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Novamente, mercado tem certeza de que condução da economia mudará e teme o desconhecido
Como em 98, eleição evidencia política econômica frágil
GUSTAVO PATÚ
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO
Nas eleições de 98, o mercado
sabia que a política econômica de
então, voltada para segurar o dólar em torno de R$ 1,20, era insustentável tecnicamente. Acreditava, porém, que o único candidato
a defendê-la -o presidente Fernando Henrique Cardoso- era o
mais indicado a alterá-la.
Agora, o mercado sabe que a
atual condução da economia, voltada para o controle dos gastos
públicos, embora mais realista, é
insustentável politicamente -todos os candidatos, inclusive o do
governo, se propõem a alterá-la
para retomar o crescimento.
Diferenças à parte, existem nos
dois casos a certeza de que a política econômica mudará e o consequente medo do desconhecido,
com o agravante, para o mercado,
de que desta vez a oposição lidera
as pesquisas de intenção de voto.
E a crise das últimas semanas
deixou claro que, como em 98, os
presidenciáveis prometerão manter a estabilidade da moeda e
avançar em conquistas sociais,
mas o eleito correrá o risco de gastar a maior parte do mandato apenas tentando desfazer uma armadilha chamada dívida pública.
Há quatro anos, a dívida de
União, Estados e municípios caminhava para fechar o primeiro
mandato de FHC em R$ 390 bilhões, num ritmo explosivo de
crescimento -eram R$ 150 bilhões no início do governo.
Foi uma consequência direta do
Plano Real, cuja estratégia se baseava em manter o dólar barato,
graças a juros cada vez mais altos
para seduzir credores e investidores estrangeiros.
A equipe econômica subestimou os custos dessa estratégia,
acreditando que o bom desempenho da economia mundial, puxada pelos EUA, e o programa de
privatizações bastariam para
manter o fluxo de capital externo.
Para piorar a situação, o controle de gastos não estava entre as
prioridades políticas do governo,
que praticamente não economizava nada da arrecadação de impostos para pagar juros.
Em 98, estava criado um cenário
de tragédia: a moratória da Rússia
assustou os investidores, o Brasil
deixou de receber capital externo,
os juros passaram de 40% ao ano
e tornaram ainda maior a desconfiança em relação à capacidade do
governo de pagá-los.
Mudança radical
No segundo mandato de FHC, o
nó não chegou a ser desatado
-foi apenas afrouxado, a partir
de uma guinada radical da política econômica e de um megapacote de apoio internacional negociado com o FMI.
O real foi desvalorizado, e o dólar passou a flutuar livremente; a
balança comercial, favorecida pelo novo câmbio, passou de deficitária a superavitária, reduzindo a
dependência em relação ao capital externo; os juros caíram de patamar; o governo elevou fortemente os impostos e passou a destinar enormes parcelas da receita
ao pagamento da dívida.
O acordo com o FMI, bancado
pela administração norte-americana de Bill Clinton, contribuiu
para que o país mantivesse dólares em suas reservas e evitasse um
descrédito internacional como o
vivido hoje pela Argentina.
FHC conseguiu promover o que
provavelmente foi a desvalorização de moeda mais bem-sucedida
dos anos recentes, sem disparada
da inflação nem recessão aguda,
mas ao preço de sacrificar sua popularidade e a capacidade de iniciativa política do governo.
E também ao preço, agora bem
mais visível, de uma nova escalada da dívida pública: como boa
parte dela é em dólar ou corrigida
pelo dólar, a queda do real acabou
por arrastá-la à casa dos R$ 700
bilhões de hoje.
Paralisia
Mesmo que a dívida ainda seja
administrável, como sustentam o
governo e até o PT, todos preocupados em não assustar os credores, o fato é que ela inviabilizou a
política econômica anterior e paralisou a atual.
No segundo mandato de FHC,
só houve crescimento satisfatório
em 2000, quando a economia
americana ia bem e não houve
crises em países emergentes.
O governo destina cada vez
mais dinheiro ao pagamento de
juros, mas mesmo os quase R$ 49
bilhões previstos para este ano
são insuficientes para a despesa;
numa conta grosseira, taxas ainda
muito altas como as atuais, de
18,5%, aplicadas a uma dívida de
R$ 700 bilhões, resultam em quase R$ 130 bilhões ao ano.
Não por acaso, a prioridade de
todos os presidenciáveis é a redução dos juros. O que não está claro
é como e em quanto tempo isso
poderá ser feito -e sem sacrificar
outra promessa, a de preservar a
estabilidade da moeda.
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