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NA CORDA BAMBA
Jantar em Brasília reuniu ministros que podem deixar Esplanada
"Ameaçados" já articulam para garantir seus cargos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na noite de terça-feira, quatro
ministros se reuniram num restaurante em Brasília e ergueram
um brinde à ministra Benedita da
Silva (Assistência e Promoção Social). Era um gesto de solidariedade, mas não só isso. Ministros
ameaçados de perder os cargos na
reforma ministerial -que somente virá depois das festas de
Ano Novo- se movimentaram
nos últimos dias para tentar permanecer na Esplanada.
Benedita da Silva é, até aqui, um
dos principais alvos da reforma,
destinada não apenas a acomodar
dois ministros do PMDB, mas,
pelo menos teoricamente, a tratar
de dar mais eficiência à equipe de
Luiz Inácio Lula da Silva.
As estratégias variaram. O ministro José Graziano (Segurança
Alimentar) não acredita que possa ser afastado do governo. Ele
aposta na amizade com Lula, com
quem trabalha há 20 anos e troca
idéias pelo menos duas vezes por
semana em Brasília. E está tão certo de que permanecerá na equipe
do presidente que prepara o planejamento estratégico do seu ministério para 2004.
"Estamos caminhando para
construir uma política de segurança alimentar no Brasil, e o presidente só trabalhará para impulsionar isso", diz ele.
Outro candidato a deixar o posto na bolsa de apostas da reforma
ministerial, o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, busca o
apoio até dos empreiteiros. Aos
responsáveis por tocar as obras de
recuperação das rodovias
-maior vidraça do ministério-,
Adauto acenou com a possibilidade de antecipar o pagamento de
R$ 300 milhões da dívida deixada
pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.
A conta pendente é apontada
pela equipe de Adauto como o
principal motivo da derrapagem
inicial do ministro na pasta. Como a primeira parcela só foi quitada em agosto e setembro, as
obras demoraram mais a sair do
papel, estimulando as críticas a
sua gestão.
A amigos, Adauto afirma que
continuará apoiando o governo
se tiver de reassumir em breve a
cadeira de deputado federal. O suplente, Carlos Mota (PL-MG), diz
que, como o ministro, está tranquilo: "Isso poderia acontecer,
mais cedo ou mais tarde".
"Não acha nada"
Se Adauto fala abertamente da
possibilidade de deixar o cargo, a
colega Benedita da Silva evita tratar do assunto.
"A ministra não acha nada, a
gente está trabalhando e muito",
resumiu a assessora de imprensa.
O lugar reservado à agenda de
Benedita no site do ministério
manteve reticências no ar durante
várias semanas, desde que ela voltou da viagem feita à Argentina
para um encontro religioso e com
a conta paga pelo contribuinte.
"Era só um problema técnico",
justificou a assessoria.
No jantar de adesão a R$ 33 por
cabeça na noite de terça-feira, a
ministra disse que continuaria
servindo ao governo Lula, independentemente do cargo que
ocupe. Ela insistiu em que não havia cometido nenhum erro, mas
resolveu devolver o dinheiro da
viagem "por amor ao governo",
que não queria ver desgastado.
Nos demais discursos, os amigos disseram, em palavras diferentes, que a ministra não é apenas uma militante do PT, mas um
símbolo, que o site do ministério
resume assim: "Uma síntese da
exclusão social do país: mulher,
negra e favelada".
O jantar não foi registrado pelo
cinegrafista especialmente contratado para acompanhar as atividades do ministério. Até agora,
nenhuma cena foi levada ao ar.
Cacifes
José Fritsch (Pesca) colhe sinais
de amizade do presidente para
nutrir sua confiança em permanecer na pasta sem perder o status
de ministro. "Conversamos muito nos fins de semana", contou.
A participação de Lula na Conferência Nacional de Pesca, no
próximo dia 25, confia, será um
sinal de prestígio do petista, que
ganhou o cargo depois de ter perdido a disputa pelo governo de
Santa Catarina.
Ele contabiliza visitas a comunidades pesqueiras e vários encontros estaduais entre seus feitos:
"Fizemos tudo sem dinheiro, e o
presidente tem elogiado isso",
afirmou o Fritsch.
Na mesma linha de que trabalhar com pouco dinheiro é um
mérito, o também petista Olívio
Dutra (Cidades) considera bom
seu desempenho num ano em
que a pasta sofreu profundos cortes de verba. Olívio foi o autor da
frase de que administrava um orçamento fictício.
Se, em 2003, o ministério já contou com pouco dinheiro, a previsão de gastos em 2004 é ainda
mais amarga, quando considerados apenas os projetos contidos
no Orçamento da União. Mas a
equipe está otimista.
"O ministério vai marcar o governo quando estiver mais maduro", diz a secretária-executiva, Ermínia Maricato.
"Essa conversa de que o ministério não aparece é história de
quem quer o cargo", completou.
Relevância
Muita relevância é o que a mais
nova do time de ministros, Matilde Ribeiro, vê na secretaria de
Promoção da Igualdade Racial.
Até aqui, seu trabalho resume-se
a duas palavras: debates e viagens.
Nas últimas três semanas, a ministra viajou à África duas vezes.
Na primeira, para explorar o continente antes da visita do presidente Lula. Na segunda, para
acompanhá-lo.
Foi lá que a Matilde combinou
com Emília Fernandes (Políticas
para as Mulheres) o jantar que
homenageou a colega Benedita.
Aconteceu na terça-feira porque,
no dia seguinte, Emília pegou o
avião para Montevidéu.
(MARTA SALOMON, LUCIANA CONSTANTINO, GABRIELA ATHIAS e IURI DANTAS)
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