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IMAGEM EXTERNA
Vizinhos vêem Lula como estadista que promete mais do que pode
Argentinos admiram a severidade de Lula com EUA
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O episódio envolvendo o jornalista do "New York Times" parece
não ter afetado a boa imagem do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Argentina. No parceiro do
Mercoul, Lula é visto como um
estadista que valoriza as relações
com os vizinhos, é duro com os
Estados Unidos, respeita contratos -qualidade muito enaltecida
por argentinos-, mas que promete aos brasileiros mais do que
pode cumprir.
A Folha ouviu acadêmicos, economistas, jornalistas, empresários e governo na Argentina ao
longo da semana para saber o que
pensam de Lula. O quadro pintado por formadores de opinião argentinos a respeito de Lula não difere muito do que se fala do presidente no Brasil. Lula é, sobretudo,
admirado por ter superado a pobreza e o preconceito e chegado
ao topo do poder, mas está em débito com as próprias promessas.
Apesar da reação de expulsar do
Brasil o jornalista Larry Rohter,
Lula não é visto como autoritário.
"Mais que uma ação autoritária, a
atitude foi vista como um tropeço", avalia Ignácio Labaqui, especialista em América Latina da
Universidade Católica Argentina.
"Lula geralmente é mais comparado com um estadista como o
presidente Ricardo Lagos (do
Chile), apesar de ser esquerda.
Mas, dessa vez, ficou mais parecido com o presidente Hugo Chávez (da Venezuela) por causa da
intolerância", disse.
No governo argentino, episódios como mandar fotografar os
americanos, em resposta ao tratamento oferecido aos brasileiros
nos aeroportos dos EUA, foram
elogiados por diplomatas.
Segundo uma fonte do governo,
o presidente é visto como aliado
político "menos arrogante no trato com a Argentina em se tratando de um presidente brasileiro,
que joga duro com os americanos". Jornalistas vêem o presidente com simpatia e não o identificam como populista, mas acreditam que ele promete demais. Outra qualidade citada é a sua "simplicidade" e "independência com
relação a Washington".
"O que se sabe de Lula é que ele
é um homem que veio de baixo e a
quem o presidente Néstor Kirchner dá muita importância por
causa da aliança estratégica. Aqui
na Argentina Lula é visto como
um líder popular", afirma Jorge
Elias, colunista de Assuntos Internacionais do jornal "La Nación".
Segundo o presidente do Instituto de Planejamento Estratégico,
Jorge Castro, Lula contou com
"um enorme prestígio político"
na Argentina e no mundo, mas
agora vive o desgaste do exercício
do poder. "Ele teve a coragem de
enfrentar as críticas da esquerda e
manteve o programa econômico
para evitar o "default" [não pagamento] da dívida pública. Lula
tem visão de estadista", disse.
Segundo Castro, os empresários
na Argentina o elogiam por respeitar os contratos, mas os acadêmicos de esquerda dizem que o
presidente brasileiro deixou a
ideologia em segundo plano.
O diretor de Ciências Políticas e
Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, Juan
Gabriel Tokathin, disse que na
Argentina "há uma forte torcida
para que Lula vá bem". Ele acha,
porém, que nos últimos meses
tem havido uma percepção de
que Lula não tem aprofundado a
dimensão social de seu projeto.
"Lula chegou ao poder com
muita credibilidade, mas não está
cumprindo o suficiente do que
prometeu, enquanto [Néstor]
Kirchner chegou com baixo perfil
e tem respondido mais às demandas sociais", disse.
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