha virem políticas públicas. A pressão da cadeira presidencial é maior do que ele imaginava encontrar, disseram à Folha
amigos, parlamentares e auxiliares que andaram conversando
nos últimos dias com um presidente um pouco mais impaciente,
mas ainda bem-humorado.
Nas palavras de um auxiliar, Lula gosta do exercício do poder, o
que facilitaria a compreensão e o
enfrentamento dos problemas:
"Ele gostou de ser presidente. Isso
facilita. Quando a pessoa não gosta, fica difícil. Mas quando gosta,
fica mais fácil. Além disso, o Lula
é pró-ativo. Não fica vendo os
problemas surgirem e deixando
que cresçam".
O grande obstáculo é que Lula
está ciente de que o bordão "vontade política", tão repetido nos
tempos de oposicionista, não bastará para tirar do papel o crescimento econômico e novas políticas sociais. Na quinta-feira, teve
de lidar com uma crise no programa Fome Zero, num dia de rumores sobre a permanência no cargo
do ministro da Segurança Alimentar, José Graziano.
Em vez de rifar ou fritar o ministro, como desejam parte do PT e
adversários de Graziano, Lula o
chamou para uma conversa no
início da noite, junto com outros
dois participantes do Fome Zero,
os assessores especiais Frei Betto e
Oded Grajew. Reclamou que falavam demais e que deveriam ser
mais discretos, mas reiterou
apoio a Graziano e discutiu com
os três medidas que serão anunciadas na próxima semana para
tentar tirar seu principal programa social do noticiário negativo.
Insatisfação
Segundo um ministro, Lula
constatou o óbvio: o PT gasta
tempo para aprender a ser governo e para dominar a máquina pública. Isso explica a diferença de
desempenho na grande política,
na qual o governo avalia que vai
bem, e na rotina administrativa,
na qual admite patinar.
Declarações recentes de Lula
desnudaram a insatisfação com a
própria gestão. Na terça-feira, para uma platéia de 2.000 prefeitos,
discursou: "Eu quero que vocês
compreendam, porque são políticos e também tiveram o primeiro
ano de mandato e sabem como é
que encontraram a máquina pública deste país, que é humanamente impossível fazer as coisas
com a pressa que a gente gostaria
que acontecesse".
No mesmo evento, depois de repetir que não jogaria a culpa pelas
dificuldades que encontrou no
antecessor, Fernando Henrique
Cardoso, Lula alfinetou várias vezes o ex-presidente. Reclamou do
Orçamento que recebeu para
2003 e disse que, ao deixar a Presidência, não iria "morar na Lua".
FHC voltou recentemente de uma
temporada em Paris.
Aliás, viajar pelo Brasil será um
dos remédios de Lula para enfrentar o excesso de reuniões e atividades em gabinetes fechados. Assim que chegou de São Paulo, pediu a Gilberto Carvalho, seu chefe
de gabinete e espécie de ministro
sem pasta, por ser conselheiro político e pessoal, que abrisse mais
espaço em sua agenda para viagens. Imediatamente, foi confirmada a participação do presidente na abertura da Bienal do Livro
do Rio de Janeiro, marcada para
meados de maio.
Corações e mentes
As dificuldades na economia,
que levaram parte do PT e dos
aliados a questionar a atuação do
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, aborrecem Lula. Mas
ele acha que não há alternativa no
curto prazo e se dedicou a encontros com petistas para ganhar corações e mentes.
Com fama de chorão, Lula chegou a se emocionar quando discutia com um amigo os obstáculos para cumprir a promessa de
mudança social e econômica.
"Até a barba ficou mais branca. E
o rosto mais marcado nesses dois
meses", notou uma antiga amiga
do PT que esteve com ele.
Na terça-feira, numa reunião
reservada com prefeitos do PT,
entre eles Marcelo Déda (Aracaju), fez questão de repetir que não
pensa em alternativa à política
econômica de Palocci. E falou duro: "Não existe Plano B. Vocês
acham que eu ia colocar um ministro da Fazenda para ser derrubado? Se Palocci cair, caio junto".
Neste final de semana, na reunião do Diretório Nacional do PT
em São Paulo, Lula tomou como
prioridade a defesa de Palocci.
Não foi à toa que, depois de saber
de um comentário elogioso sobre
ele, Palocci repassou o crédito.
O ministro da Fazenda soube
que o senador Jorge Bornhausen,
presidente do PFL, dissera o seguinte: "Palocci é um oásis num
deserto". De pronto, Palocci afirmou: "O oásis é Lula".
Coincidência ou não, Lula já começa a descolar sua imagem da
do governo, exatamente o processo que aconteceu com FHC. O
presidente é mais bem avaliado
que sua administração, mostrou
pesquisa Sensus nesta semana.
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