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Crise econômica não "contamina" convenção
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O risco-país que não pára de subir, o dólar que nem o pacote calmante conseguiu amansar, a discussão cada vez mais aberta sobre
eventual reestruturação da dívida
interna -nada disso conseguiu
penetrar no ginásio Nilson Nelson, em Brasília, no qual o PSDB
fez a convenção destinada a entronizar o senador José Serra como candidato presidencial.
Ou por dever de ofício ou por
real convicção ou talvez por autismo, os caciques tucanos davam a
crise e o nervosismo dos mercados como fatores menores.
Parecia até que suas falas combinavam com a primeira banda a
se apresentar na convenção do
partido, adequadamente chamada "Falamansa".
A única voz realista pertencia a
Milton Seligman, coordenador
operacional da campanha: "A crise não é cabo eleitoral, mas também não é ameaça".
Decodificando: há, em setores
importantes da campanha tucana, a idéia de que o agravamento
da crise beneficia Serra, no pressuposto de que o eleitorado verá
nele a experiência e a competência, supostamente inexistentes
nos demais, para enfrentá-la.
A frase de Seligman mostra que
ou essa idéia é apenas propaganda eleitoral para uso externo ou é
uma leitura eventualmente equivocada da realidade.
Seligman, como os demais, no
entanto, vende o otimismo inevitável de qualquer comandante de
campanha, de qualquer campanha: diz que, embora a crise não
funcione como "cabo eleitoral", a
mensagem do partido deve ser a
de otimismo, a de apontar um caminho de esperança.
A julgar pela análise de uma observadora relativamente neutra
(não é convencional), a ex-ministra da Administração Cláudia
Costin, o discurso da esperança
tem que ser feito também para
dentro do partido e da campanha,
sob pena de o pessimismo contaminar a todos e vazar para o público externo.
Pimenta da Veiga, o coordenador da campanha, no entanto,
exagera na dosagem do otimismo: "Tenho a impressão de que o
pior já passou", diz.
Engata com o discurso convencional sobre a solidez da economia brasileira, incomparavelmente maior que a dos vizinhos.
A Folha observa que, se a solidez de fato existe, os mercados
não estão percebendo, tanto que
jogaram o país para perto da Nigéria em matéria de risco-país. "A
percepção vai mudar rapidamente, assim que ficar claro que o Serra vai ganhar", rebate Pimenta.
Ele jura que, pelas pesquisas de
que o partido dispõe, a ultrapassagem de Luiz Inácio Lula da Silva
por Serra está na primeira curva
da esquina, palpite temerário
quando se considera que as intenções de voto de Lula duplicam as
de Serra, no último Datafolha.
O também ex-ministro Clóvis
Carvalho é outro que não parece
nada nervoso com o nervosismo
dos mercados. Diz que o governo
tem todos os instrumentos para
enfrentar as dificuldades, além de
experiência em crises anteriores.
Na sua opinião, é um arsenal
poderoso. "Não é excesso de otimismo?", pergunta a Folha. Clóvis Carvalho dá uma resposta no
mais típico linguajar tucano:
"Não é otimismo, é confiança".
Seja otimismo, seja confiança,
pelo menos no sábado, dia aliás
em que não funcionam os mercados, funcionou como uma blindagem e não deixou a crise contaminar a festa.
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